terça-feira, 29 de novembro de 2011

4 A PARTICULARIDADE NORTE-AMERICANA NA REFLEXÃO TEOLÓGICA AFRO

Até agora, a nossa referência foi a América espanhola e a portuguesa, que constitui o Brasil[1], embora haja muitos pontos comuns a toda comunidade negra. Vimos que a data que representa um marco na reflexão sistemática, neste sentido, a nível de América latina, é 1980, com a realização do primeiro EPA – Encontro de Pastoral Latino-americana. No dia 22 de novembro de 1981 acontece a primeira missa, resgatando os valores da cultura negra – ‘Missa dos quilombos’[2].  Neste item, queremos voltar a nossa atenção para a realidade da América do Norte. O ponto de partida comum com os demais países é determinado pelo racismo, pela opressão, marginalização e exclusão da comunidade negra no continente, mas há particularidades que merecem ser observadas com relação ao contexto e práticas do cotidiano. As informações que temos é de que, desde 1960 se tem produzido algo sobre a Teologia Negra. Por exemplo, na África, desde o Concílio Vaticano II, refletia-se sobre Teologia negra e culturas[3]. Nos anos 70, nos Estados Unidos, James Cone mostrou que era legítimo, necessário e oportuno refletir a teologia em chave de negritude e vice-versa[4]. 
A teologia Negra trabalha o tema da libertação como liberdade de ser em relação a Deus, motivando os afrodescendentes a sobreviverem a todo tipo de opressão e aos horrores da humilhação e da escravidão. Muitos são os testemunhos dos que fazem este tipo de experiência. Eles falam de um encontro divino-humano significando morte à vida antiga e a libertação para uma nova forma de existência. Após convertidos, muitos negros crêem que a oração é necessária para que perseverem naquilo que chamam de “a viagem do Senhor”. Por meio da oração, podem comunicar-se com Deus na certeza absoluta de que estão sob seus cuidados em todos os momentos de suas vidas. Por isso muitas orações feitas por negros e negras iniciam com expressões de ação de graças a Deus por ter sustentado o povo na luta: “Querido Senhor”,... comparecemos diante de Ti e Te pedimos que nos defendas. Agradecemos-te por tudo que tens feito por nós”[5]. Ou seja, não importa o que fizeram de nós, importa é o que fazemos do que fizeram de nós; importa cultivar a certeza de que a libertação já aconteceu e de que é compromisso da comunidade negra lutar contra toda e qualquer situação de preconceito e discriminação, resquício do grande mal da escravidão.

Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé


[1] Cf. ASSET. Op. cit., p. 41
[2] A palavra quilombo é de origem africana e aqui no Brasil foi símbolo da resistência, sendo refúgio onde se localizavam os negros e negras que conseguiam fugir do cativeiro. "Em 1981, mais precisamente no dia 22 de novembro, a "Missa dos Quilombos" foi cantada pela primeira vez na celebração eucarística presidida pelos arcebispos Dom José Maria Pires e Dom Hélder Câmara. O ato religioso, em memória do líder Zumbi e da resistência dos negros, foi celebrado no Recife, na Praça do Carmo. A letra da missa foi elaborada por Dom Pedro Casaldáliga e por Pedro Tierra. Milton Nascimento compôs a música e a executou na referida celebração. A missa expressa e sintetiza a memória coletiva do povo em sua caminhada histórica. Além da profundidade do texto da missa, a veemente homilia do Dom José Maria Pires, e a invocação de Dom Hélder Câmara a "Mariama", constituíram os pontos altos da celebração" (SILVA, A. A. In: ATABAQUE-ASETT. Agentes de pastoral negros., p. 17).
[3] Cf. COLOMBIANITO, Op. cit., p. 12. Ele diz ainda: “Atualmente, tanto na África quanto fora dela, não se tem dúvida quanto à legitimidade da Teologia negra. Em cada contexto e região, a Teologia Negra vai receber um nome que expressa a sua especificidade, a sua peculiaridade: “Teologia Negra, nos Estados Unidos”, “Teologia Inculturada”, em algumas regiões africanas; Teologia Negra da Libertação e Teologia em Contexto, em outras regiões da África; Teologia Afro-Americana, na América Latina e no Caribe”.
[4] Cf. Id., Ibid., p. 12.
[5] CONE, J. H. O deus dos oprimidos., p. 157.

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