domingo, 28 de outubro de 2012

RELIGIÕES AFRICANAS NO BRASIL OU RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS?


 
A África é unitária na sua concepção monoteísta de Deus, mas diversificada nas experiências particulares de sua presença. Suas religiões são chamadas tradicionais, não porque sejam primitivas ou selvagens, mas por referirem-se ao contexto. São religiões do contexto africano. No contexto brasileiro, após resgates, adaptaçoes e ressignificações, tornaram-se religiões afro-brasileiras. Vamos conhecer um pouco de sua dinâmica e os ensinamentos propostos para uma caminhada humana mais integrada e integradora.
Características do monoteísmo africano
          As religiões tradicionais africanas possuem um sistema de mediação que é influenciado pelo sistema de governo: o rei com seus ministros intermediários e seus súditos. Assim, temos um Ser supremo com inúmeros espíritos ancestrais e os seres humanos. É importante frisar que não há politeísmo na África. Especialmente a África negra, sempre concebeu o sentido de um Deus único, supremo e criador. Quando se afirma “Deus existe” não quer referir-se a uma afirmação filosófica, mas se trata de um grito de ação de graças cheio de amor, demonstrando uma relação filial profunda. Muitas tribos bantu, por exemplo, utilizam a expressão Nzambi para se dirigirem a Deus e, embora seja comum chamar a Deus de Pai – Tatá Nzambi - em alguns grupos aparece como Mãe - Mama Nzambi (cf. ALTUNA, p. 389). Através de cerimônias, são realizados sacrifícios e oferendas aos Ancestrais, reconhecendo a sua importância como parte integrante da comunidade e sua influência no viver. A maior parte de suas festas, como o nascimento, iniciação à vida adulta, ritos mortuários, semeadura, colheitas, obter chuvas, etc, envolve práticas religiosas.
A resistência diante do Islamismo
         Várias sociedades africanas professavam apenas as religiões tradicionais, até o século VIII, quando, por conta dos intercâmbios comerciais, começam a ser influenciadas pelo islamismo. Mas essa situação não conseguiu impedir o funcionamento das referidas religiões. Um exemplo concreto são os haúça, que, mesmo que seus governantes tivessem aderido ao Islã, os súditos permaneceram fiéis às crenças tradicionais (cf. MATTOS, p. 35). Como se percebe, a resistência sempre foi a marca dessas religiões. E não será diferente no Brasil.
As Religiões africanas no Brasil
         Os negros e negras, obrigados a virem para o Brasil, como escravos, trouxeram consigo sua rica experiência religiosa. Em meio a tanta dor e sofrimento, causados pelo processo escravagista, juntamente com a imposição de práticas religiosas (cristãs), alheias à sua realidade e aspirações, não faltou o esforço das Irmandades e Confrarias, no resgate e ressignificação dos valores religiosos africanos. Assim sendo, África deixava de ser somente um lugar geográfico para assumir o sentido espiritual e mítico. O vasto intercâmbio cultural e religioso entre esses povos fez com que as religiões africanas no Brasil se tornassem religiões afro-brasileiras, expressão de criatividade e resistência, próprias do povo negro. Processo semelhante se pode perceber em outros países da América Latina e do Caribe, para onde os negros e negras foram levados. Por isso, juntamente com as expressões religiosas dos demais países, estas são também chamadas religiões afro-americanas e caribenhas.
O parentesco espiritual
        O mais importante para quem participa desses grupos religiosos é o sentimento de pertença familiar, que não se dá mais por parentesco carnal, mas sim espiritual. A nomenclatura utilizada nas definições de encargos e nas relações, também “aponta para esta nova forma de parentesco: pai-de-santo, mãe-de-santo, filha-de-santo, irmão-de-santo, família-de-santo, etc” (BERKENBROCK, p. 116). Nesta família espiritual, o negro e a negra sentem-se parte de um todo, integrados ao mundo dos Antepassados, em que profano e sagrado vivem em harmonia. Continuaremos no próximo artigo. Até lá!
Axé!
Pe. Degaaxé

 

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