quinta-feira, 17 de novembro de 2011

TEOLOGIA NEGRA: CONTEXTO E IMPLICAÇÕES


Tendo concluído mais um artigo, desejo partilhar com vcs, que refletem comigo, as riquezas da teologia negra. Seria muito bom se vcs pudessem postar algum comentário. Nás próximas postagens eu colocarei o conteúdo desenvolvido de cada item desse. Uma boa reflexão e Modjumbá axé!
Introdução: Os afroamericanos, na sua origem, foram forçados a migrar da África, devido a escravidão, sendo impedidos de cultivar seus valores culturais e suas práticas religiosas, para terem que assumir outro estilo de vida. Nas Américas, na medida em que os diferentes povos iam chegando, lideranças religiosas e tribais iam se reencontrando, sem que o colonizador o soubesse. Não se mataram, como era previsto, devido a rivalidades entre eles, mas uniram forças. Desta forma puderam reestruturar suas religiões e suas vidas em outras formas de expressão, como por exemplo, os terreiros, os quilombos, a teologia, etc.
1 Contexto no qual surgiu a teologia afroamericana: Um dos fatores que leva ao surgimento é o sofrimento por causa da cor da pele. A experiência de fé acontece, portanto, dentro de uma sociedade marcada pelo racismo, opressão e marginalização com relação aos descendentes de africanos. A partir do concílio Vaticano II, começa-se a surgir uma nova postura eclesial, com relação à população do continente: Primeiro em Medelím, Colômbia, mas é precisamente em Puebla que se fala da realidade dos afrodescendentes: “sofredores nas quais deveríamos reconhecer as feições sofredoras de Cristo: feições de indígenas e, com frequência, também de afro-americanos, que, vivendo segregados e em situações desumanas, podem ser considerados como os mais pobres dentre os pobres” (34). Uma outra menção foi numa nota de rodapé do parágrafo oito quando diz que “o problema dos escravos africanos não mereceu, infelizmente, a devida atenção evangelizadora e libertadora da Igreja” (8). Neste sentido, os avanços foram substancialmente reforçados pela consolidação da Teologia da Libertação e pela experiência das Comunidades Eclesiais de Base, aliadas a uma nova metodologia pastoral, catequética e litúrgica.
2 A importante contribuição da  Teologia da Libertação: Desse jeito, a Teologia da Libertação nasce, tendo como chave de leitura a volta às fontes e a opção pelos pobres, pela libertação dos pobres, dos sofredores. Encara aos oprimidos à luta pela Conscientização, para resgatá-los da opressão. A teologia da Libertação abriu as portas para que muitos movimentos tivessem a chance de se manifestar. Entre eles, afrodescendentes e indígenas. Então, em 1980, surgem os EPA (Encontros de Pastoral Afro-americana). Encontro de países de presença negra.
3 Dimensões da teologia afroamericana: a) A dimensão factual: A população negra no continente é, em sua maioria, pobre. A situação da pobreza em que vive não eliminou sua tradição de luta, resistência, fé e seus valores ético-culturais; b) O sentido de pecado nas comunidades negras: Para os negros na diáspora, o pecado tem nome: escravidão, racismo, discriminação, marginalização, exclusão e preconceito. Pecar é escravizar.  A escravidão é para o afro-americano o pecado original. A escravidão é pecado, porque significa negação do outro através do seu aprisionamento; e negar o outro é negar a imagem de Deus presente no outro; c) O carisma da utopia negra: Para o Povo negro, o carisma tem sentido de graça especial; manifesta-se de forma coletiva, mas também em cada pessoa no modo de se expressar, na dança, no caminhar, nos atos litúrgicos, na maneira de vestir, nas artes e na culinária também. O carisma se manifesta no modo de perdoar. É uma maneira negra de ser.
4 Particularidade norte-americana: desde 1960 se tem produzido algo sobre a Teologia Negra. Já na África, desde o Concílio Vaticano II, refletia-se sobre Teologia negra e culturas. A teologia Negra, com J. H. CONE, a partir de 1970, trabalha o tema da libertação como liberdade de ser em relação a Deus, motivando os afrodescendentes a sobreviverem a todo tipo de opressão e aos horrores da humilhação e da escravidão. Falam de um encontro divino-humano significando morte à vida antiga e a libertação para uma nova forma de existência.
5 A concepção afroamericana de Deus à luz da experiência do Êxodo e do engajamento profético de Jesus de Nazaré: A partir da herança africana, Deus é Supremo e Criador, mas a experiência de cativeiro possibilitou a descoberta de outras imagens como: o Deus comunitário, Deus da história e Deus libertador dos oprimidos.
5.1 Um Deus Libertador: experiência de libertação a partir de Êxodo 3: um Deus que sempre se posicionou contra toda espécie de opressão, de escravidão; um Deus, portanto, libertador do povo oprimido. Neste sentido, o povo negro se identifica com o povo hebreu, que era escravo e foi libertado por Deus” (Ex 3, 7-8).
5.2 Um Deus negro: experiência de libertação a partir do engajamento profético de Jesus de Nazaré: Em Jesus de Nazaré, Deus mesmo é o Oprimido. Ele quis também experimentar na pele a dor, a angústia, e a situação de "menos vida", pela qual passam os oprimidos. Assim, o povo negro faz uma experiência própria de Deus: um Deus que se faz negro, assumindo o seu rosto, sua cor, sua cultura, seu jeito. Cristo é negro não por causa de alguma necessidade cultural ou psicológica do povo negro, mas somente porque Cristo realmente entra em nosso mundo, onde os pobres, os desprezados e os negros estão, revelando que está com eles, sofrendo a humilhação e a dor deles e transformando os escravos oprimidos em servos libertados.
Conclusão: A comunidade negra, a partir de sua rica experiência e de sua capacidade de luta, nos possibilita refletir de um modo diferente a experiência de Deus e a própria teologia. Ela é lugar teológico, pois é reveladora da presença de Deus; um Deus misericordioso, compassivo, comunitário e libertador. Daí a necessidade de uma reflexão teológica que leve em conta a realidade dos caídos à beira do caminho e que esteja atenta aos seus  diversos clamores em nossa sociedade, entre os quais, de forma insistente, estão os de muitos afrodescendentes.

Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé

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