quarta-feira, 30 de novembro de 2011

5 A CONCEPÇÃO AFRO-AMERICANA DE DEUS

Neste item, mereceria alguns acenos à experiência herdada dos africanos a respeito de Deus[1], mas receio que se tornaria demasiadamente longo. Por isso me detenho apenas na releitura feita pelos afrodescendentes cristãos a partir do que receberam nestas terras latino-americanas. Isto não quer dizer que não se deixaram condicionar, de certa forma, ao que traziam enquanto elementos fundamentais[2]. Aos negros e negras, foi imposta uma imagem de Deus que não correspondia à sua essência. As comunidades negras, no entanto, conseguem fazer uma releitura da mensagem cristã a partir do confronto com a própria Sagrada Escritura e de suas experiências solidárias, sem depender mais da 'casa grande'. A partir daí surgem novas concepções a respeito de Deus, abrindo caminho para uma nova reflexão teológica[3], conforme afirma J. Cone:
O povo negro não forjou vários argumentos filosóficos para provar a existência de Deus, porque o Deus da experiência dos negros não era uma ideia metafísica. Ele era o Deus da história, o libertador dos oprimidos da escravidão. Jesus não era uma abstrata Palavra de Deus, mas a Palavra de Deus feita carne, que veio dar liberdade ao prisioneiro[4].

            Este trecho deixa claro que há um jeito diferente de conceber o mistério do Deus revelado por Jesus e da ação de Jesus mesmo, o que permite uma releitura da caminhada e novas descobertas, numa perspectiva libertadora e escatológica. Enquanto a teologia oficial vai definir “Jesus Cristo como Salvador espiritual, o libertador das pessoas do pecado e da culpa”, fazendo com que o povo negro permanecesse na mesma situação[5], a reflexão teológica na ótica do negro vai considerar Deus como “Libertador na história”[6], Alguém muito presente na caminhada. Esta descoberta não é recente, pois, conforme A. A. Silva: “Desde cedo, os negros perceberam a singularidade de Jesus, a sua mística divino-humana, a sua solidariedade com os pobres, e o seu projeto de libertação-salvação”[7]. Isto vai leva-los a uma releitura de trechos da Sagrada Escritura que muito contribuíram num processo de conscientização-libertação. É o que veremos, então, no próximo artigo. Até lá!
Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé



[1] "As experiências banto e nagô eram exatamente de um Deus supremo criador. Não prestavam cultos em templos ou santuários. Para bantos e nagôs, a natureza é o santuário de Deus, e a terra, o altar da sua oferenda. Possuem uma experiência mística de profunda comunhão com a divindade. Através dos Orixás, Deus se faz presente em cada pessoa. A pessoa faz a experiência de ser carregadora (animal) de Deus. Portanto, Deus não é o inefável grego, mas o Deus presente” (SILVA, A. A. da.  In: SILVA, A. A. da (Org.).  Existe um pensar teológico negro?, p. 53.
[2] “(...) para eles o Deus da vida é um Deus comunitário. Deus chama e salva não somente o indivíduo, mas todo o povo. Neste caso, o papel fundamental continua sendo da família, como base para construção e compreensão comunitária" (SILVA, M. R. da. In: SILVA, A. A. da (Org.).  Existe um pensar teológico negro?  p. 223).
[3] Cf. ROCHA, J. G., p. 83s; Cf. também CONE, J. H. Op. cit., p. 123.
[4] CONE, J. H., Op. cit., p. 66.
[5] "Muitas vezes, pastoralmente, insistiu-se numa figura de Jesus Cristo melancólica, excessivamente doce, que acabava por impingir à Comunidade Negra atitudes de conformação com sua situação de escravidão. Em certos ambientes católicos, dizia-se que os negros refugiados nos quilombos, pelo fato de terem fugido do domínio dos seus senhores, estavam em oposição aos ensinamentos de Jesus Cristo, por isso mesmo impedidos de recebê-lo na Eucaristia" (SILVA, A. A. da. In: SILVA, A. A. da (Org.). Existe um pensar teológico negro?  p. 38).
[6] Id. Ibid., p. 66.
[7] Id., Ibid.,  p. 39.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

4 A PARTICULARIDADE NORTE-AMERICANA NA REFLEXÃO TEOLÓGICA AFRO

Até agora, a nossa referência foi a América espanhola e a portuguesa, que constitui o Brasil[1], embora haja muitos pontos comuns a toda comunidade negra. Vimos que a data que representa um marco na reflexão sistemática, neste sentido, a nível de América latina, é 1980, com a realização do primeiro EPA – Encontro de Pastoral Latino-americana. No dia 22 de novembro de 1981 acontece a primeira missa, resgatando os valores da cultura negra – ‘Missa dos quilombos’[2].  Neste item, queremos voltar a nossa atenção para a realidade da América do Norte. O ponto de partida comum com os demais países é determinado pelo racismo, pela opressão, marginalização e exclusão da comunidade negra no continente, mas há particularidades que merecem ser observadas com relação ao contexto e práticas do cotidiano. As informações que temos é de que, desde 1960 se tem produzido algo sobre a Teologia Negra. Por exemplo, na África, desde o Concílio Vaticano II, refletia-se sobre Teologia negra e culturas[3]. Nos anos 70, nos Estados Unidos, James Cone mostrou que era legítimo, necessário e oportuno refletir a teologia em chave de negritude e vice-versa[4]. 
A teologia Negra trabalha o tema da libertação como liberdade de ser em relação a Deus, motivando os afrodescendentes a sobreviverem a todo tipo de opressão e aos horrores da humilhação e da escravidão. Muitos são os testemunhos dos que fazem este tipo de experiência. Eles falam de um encontro divino-humano significando morte à vida antiga e a libertação para uma nova forma de existência. Após convertidos, muitos negros crêem que a oração é necessária para que perseverem naquilo que chamam de “a viagem do Senhor”. Por meio da oração, podem comunicar-se com Deus na certeza absoluta de que estão sob seus cuidados em todos os momentos de suas vidas. Por isso muitas orações feitas por negros e negras iniciam com expressões de ação de graças a Deus por ter sustentado o povo na luta: “Querido Senhor”,... comparecemos diante de Ti e Te pedimos que nos defendas. Agradecemos-te por tudo que tens feito por nós”[5]. Ou seja, não importa o que fizeram de nós, importa é o que fazemos do que fizeram de nós; importa cultivar a certeza de que a libertação já aconteceu e de que é compromisso da comunidade negra lutar contra toda e qualquer situação de preconceito e discriminação, resquício do grande mal da escravidão.

Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé


[1] Cf. ASSET. Op. cit., p. 41
[2] A palavra quilombo é de origem africana e aqui no Brasil foi símbolo da resistência, sendo refúgio onde se localizavam os negros e negras que conseguiam fugir do cativeiro. "Em 1981, mais precisamente no dia 22 de novembro, a "Missa dos Quilombos" foi cantada pela primeira vez na celebração eucarística presidida pelos arcebispos Dom José Maria Pires e Dom Hélder Câmara. O ato religioso, em memória do líder Zumbi e da resistência dos negros, foi celebrado no Recife, na Praça do Carmo. A letra da missa foi elaborada por Dom Pedro Casaldáliga e por Pedro Tierra. Milton Nascimento compôs a música e a executou na referida celebração. A missa expressa e sintetiza a memória coletiva do povo em sua caminhada histórica. Além da profundidade do texto da missa, a veemente homilia do Dom José Maria Pires, e a invocação de Dom Hélder Câmara a "Mariama", constituíram os pontos altos da celebração" (SILVA, A. A. In: ATABAQUE-ASETT. Agentes de pastoral negros., p. 17).
[3] Cf. COLOMBIANITO, Op. cit., p. 12. Ele diz ainda: “Atualmente, tanto na África quanto fora dela, não se tem dúvida quanto à legitimidade da Teologia negra. Em cada contexto e região, a Teologia Negra vai receber um nome que expressa a sua especificidade, a sua peculiaridade: “Teologia Negra, nos Estados Unidos”, “Teologia Inculturada”, em algumas regiões africanas; Teologia Negra da Libertação e Teologia em Contexto, em outras regiões da África; Teologia Afro-Americana, na América Latina e no Caribe”.
[4] Cf. Id., Ibid., p. 12.
[5] CONE, J. H. O deus dos oprimidos., p. 157.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

3 DIMENSÕES DA TEOLOGIA AFROAMERICANA

Neste item, transcrevo a análise feita pelo autor Colombianito, a qual é muito apropriada neste nosso estudo. Para ele, a teologia afro-americana contém três dimensões[1]:
a) A dimensão factual: A população negra no continente é, em sua maioria, pobre. A situação da pobreza em que vive não eliminou sua tradição de luta, resistência, fé e seus valores ético-culturais. Segundo Lenardo Boff “... a pobreza massiva cresce cada vez mais, na medida em que nos damos conta dos seus mecanismos. A pobreza não é apenas um problema de consciência moral, é fundamentalmente um problema político”[2]. Neste contexto, a teologia tem como tarefa realizar a denúncia profética. Não se trata de uma denúncia derrotista, mas reveladora da realidade, tantas vezes escondida e mascarada.
b) O sentido de pecado nas comunidades negras: Para os negros na diáspora, o pecado tem nome: escravidão, racismo, discriminação, marginalização, exclusão e preconceito. Pecar é escravizar[3].  A escravidão é para o afro-americano o pecado original. A escravidão é pecado, porque significa negação do outro através do seu aprisionamento. Negar o outro é negar Deus presente no outro. A escravidão é pecado porque significa reduzir o outro à condição de posse, de objeto, de mera força de trabalho. Se a escravidão é o pecado da posse do outro, o racismo é, na medida em que se ignora o outro, negando-lhe toda a possível e efetiva participação. O mesmo se pode dizer da discriminação.
c) O carisma da utopia negra: Para o Povo negro, o carisma tem sentido de graça especial, dom que supera a realidade imediata. O carisma do povo negro manifesta-se de forma coletiva, mas também em cada pessoa nos seus modos de exprimir, na dança, no caminhar, nos atos litúrgicos, na maneira de vestir, nas artes e na culinária também. Nas comunidades negras tudo é esperança, sonho, utopia, sem deixar de ser realidade. A utopia é, portanto, a dimensão em que o carisma negro se manifesta de forma exuberante. O carisma da comunidade negra se manifesta até na sua capacidade de perdoar os seus opressores. O carisma é uma maneira negra de ser.

Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé 


[1] COLOMBIANITO. Op. cit., p. 11.
[2] BOFF, L. Do lugar do pobre., p. 65.
[3] Quando predominava a ideologia do embranquecimento, nas catequeses, se insistia em afirmar que o pecado era uma mancha negra na alma. A criança negra, pressionada, jamais se sentia de dizer que era negra, pois estaria sempre em pecado.

