Quando Jesus estava à mesa em casa de Simão, o leproso, aproximou-se
dele uma mulher (Mc 14, 3-9)
Deus é amor. Se quisermos falar aqui de definição, esta é a
que melhor corresponde à essência divina. Quem ama nasceu de Deus e conhece a
Deus; só quem ama permanece em Deus e Deus permanece nele (nela), nos diz a
Sagrada Escritura. Todas as pessoas são chamadas a amar porque Deus, que é amor
em pessoa, se deu a conhecer e ensinou como vivenciá-lo. Em Jesus, o amor se
tornou humano para que todos nós nos tornássemos divinos, diziam os antigos
Padres da Igreja. Portanto, não se pode chegar a Deus, afastando-se do humano,
isto é, quanto mais humanos nós formos, mais divinos nós seremos. Só quem ama é
capaz de atitudes humanizadas e humanizadoras.
No evangelho, Jesus acolhe os gestos de carinho da mulher
porque ela demonstrou muito amor e porque foi muito humana. Assim pôde
manifestar o divino presente nela. Mas nem todos os que estavam na sala foram
verdadeiramente humanos, por causa da atitude preconceituosa e discriminadora para
com a mulher. Jesus valoriza tanto o gesto dela que até pede que sejam
lembrados na caminhada evangelizadora. Para Jesus, não importa a situação das
pessoas, elas são dignas de ser amadas. Parafraseando uma música popular,
afirmo que é preciso amar as pessoas como se tudo terminasse hoje, como se esse
fosse o meu, o seu último ato.
Quem não ama não chegou a conhecer a Deus. O amor em Deus é
tão intenso e verdadeiro que gera comunhão entre as pessoas divinas, evitando o
isolamento, superando toda exclusão. Neste mesmo movimento, somos convidados a
nos envolver, para nos tornarmos geradores de vida e comunhão. Este é o
primeiro testemunho que nossas comunidades são chamadas a dar: “Vede como se
amam, pois tem tudo em comum e não há necessitados entre eles!” Ah, isso sim
convence e transforma. Portanto, o amor é mais concreto do que a gente imagina.
O amor romântico pode iludir, enganar, decepcionar. Mas o amor, expresso na
entrega, doação e partilha, gera comunhão, transforma vidas e nos torna mais
humanos.
O amor não só cria comunhão,
dando coesão à pastoral ou à comunidade, mas nos lança na direção das outras
pessoas, dignas de reconhecimento e acolhida. Quando se ama não se faz
discriminação de pessoas. Discriminação
é negação do ser humano e negação da imagem de Deus presente nele. Quando
discriminamos, decidimos não amar, atentando contra a vida dos demais e agindo
contra Deus e o seu projeto. Deus não discrimina e também nós não devemos discriminar
ninguém. O cuidado especial que Deus tem
por que é mais fraco e pobre não significa exclusão dos demais, mas um apelo
para que para que haja mais humanidade destes para com eles. Por isso, a
Igreja, na América Latina e Caribe, desde Puebla (1979), faz opção preferencial pelos pobres e, em
Aparecida, afirma que esta opção não é exclusiva nem excludente, assim como é
próprio do amor de Deus.
A Igreja existe para evangelizar. Como membros desta Igreja,
somos enviados a todas as pessoas e culturas, como testemunhas alegres do amor
e da misericórdia de Deus. Ele nos amou por primeiro e pede que permaneçamos
nele para sermos perfeitos no amor e a nossa missão possa produzir bons frutos.
O amor é a essência da vida e da missão. Portanto, quem ama é um missionário,
uma missionária. Na evangelização, nos deparamos com muitos desafios e um dos
mais presentes é a acolhida de quem age e pensa diferente de nós, por ser de
cultura totalmente diferente. Só quem ama verdadeiramente é capaz de superar
toda rivalidade, todo bairrismo, todo preconceito, discriminação e ocupar-se do
essencial. Por isso, nossa missão tende a ser humanizadora, pois a nossa meta é
o bem do ser humano, principalmente nas situações em que sua humanidade é mais
ferida e machucada.
Que Maria, a amada de Deus, caminhando conosco, nos ajude a
amar conforme o seu Filho para sermos verdadeiramente humanos. Axé!
Pe. Degaaxé
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