sábado, 11 de maio de 2013

UM TEMPO QUE SE CHAMA HOJE


UM TEMPO QUE SE CHAMA HOJE

Uma reflexão a partir de Jo 16, 16-20

            O tempo que os discípulos conviveram com Jesus não foi o suficiente para assimilarem o seu espírito e entenderem suas verdadeiras intenções. Nesta passagem do evangelho fica evidente o desencontro de informações: “O que é isto que ele nos diz?... Não compreendemos o que ele está dizendo”. No entanto, este curto período foi imprimindo nos discípulos um estilo de vida próprio, de modo que somente estando com o Mestre é que encontravam sentido para suas vidas.  Agora são desafiados a ver e conviver com o Mestre de forma diferente. Eles não ficarão órfãos, mas o Mestre não estará mais presente como antes.
           Humanamente falando, toda despedida é uma perda e causa dor. Quem nunca viveu uma situação assim? A “Hora” de Jesus estava chegando. Trata-se de um tempo decisivo - que compreende a paixão, a morte e ressurreição - através do qual o Filho glorificará o Pai e completará sua missão. Prevendo o impacto que esta “Hora” causaria na vida daqueles que ele amava muito, Jesus os conforta e orienta, afirmando que após a tristeza causada pela sua ausência, viria a grande alegria da presença. A situação é comparada ao momento em que uma mulher está para dar à luz: ela chora, sente dor, mas depois sente uma grande alegria por ter gerado um ser humano para o mundo. A tarefa dos discípulos, portanto, é não deixar que a tristeza determine os próximos passos, pois ela é apenas uma preparação para o tempo da alegria que virá. Se assim não fosse, teria sido em vão deixar tudo para seguir o Mestre.
          O tempo é precioso para Jesus e deve ser também para nós. Não estamos falando precisamente de kronos (quantidade de tempo), mas de kairós, enquanto tempo oportuno, qualidade do tempo. Esta é a compreensão do evangelho de Joao sobre o tempo, que está bem próxima da compreensão africana. Em muitas comunidades da África compreende-se o tempo no sentido religioso, do nascimento até a morte. O mais importante não é o tempo em si, mas o evento que se celebra em determinado tempo (cf. African Bible, 1874). Cada momento da vida deve ser vivido com intensidade, pois é sempre uma nova oportunidade de crescimento pessoal e de discernimento dos apelos de Deus. Trata-se de um tempo que se chama hoje, através do qual estamos sendo amados, chamados, visitados. O Deus que vem ao nosso encontro quer ser reconhecido e acolhido. Sem o esforço da abertura é impossível a alegria do encontro.

Pe. Degaaxé

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