2 CONTRIBUIÇÃO DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO PARA UMA REFLEXÃO TEOLÓGICA NA ÓTICA DO POVO NEGRO

Continuando nossa reflexão sobre a teologia afro ou teologia negra, quero comentar brevemente o importante impulso dado pela teologia da libertação neste processo. É bom ainda recordar que, além de contribuir para o surgimento de um jeito afro de pensar a teologia, a teologia da libertação também assumiu a teologia afro como uma de suas causas.
O cristianismo, desde sua condição Messiânica, tem em Jesus a imagem do libertador que veio ao mundo trazer a Boa Nova que liberta o ser humano da opressão, das forças de morte e não somente do pecado. Por conseguinte, o cristianismo põe-se como chave de acesso à Libertação dos povos: o cristianismo, em virtude do Messias é libertador[1].
Desse jeito, a Teologia da Libertação nasce, tendo como chave de leitura a volta às fontes e a opção pelos pobres, pela libertação dos pobres, dos sofredores. Ela quer mostrar que a história do nosso continente tem como tela de fundo uma história de submissão, porém, que seus homens e mulheres têm também uma história, uma cultura e valores que devem ser levado em conta; querem dizer ao mundo que eles existem e que tem direito a recuperar sua identidade e suas tradições[2]. Sobre esse compromisso contextual da teologia da libertação, o autor Colombianito continua sua reflexão, dizendo que
Além da fé e da teologia, resgata toda uma dimensão social e especialmente a dimensão ética dos povos, da família e da pessoa. Profeticamente, a Teologia da Libertação encara aos oprimidos à luta pela Conscientização, para resgatá-los da opressão. Ela faz sonhar com o respeito dos valores, as tradições e a riqueza dum povo que por muitos anos esteve – e poderíamos dizer que ainda está - sob a pressão dos poderosos[3].

A teologia da Libertação abriu as portas para que muitos movimentos tivessem a chance de se manifestar. Entre eles, afrodescendentes e indígenas, vítimas da segregação e desumanização dos demais, conforme afirmava Puebla, em 1979. Podemos dizer que este foi o impulso do trabalho com as comunidades negras, pois, em 1980, surgem os EPA (Encontros de Pastoral Afro-americana), encontros de países com presença de negros[4]. Contudo, poderíamos dizer que a Teologia afro-americana no Brasil surge como vivência herdada de todo um processo histórico e social vivido pela comunidade negra. Ela quer que a história e a humanidade de hoje e do tempo futuro, saibam que Deus também se vê desde seus olhos - olhos de negros e negras - e se escuta nas suas músicas e na alegria da festa; que, embora o passado de dor e sofrimento os indigna, eles sabem, a exemplo de Cristo, perdoar[5].

Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé

[1] Cf.  COMBIANITO, Op. cit., p. 8.
[2] Cf.  Id., Ibid., p. 10.
[3] Id., Ibid., p. 10.
[4] Cf. SILVA, A. A. da; SANTOS, Sônia Querino dos  (Orgs.). Teologia afro-americana., p. 59. Sobre a presença negra no continente, outra publicação desta Associação salienta ainda: “Países com grande população negra e mestiça triétnica (indígena, européia e africana): litorais de América Central, México, Colômbia e Venezuela. População indígena e mestiça com comunidades negras reduzidas: Equador, Peru, Bolívia e Paraguai. Além em países com um passado colonial em que houve intensa mestiçagem entre indígenas, espanhóis e negros: Uruguai, Argentina e Chile” (ASSET, Identidade Negra, Religião e Liberdade. p. 41).
[5] Cf. Id., Ibid., p. 72.

