segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

CONCLUSÕES SOBRE A REFLEXÃO TEOLÓGICA NEGRA

A caminhada que fizemos nos permite concluir que falar de Deus e de seu mistério, requer uma sintonia muito aguçada com o contexto de homens e mulheres concretos, principalmente quando se trata de situações em que a dignidade humana é negada. A teologia negra insiste que refletir sobre a imagem de um Deus que anda de mãos dadas com o seu povo no cotidiano de suas buscas por melhores condições de vida, pelo restabelecimento dos direitos e da justiça, é uma exigência para toda reflexão teológica que se preze, caso contrário, ela se perderá em conceitos abstratos, sem cumprir a sua verdadeira finalidade, que é favorecer o encontro pessoal e transformador com o Deus verdadeiro, revelado por Jesus Cristo.
Sem dúvida alguma, a experiência que o povo negro teve do modelo cristão, foi de total exclusão, num confronto dramático, marcado pela imposição. Naquele processo de evangelização, passou a ser mais importante a cultura e os costumes europeus do que a própria mensagem cristã. O choque de religiosidades que houve possibilitou, aos negros e negras, recriarem a estrutura de sua religião e de suas vidas. A partir de sua rica experiência e de sua capacidade de luta, nos possibilitam refletir de um modo diferente a experiência de Deus e a própria teologia. A comunidade negra é lugar teológico, pois é reveladora da presença de Deus; um Deus humano, misericordioso, compassivo, comunitário e libertador. Esta experiência reforça a opção preferencial pelos pobres, feita pela Igreja latino-americana e questiona a falta de concretização de muitos dos compromissos pastorais na caminhada evangelizadora. A dimensão profética da Igreja e da própria teologia passa muito pelo modo como acolhe e busca compreender a realidade das pessoas destinatárias da boa notícia do Salvador e Libertador Jesus Cristo. Permanece, portanto, como um apelo constante, a necessidade de uma reflexão teológica que leve em conta a realidade dos caídos à beira do caminho e que esteja atenta aos diversos clamores em nossa sociedade, em vista de melhores condições de vida e de dignidade e oportunidade, entre os quais, de forma insistente, estão os de muitos afrodescendentes, vítimas de um passado cruel e de uma abolição mal feita.

Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé