segunda-feira, 28 de novembro de 2011

3 DIMENSÕES DA TEOLOGIA AFROAMERICANA

Neste item, transcrevo a análise feita pelo autor Colombianito, a qual é muito apropriada neste nosso estudo. Para ele, a teologia afro-americana contém três dimensões[1]:
a) A dimensão factual: A população negra no continente é, em sua maioria, pobre. A situação da pobreza em que vive não eliminou sua tradição de luta, resistência, fé e seus valores ético-culturais. Segundo Lenardo Boff “... a pobreza massiva cresce cada vez mais, na medida em que nos damos conta dos seus mecanismos. A pobreza não é apenas um problema de consciência moral, é fundamentalmente um problema político”[2]. Neste contexto, a teologia tem como tarefa realizar a denúncia profética. Não se trata de uma denúncia derrotista, mas reveladora da realidade, tantas vezes escondida e mascarada.
b) O sentido de pecado nas comunidades negras: Para os negros na diáspora, o pecado tem nome: escravidão, racismo, discriminação, marginalização, exclusão e preconceito. Pecar é escravizar[3].  A escravidão é para o afro-americano o pecado original. A escravidão é pecado, porque significa negação do outro através do seu aprisionamento. Negar o outro é negar Deus presente no outro. A escravidão é pecado porque significa reduzir o outro à condição de posse, de objeto, de mera força de trabalho. Se a escravidão é o pecado da posse do outro, o racismo é, na medida em que se ignora o outro, negando-lhe toda a possível e efetiva participação. O mesmo se pode dizer da discriminação.
c) O carisma da utopia negra: Para o Povo negro, o carisma tem sentido de graça especial, dom que supera a realidade imediata. O carisma do povo negro manifesta-se de forma coletiva, mas também em cada pessoa nos seus modos de exprimir, na dança, no caminhar, nos atos litúrgicos, na maneira de vestir, nas artes e na culinária também. Nas comunidades negras tudo é esperança, sonho, utopia, sem deixar de ser realidade. A utopia é, portanto, a dimensão em que o carisma negro se manifesta de forma exuberante. O carisma da comunidade negra se manifesta até na sua capacidade de perdoar os seus opressores. O carisma é uma maneira negra de ser.

Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé 


[1] COLOMBIANITO. Op. cit., p. 11.
[2] BOFF, L. Do lugar do pobre., p. 65.
[3] Quando predominava a ideologia do embranquecimento, nas catequeses, se insistia em afirmar que o pecado era uma mancha negra na alma. A criança negra, pressionada, jamais se sentia de dizer que era negra, pois estaria sempre em pecado.

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