domingo, 27 de novembro de 2011

1 CONTEXTO NO QUAL SURGIU A TEOLOGIA AFRO-AMERICANA

Entre os principais fatores que levaram a uma reflexão teológica negra, está o sofrimento por causa da cor da pele. Segundo uma visão europeia, esta situação nunca foi considerada suficiente para a elaboração de uma reflexão propriamente teológica e porque também, segundo o autor Colombianito, naquela época, a existência dos escravos, jamais foi motivo de grande preocupação para a ética Cristã[1]. Uma justificativa pode estar ligada ao fato de que sempre existiram escravos nas diversas culturas e povos, embora não fossem tratados como mercadoria e objeto de exploração e de lucro. A experiência de fé acontece, portanto, dentro de uma sociedade marcada pelo racismo, opressão e marginalização com relação aos descendentes de africanos. Estes são pontos comuns com os outros continentes onde tem presença negra; as experiências de Deus vividas por estas outras comunidades é que serão referência básica para levar adiante uma reflexão teológica negra em contexto latino-americano e caribenho[2].
É muito importante mencionar que em seu percurso, o pensamento teológico afro-americano foi corroborado pela prática da Igreja que se mostra aberta com o real compromisso com as causa dos mais empobrecidos, excluídos do mundo. A partir do concílio Vaticano II, começa-se a surgir uma nova postura eclesial, com relação à população do continente. Esta tem seu início em Medelím, Colômbia, mas é precisamente em Puebla, que se nota a predominância de uma opção pastoral libertadora por parte da Igreja latino-americana e caribenha. Puebla é o primeiro documento da Igreja que menciona a realidade dos afrodescendentes[3] quando fala das feições concretas dos “sofredores nas quais deveríamos reconhecer as feições sofredoras de Cristo: feições de indígenas e, com frequência, também de afro-americanos, que, vivendo segregados e em situações desumanas, podem ser considerados como os mais pobres dentre os pobres” (Puebla n. 34). Uma outra menção foi numa nota de rodapé do parágrafo oito quando diz que “o problema dos escravos africanos não mereceu, infelizmente, a devida atenção evangelizadora e libertadora da Igreja” (Puebla  n. 8).  Foram contribuições muito boas e determinantes, mas segundo o teólogo negro, A. A. da Silva, de saudosa memória, esperava-se que o documento dedicasse maior atenção à Comunidade Negra, chegando até a dizer que o assunto foi tratado "perifericamente". No entanto, ele continua o texto, afirmando que, "apesar do espaço reduzido, a alusão feita aos afro-americanos revestiu-se de força na medida mesma em que foi relacionada com a figura de Cristo, e por isso causou impacto nas comunidades"[4].
Neste sentido, os avanços foram substancialmente reforçados pela consolidação da Teologia da Libertação e pela experiência das Comunidades Eclesiais de Base, aliadas a uma nova metodologia pastoral, catequética e litúrgica. Nas CEBs, muitos negros e negras puderam assumir a condição de protagonistas da Igreja, através da participação na vida comunitária e eclesial[5]. Este novo projeto da Igreja permitiu um estímulo recíproco entre práticas eclesiais e reflexões teológicas, possibilitando a descoberta dos múltiplos rostos de Deus, até do “rosto negro de Deus”. A partir desta descoberta percebe-se que Deus não está nem nunca esteve distante dos negros e negras em sua história de dor e sofrimento. Assim, “a história enquanto expressão da cotidianidade será o lugar teológico por excelência. O único lugar teológico é a história concreta que vivemos cada dia” diz Enrique Dussel[6]. Esta menção de Enrique Dussel, é básica para o pensamento teológico afro-americano. Para o/a teólogo/a que está refletindo a partir da realidade das comunidades negras nos diferentes continentes, a história é o precioso lugar do desvelamento de Deus. Esta realidade tem exigido uma profunda sintonia com o cotidiano das comunidades no qual Deus se faz presente. Daí emerge uma nova reflexão teológica “afro-libertadora”[7].

Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé


[1] Cf. COLOMBIANITO. Teologia afroamericana. (polígrafo), p. 5.
[2] Cf. Id., Ibid., p. 7.
[3] REIS, Ari Antonio dos (Org.). Refletindo o rosto negro da Igreja: de Medellin à Aparecida., p. 40s.
[4] SILVA, A. A. da. In: ATABAQUE-ASETT. Agentes de Pastoral Negros: conscientização, organização, fé e luta., p. 14.
[5] Cf. REIS, Ari Antonio dos (Org.). Refletindo o rosto negro da Igreja., p. 17
[6] DUSSEL, E. Caminhos de libertação Latino-Americana., p. 11.
[7] Cf. COLOMBIANITO, Op. cit., p. 8.

sábado, 26 de novembro de 2011

POVO NEGRO DA DIÁSPORA: REINTERPRETANDO A REALIDADE À LUZ DA FÉ

Eu havia blogado a síntese de um artigo que fiz sobre a teologia negra. A partir deste, eu desenvolverei todos os itens do artigo. Quero começar com aquele que é a introdução do referido artigo. Uma boa reflexão!
Os afro-descendentes, na sua origem, foram forçados a migrar da África, devido a escravidão, sendo impedidos de cultivar seus valores culturais e suas práticas religiosas, para terem que assumir outro estilo de vida. Nas Américas, na medida em que os diferentes povos iam chegando, lideranças religiosas e tribais iam se reencontrando, sem que o colonizador o soubesse. Não entraram em conflito, como era previsto, devido a rivalidades entre eles, mas uniram forças. Desta forma puderam reestruturar suas religiões e suas vidas em outras formas de expressão, como por exemplo, os terreiros, os quilombos, especialmente no Brasil.
A miscigenação sempre foi a marca deste povo, desde que aqui chegou. Podemos encontrá-la de forma étnico-racial e religiosa. Daí é que nasce o sincretismo religioso, principalmente a partir de duas práticas religiosas: a africana e a católica. Os negros e negras, mesmo tendo que assumir o catolicismo, na marra, nunca foram considerados católicos de fato, pois pesava sobre eles o rótulo da ‘inferioridade’, caracterizada por uma postura excludente da parte dos seus senhores. Muitos conseguiam fugir e criar uma sociedade alternativa, chamada Quilombos, através da qual recuperavam valores profundos da vida africana - liberdade e dignidade - podendo ser protagonistas de sua própria história. Os que permaneciam na chamada ‘casa grande’, eram catequisados em vista dos sacramentos, tendo que aceitar uma imagem de um Jesus excessivamente doce e obediente. Esta imagem impingia na consciência do escravo de que era pecado lutar contra a situação em que se encontrava, ou seja, a fuga era totalmente contra os planos de Deus. Assim também, quando se falava em pecado, afirmava ser uma mancha negra na alma, de sorte que a criança negra não queria se dizer negra, pois estaria permanentemente em pecado. Assim foi se fortalecendo a ideologia do embranquecimento. Como aceitar um Deus que permitia este estado de coisas?
Diante disso, era preciso uma reflexão sobre um Deus diferente: Criador e Supremo, que fez as pessoas livres, as acompanha através de intermediários e que é Libertador. Uma reflexão que parta da própria situação dos afrodescendentes que buscam uma outra realidade possível, pois sabem que seu sofrimento não é querido por Deus e que também não é esquecido por Ele. Não se trata de novidade teológica, mas de uma reflexão calcada numa realidade singular, e que quer levar a todos ao compromisso e à solidariedade em vista da mudança da realidade cotidiana em que vive a população negra do continente. Sendo assim, quero, com esta pesquisa, buscar respostas às seguintes perguntas: Que fatores contribuíram para o surgimento da teologia afroamericana? A teologia afroamericana é de fato necessária? Que contribuições este tipo de reflexão tem dado para uma imagem diferente de Deus? Procurarei responder a estas questões nos próximos artigos. Até lá!

