sexta-feira, 29 de outubro de 2021

PODEMOS APRENDER A AMAR

 

Uma reflexão a partir de Dt 6, 2-6; Hb 7, 23-28; Mc 12, 28-34

 


    Os mandamentos nascem num contexto de confiança mútua entre Deus e o seu povo: Deus tem um propósito salvífico universal e confia ao povo de Israel a missão de ser instrumento da sua salvação para todos os povos. Por sua vez, este povo confia a Deus a sua vida recebendo instruções, proteção e cuidados como sinais concretos do amor divino por ele. Viver os mandamentos é uma experiência central na vida deste povo para quem a Palavra de Deus é a Lei e a Lei é Palavra de Deus, há, portanto, uma estreita ligação entre a Lei e a Palavra, porque os mandamentos nascem do coração de Deus que, quando fala, indica o caminho certo para uma vida feliz e realizada. A obediência aos mandamentos é a fonte de bênçãos que levam à vida, enquanto a desobediência a eles leva à morte.

    Portanto, a fonte dos mandamentos é o amor de Deus, Ele é amor e ama gratuitamente. Sua Lei é o amor. Esta Lei não obriga, mas é um dom que conduz à verdadeira liberdade. Este é o significado do discurso de Moisés ao povo de Israel de acordo com o presente texto de Deuteronômio. Por meio de Moisés, Deus fala ao povo de coração a coração, pois deseja fixar a sua Lei no coração de todos e todas. Quem é capaz de amar vive verdadeiramente a Lei de Deus. E ama a Deus quem organiza toda a sua vida de acordo com a sua vontade. São Paulo dirá em uma de suas cartas: “Quem ama cumpre toda a Lei”. A carta aos Hebreus nos fala da superioridade do sacerdócio de Cristo em relação aquele o do Antigo Testamento. Diferentemente daqueles sacerdotes, Cristo não precisa oferecer sacrifícios pelos pecadores; ele se ofereceu por amor e, portanto, a oferta perfeita, garantindo a salvação para todos.

    Normalmente os encontros de Jesus com os líderes judeus são conflitantes, mas desta vez este doutor da lei que se aproxima de Jesus parece amigável. A prova disso é que no final o diálogo termina com uma troca de elogios e e estima das duas partes. Ele perguntou a Jesus qual é o primeiro mandamento entre todos. Jesus não responde a sua pergunta diretamente, mas evocando a "Shemah Israel" (Escuta, Israel!), Ele nos faz entender o essencial da Lei, ou seja, o amor a Deus e proximo. Guardar esta realidade no coração é mais importante do que memorizar todos os “mandamentos” por eles inventados, desviando a atenção do que é realmente essencial.

    De acordo com o primeiro mandamento, não se ama a Deus de qualquer forma, mas com todas potências da vida, a saber: com o coração, com a alma, com a inteligência e com a força. E ainda não será amor verdadeiro se você não amar também o próximo. Em outras palavras, a correspondência ao amor que nos amou se dá em duas direções: Deus e ao próximo. Um não pode existir sem o outro. São Tiago fala duramente sobre esta realidade: “Quem diz que ama a Deus, a quem não vê e não ama o próximo a quem vê é um mentiroso”. O amor aos irmãos e irmãs é o verdadeiro sacrifício que agrada a Deus. Em sua resposta, Jesus não se refere a um decreto a ser obedecido, mas a um relacionamento a ser vivido. Devemos reconhecer que não é uma tarefa fácil de realizar. Quanto mais progredimos na vida, mais experimentamos como é difícil amar verdadeiramente a Deus e ao próximo.

    Jesus era ciente dessa dificuldade quando ela ainda era visível entre seus discípulos. Por isso se ofereceu como modelo e motivação. A partir dele, torna-se possível amar a Deus sem descuidar do próximo. Para ele, o essencial é amar; por isso, ele o chamará de “novo mandamento”. Essa expressão não significa que Jesus acrescentou algo novo, visto que tanto o mandamento de amar a Deus como o de amar o próximo já existiam antes dele. Então, onde está a novidade? “Está no fato de que as duas palavras juntas formam uma só palavra, o único mandamento”. Quem sabe colocar o amor em primeiro lugar e acima de tudo não está longe do Reino porque age como Jesus.

    Na nossa realidade, achamos difícil amar de verdade, porque talvez ainda não tenhamos a consciência de sermos amados loucamente por Deus. “Podemos aprender a amar se nos deixarmos amar por Deus, porque não podemos amar sem ser amados, e só Deus pode nos amar verdadeiramente, porque é Amor”. O famoso sul-africano Nelson Mandela disse certa vez: “As pessoas não nascem odiando. Para odiar elas tem que aprender. Se podem aprender a odiar, também podem aprender a amar, porque o amor é o sentimento que chega primeiro ao coração umano”. Responder ao Amor é possível! Então, respondemos ao Amor amando como ele nos amou primeiro.


Fr Ndega

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