Modjumbá axé!

domingo, 20 de novembro de 2011

CELEBRAR A CONSCIÊNCIA NEGRA NA SOLENIDADE DE CRISTO REI-PASTOR

Esta é a homilia que desenvolvi nas comunidades nas quais estive presente e que ousaram realizar a liturgia inculturada. Uma boa reflexão:
Tudo o que estamos refletindo e contemplando neste espaço, tem uma dimensão espiritual profunda. Desde o espaço em si, cuidadosamente preparado, os cantos, os ritmos, as danças, as vestes, etc. Tudo isso faz parte da cultura negra e, por questão de justiça, está sendo levado em conta na liturgia. É, portanto, liturgia a caminho da inculturação. Alguém me perguntava: ‘padre, não é pecado, colocar macumba dentro da Igreja?’ Eu afirmei: ‘pecado é não colocar, se essa macumba, da qual você fala se refere à cultura negra’. Esta pessoa se espantou: ‘mas assim a gente perde a fé!’ Eu então reiterei: ‘Essa você não somente pode, mas deve perder, pois dessa fé você não precisa: uma fé preconceituosa, discriminadora, fechada e excludente só escandaliza as pessoas. Você precisa de uma fé amadurecida, que saiba acolher o diferente como uma grande riqueza, uma fé que integre as pessoas e que esteja comprometida com as realidades humanas, principalmente lá onde a dignidade humana é negada’. Bom, a pessoa não se convenceu muito, mas isso não importa, pois não temos como tirar água de pedra; essa tarefa competiu somente a Moisés; nem Jesus fez isso.
No entanto, nós não podemos fazer mistura. Mesmo que a cultura negra, desde África, seja considerada uma cultura religiosa, há diferença entre valor especificamente religioso e valor cultural, de uma forma geral. A confusão, muitas vezes vem, de um lado, da falta de discernimento de quem usa e de outro, de quem é racista de plantão e fica espreitando, como um verdadeiro ‘xiita’, pronto para ‘cair matando’. Só para comentar alguns: o atabaque não é religioso, é cultural sem deixar de ser sagrado. É ele que anuncia e marca os momentos fortes da comunidade, como os ritos de passagem, as celebrações e outros festejos. Se lá na religião afro ele é usado, é porque teve uma cerimônia de consagração para isso. As danças caracterizam um jeito afro de louvar a Deus – o povo negro reza dançando e dança rezando - e estas são muito incentivadas em documentos da CNBB; um dos trechos lembra que ‘as celebrações a caminho da inculturação em meios afro-brasileiros têm encantado por sua dinâmica, beleza e fidelidade aos sagrados mistérios celebrados’. Estes mesmos documentos orientam para que as danças sejam simples, fáceis e envolventes, a fim de que não se tornem espetáculo, mas um momento de envolver toda a assembleia. É bom lembrar que o objetivo é este, pois a comunidade negra, quando celebra, não faz espetáculo para turistas tirarem fotos. Há também, no documento de Aparecida, um reconhecimento por parte dos bispos da América latina e Caribe com relação às características fundamentais do povo negro, que tem contribuído muito na evangelização, que são: a expressividade corporal, o enraizamento familiar e o sentido de Deus (DAp 56). E assim salientam que esforços tem sido feitos para inculturar a liturgia em meios afrodescendentes, que é um caminho tenso, conflitivo, porém rico e necessário (Cf. DAp. 99). Se não descolonizarmos nossas mentes, nossos conhecimentos e não recuperarmos a memória histórica (Cf. DAp. 96), nós como Igreja, ficaremos apenas em palavras bonitas, perpetuando a dívida histórica que a sociedade tem com a população negra. E isto é hipocrisia!
Mas a solenidade de hoje nos faz ter uma postura diferente ao apresentar a imagem de Deus Rei-pastor, sempre atento às suas ovelhas, em contraposição aos pastores, lideranças do povo que, serviram-se do povo em benefício próprio, incentivando a infidelidade, deixando-o desprotegido, até que veio a desgraça do exílio, arruinando a vida do povo, dispersando-o. O profeta Ezequiel é a figura de alguém que realmente faz a diferença na vida deste povo, trazendo uma mensagem de esperança: é Deus mesmo que, como um bom pastor vai resgatar, cuidar e proteger seu povo disperso por todas as nações. Este cuidado se realiza de modo pleno em Jesus, que se revela como o Bom Pastor, identificando-se com os necessitados e protegendo-os. Apresenta-os como critério para pertencer ao seu reino. Seu reino, portanto, não é baseado em poder, tirania ou violência, mas no amor, na entrega e na doação. Ele, enquanto caminhava entre nós, não acolheu o título de rei em momentos de grandes destaques ou de feitos maravilhosos, mas em momentos de aparente derrota: diante de Pilatos e no alto da cruz. Jesus é rei porque entrega sua vida ao Pai pelos demais, abrindo o caminho para que os que o querem seguir, possam fazer o mesmo: entregar-se pelo bem dos outros. Neste reino que Jesus inaugura, o amor às pessoas é o critério fundamental de pertença. No final de nossas vidas, não será pedida a quantidade de missas que participamos ou quantas vezes nós chamamos o nome de Deus ou ainda quantos terços nós rezamos. Todas estas coisas são importantes, mas o que conta é o quanto fomos capazes de ser humanos e solidários, ou seja, o quanto fomos capazes de fazer o bem aos outros sem pensar em nós mesmos.
Celebrar o dia da consciência negra na solenidade de Cristo Rei-Pastor do Universo, é celebrar a alegria de pertencer ao rebanho de Cristo, vivendo o verdadeiro sentido de ser Igreja, Corpo de Cristo, unidade na diversidade, na valorização de todas as pessoas. É reconhecer nas lutas e conquistas da comunidade negra sinais visíveis e concretos da presença do reino que Cristo veio trazer. É reconhecer que, no sangue de Cristo, encontramos presente o sangue de Zumbi dos Palmares, da escrava Anastácia, Manuel Congo e de todos os Mártires da Causa negra.  É dia de celebrarmos a vida da nossa gente com todo o seu dinamismo, pois o Deus da vida continua nos concedendo dons e capacidades para contribuirmos na construção de uma sociedade mais humana e fraterna e continua suscitando em nosso meio tantos e tantas pequenos “Zumbis”, que empenham o melhor de si mesmos para fazer a diferença na vida do nosso povo, animando-o em sua caminhada. Viva Zumbi, viva o Povo negro, viva o Reino de Deus!
Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

TEOLOGIA NEGRA: CONTEXTO E IMPLICAÇÕES


Tendo concluído mais um artigo, desejo partilhar com vcs, que refletem comigo, as riquezas da teologia negra. Seria muito bom se vcs pudessem postar algum comentário. Nás próximas postagens eu colocarei o conteúdo desenvolvido de cada item desse. Uma boa reflexão e Modjumbá axé!
Introdução: Os afroamericanos, na sua origem, foram forçados a migrar da África, devido a escravidão, sendo impedidos de cultivar seus valores culturais e suas práticas religiosas, para terem que assumir outro estilo de vida. Nas Américas, na medida em que os diferentes povos iam chegando, lideranças religiosas e tribais iam se reencontrando, sem que o colonizador o soubesse. Não se mataram, como era previsto, devido a rivalidades entre eles, mas uniram forças. Desta forma puderam reestruturar suas religiões e suas vidas em outras formas de expressão, como por exemplo, os terreiros, os quilombos, a teologia, etc.
1 Contexto no qual surgiu a teologia afroamericana: Um dos fatores que leva ao surgimento é o sofrimento por causa da cor da pele. A experiência de fé acontece, portanto, dentro de uma sociedade marcada pelo racismo, opressão e marginalização com relação aos descendentes de africanos. A partir do concílio Vaticano II, começa-se a surgir uma nova postura eclesial, com relação à população do continente: Primeiro em Medelím, Colômbia, mas é precisamente em Puebla que se fala da realidade dos afrodescendentes: “sofredores nas quais deveríamos reconhecer as feições sofredoras de Cristo: feições de indígenas e, com frequência, também de afro-americanos, que, vivendo segregados e em situações desumanas, podem ser considerados como os mais pobres dentre os pobres” (34). Uma outra menção foi numa nota de rodapé do parágrafo oito quando diz que “o problema dos escravos africanos não mereceu, infelizmente, a devida atenção evangelizadora e libertadora da Igreja” (8). Neste sentido, os avanços foram substancialmente reforçados pela consolidação da Teologia da Libertação e pela experiência das Comunidades Eclesiais de Base, aliadas a uma nova metodologia pastoral, catequética e litúrgica.
2 A importante contribuição da  Teologia da Libertação: Desse jeito, a Teologia da Libertação nasce, tendo como chave de leitura a volta às fontes e a opção pelos pobres, pela libertação dos pobres, dos sofredores. Encara aos oprimidos à luta pela Conscientização, para resgatá-los da opressão. A teologia da Libertação abriu as portas para que muitos movimentos tivessem a chance de se manifestar. Entre eles, afrodescendentes e indígenas. Então, em 1980, surgem os EPA (Encontros de Pastoral Afro-americana). Encontro de países de presença negra.
3 Dimensões da teologia afroamericana: a) A dimensão factual: A população negra no continente é, em sua maioria, pobre. A situação da pobreza em que vive não eliminou sua tradição de luta, resistência, fé e seus valores ético-culturais; b) O sentido de pecado nas comunidades negras: Para os negros na diáspora, o pecado tem nome: escravidão, racismo, discriminação, marginalização, exclusão e preconceito. Pecar é escravizar.  A escravidão é para o afro-americano o pecado original. A escravidão é pecado, porque significa negação do outro através do seu aprisionamento; e negar o outro é negar a imagem de Deus presente no outro; c) O carisma da utopia negra: Para o Povo negro, o carisma tem sentido de graça especial; manifesta-se de forma coletiva, mas também em cada pessoa no modo de se expressar, na dança, no caminhar, nos atos litúrgicos, na maneira de vestir, nas artes e na culinária também. O carisma se manifesta no modo de perdoar. É uma maneira negra de ser.
4 Particularidade norte-americana: desde 1960 se tem produzido algo sobre a Teologia Negra. Já na África, desde o Concílio Vaticano II, refletia-se sobre Teologia negra e culturas. A teologia Negra, com J. H. CONE, a partir de 1970, trabalha o tema da libertação como liberdade de ser em relação a Deus, motivando os afrodescendentes a sobreviverem a todo tipo de opressão e aos horrores da humilhação e da escravidão. Falam de um encontro divino-humano significando morte à vida antiga e a libertação para uma nova forma de existência.
5 A concepção afroamericana de Deus à luz da experiência do Êxodo e do engajamento profético de Jesus de Nazaré: A partir da herança africana, Deus é Supremo e Criador, mas a experiência de cativeiro possibilitou a descoberta de outras imagens como: o Deus comunitário, Deus da história e Deus libertador dos oprimidos.
5.1 Um Deus Libertador: experiência de libertação a partir de Êxodo 3: um Deus que sempre se posicionou contra toda espécie de opressão, de escravidão; um Deus, portanto, libertador do povo oprimido. Neste sentido, o povo negro se identifica com o povo hebreu, que era escravo e foi libertado por Deus” (Ex 3, 7-8).
5.2 Um Deus negro: experiência de libertação a partir do engajamento profético de Jesus de Nazaré: Em Jesus de Nazaré, Deus mesmo é o Oprimido. Ele quis também experimentar na pele a dor, a angústia, e a situação de "menos vida", pela qual passam os oprimidos. Assim, o povo negro faz uma experiência própria de Deus: um Deus que se faz negro, assumindo o seu rosto, sua cor, sua cultura, seu jeito. Cristo é negro não por causa de alguma necessidade cultural ou psicológica do povo negro, mas somente porque Cristo realmente entra em nosso mundo, onde os pobres, os desprezados e os negros estão, revelando que está com eles, sofrendo a humilhação e a dor deles e transformando os escravos oprimidos em servos libertados.
Conclusão: A comunidade negra, a partir de sua rica experiência e de sua capacidade de luta, nos possibilita refletir de um modo diferente a experiência de Deus e a própria teologia. Ela é lugar teológico, pois é reveladora da presença de Deus; um Deus misericordioso, compassivo, comunitário e libertador. Daí a necessidade de uma reflexão teológica que leve em conta a realidade dos caídos à beira do caminho e que esteja atenta aos seus  diversos clamores em nossa sociedade, entre os quais, de forma insistente, estão os de muitos afrodescendentes.

Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé

sábado, 12 de novembro de 2011

MISSA INCULTURADA - orientação para os comentários





Neste artigo limito-me a dar algumas orientações sobre o que precisamos ter presente ao elaborarmos os comentários para a Missa inculturada e alguns passos práticos para a preparação para as próximas celebrações. Lembramos ainda que não dizemos mais axé nem Olorum, e evitamos os cantos fazem alguma apologia aos Orixás.

1-      Acolhida e comentário
Irmãos e irmãs, sejam todos bem-vindos e bem vindas!
            Acolhemos a todos e todas com muita alegria para celebrarmos, fraternalmente, a eucaristia, presença visível e real de Jesus no meio de nós. Celebramos com um novo rosto, resgatando os valores da cultura negra. Celebramos porque acreditamos na vida, na partilha, na fraternidade e na possibilidade de ver uma sociedade melhor, onde todos e todas possam participar com iguais direitos e dignidade.
Em nossa celebração, Jesus Cristo é o centro. Sendo o princípio e fim de todas as coisas, para a comunidade negra, ele é o Antepassado maior, que permite a cada liturgia, celebrar seu nascimento, morte e ressurreição. Ele tomou sobre si toda sorte de dor, sofrimento, discriminação, preconceito, racismo e os superou. Dele, a comunidade recebe a vida que não morre jamais e é nele, portanto, que ela encontra forças para lutar contra todos esses males, alimentando o desejo de contribuir sempre mais para a realização dinâmica do seu reino.
Nota: Acrescentar algo sobre a realidade local. Lembrar que as leituras do domingo não podem mudar, pois é solenidade da Igreja.
Como irmãos e irmãs, reunidos na Casa do mesmo Pai, iniciemos com fé e muito gingado, cantando n. 01 ou .........................
2 – Orações Iniciais
a)      (Invocação ao Deus Todo Poderoso)
Padre: Em nome do Deus de todos nomes, raças e culturas que, em Jesus se revelou como Pai, Filho e Espírito Santo.
Todos: Em nome do Pai que  faz toda carne: a preta e a branca, vermelha no sangue!
Padre: Em nome do Filho Jesus, nosso Irmão que nasceu moreno da raça de Abraão!
Todos: Em nome do Espírito Santo, bandeira do canto do negro folião!
Padre: Em nome do Deus verdadeiro que amou-nos primeiro sem DI-VI-DI-ÇÃO!
Todos: Em nome dos Três que são um só Deus, aquele que era, que é e que será!
(rufam-se os atabaques por alguns instantes)
b) Invocação do espírito de todo o negro e negra que sofreu desde os inícios da escravidão dem nossa "Terra de Santa Cruz" e de todos os negros e negras que sofrem a marginalização hoje.
Padre: Em nome do povo que espera, na graça da fé, a voz de Jesus Salvador, o quilombo-Páscoa que o libertará!
Todos: Em nome do povo sempre deportado pelas brancas velas no exílio e nos mares marginalizados, nos cais, nas favelas e até nos altares!
Padre: Em nome do Povo que fez seus palmares!
Todos: Que ainda fará palmares de novo; Palmares! Palmares! Palmares do povo!
(rufam-se os atabaques por alguns instantes)

3 – Ato Penitencial: (motivado pelo padre)
Com: Cantemos o BWANA, UTUHURUMIE, Senhor, tende piedade de nós!, n. 4 ou... 
(lembro a todos que BWANA, UTUHURUMIE! é uma expressão em Kiswahili, uma das línguas dos nossos Antepassados no Brasil. Atualmente, entre as línguas nativas africanas, é a mais falada, com mais de cem milhões de falantes reunindo 9 países).

Oração: Deus todo poderoso, tende compaixão de todos nós, vosso povo, perdoai as faltas que cometemos contra o vosso plano de amor e nos conduza à construção, aqui e agora da vida feliz, que não tem fim! Amém.

4- Hino de louvor:
(durante o canto, entra-se ou, de lugares estratégicos, lança-se pétalas de rosa - flores)
Com: O nosso louvor ao Deus da vida é um louvor sem fim, pois nos criou por amor e nos motiva a lutar por um outro mundo possível. Louvemos pelos mártires da caminhada, por todas as pessoas solidárias que empenharam  e empenham suas vidas na construção de uma sociedade fraterna e solidária, onde as pessoas não sejam mais desprezadas pela sua cor ou raça. Cantemos.......................

5- Oração.

6- Rito da Palavra - (a Bíblia entra enfeitada com alguém dançando)
Com: A Palavra de Deus, é viva e eficaz. Deus falou de muitas maneiras através da história. Falou através dos profetas, dos antepassados africanos e por fim, falou através do próprio Filho. Acolhamos esta palavra que brota da vida, da Bíblia e do nosso coração, cantando – Canto n. 8 ou .........................
1ª Leitura 
Salmo
        Aclamação cantemos o n. ..............
Evangelho 
Credo
Oração dos fiéis: Refrão cantado: Ó Senhor, Senhor, nesta noite, escutai nossa prece

7- Apresentação das Oferendas
Com: Oferecemos ao Deus da vida, junto ao pão e ao vinho, toda a nossa cultura. Um grupo dançando, trará até o altar, flores, instrumentos musicais, comidas típicas e outros sinais do trabalho e da alegria do povo negro. Nossas mãos abertas trazem as ofertas do nosso viver. Cantemos ..........
8- Oração sobre as ofertas:
9- Oração Eucarística

10- Rito da Comunhão
Com: Jesus é a razão da nossa esperança e a nossa comunhão com ele na Eucaristia nos dá força para caminhar e contribuir na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.  Cantemos...
11- Oração após a comunhão.

12- Louvação  a Mariama
Com: Ao som dos instrumentos, iremos acolher a imagem da Negra Mariama e, em seguida, acompanharemos a oração a Mariama de D. Hélder Câmara, concluindo com o canto Negra Mariama. Durante o canto, a imagem passará nos corredores para quem quiser tocar. Canto.....................

13- Avisos e homenagens

14- Partilha
Com: Em nossa celebração o espaço se torna banquete onde todos participam, partilham, se ajudam, preenchem-se de Deus e renovam o compromisso fraterno.  O que foi levado para as ofertas é distribuído com os presentes. Cada um, cada uma, em voz alta ou em silêncio, diz com qual luta, com qual pessoa gostaria de partilhar este alimento. Cantemos .......................

15- Benção Final

Oração a Mariama

1- Mariama, Nossa Senhora, mãe de Cristo e Mãe da Humanidade! Mariama, mãe dos seres humanos de todas as raças, de todas as cores, de todos os cantos da terra. Pede ao teu Filho que esta festa não termine aqui, a marcha final vai ser linda de viver.
2- Mas é importante, Mariama, que a Igreja de teu Filho não fique em palavras, não fique em aplauso. O importante é que a CNBB, a Conferência dos Bispos, embarque de cheio na causa dos negros, como entrou de cheio na Pastoral da Terra e na Pastoral dos Índios;
1- Não basta pedir perdão pelos erros de ontem. É preciso acertar o passo de hoje sem ligar ao que disserem. Claro que dirão, Mariama, que é política, subversão, que é comunismo. É Evangelho de Cristo, Mariama;
2- Mariama, Mãe querida, problema de negro acaba se ligando com todos os grandes problemas humanos. Com todos os absurdos contra a humanidade, com todas as injustiças e opressões, Mariama, que se acabe, mas se acabe mesmo a maldita fabricação de armas. O mundo precisa fabricar é paz;
1- Basta de injustiça, de uns sem saber o que fazer com tanta terra e milhões sem um palmo de terra onde morar. Basta de uns tendo de vomitar pra comer mais e cinqüenta milhões morrendo de fome num ano só. Basta de uns com empresas se derramando pelo mundo todo e milhões sem um canto onde ganhar o pão de cada dia;
2- Mariama, Nossa Senhora, Mãe querida, nem precisa ir tão longe como no teu Hino. Nem precisa que os ricos saiam de mãos vazias e os pobres de mãos cheias. Nem pobre nem rico. Nada de escravo de hoje ser senhor de escravo de amanhã. Basta de escravos. Um mundo sem senhores e sem escravos. Um mundo de irmãos. De irmãos não só no nome e de mentira. De irmãos de verdade, Mariama".
D. Hélder Câmara


Mojumba!
Pe. Ndega, PSDP