terça-feira, 21 de junho de 2011

A FECUNDIDADE DO CASAL HUMANO À LUZ DA BÍBLIA E DO MAGISTÉRIO DA IGREJA

Quero iniciar a partir da Gaudium Spes, 48, um dos documentos do Concílio Vaticano II, que refletindo sobre a missão do casal humano, pelo sacramento do matrimônio, nos faz atentar para a finalidade unitiva e procriativa. Assim se diz o texto: “Por sua própria natureza à instituição matrimonial e o amor conjugal estão ordenados para a procriação e educação da prole, sua coroa... O homem e a mulher pela aliança conjugal já não são dois, mas uma só carne, prestam-se serviço e ajuda um ao outro pela íntima união de suas pessoas e atividades. Esta íntima união, enquanto dom recíproco de duas pessoas, como também o bem dos filhos, exigem uma total fidelidade e requer a indissolubilidade da sua união.

O consentimento matrimonial, como nos diz o Código de Direito Canônico, é o ato da vontade em que um homem e uma mulher, por aliança irrevogável, se entregam e se recebem para constituírem o matrimônio (Cân. 1057, 2) e traz como objetivo a entrega mútua de um homem e de uma mulher para constituírem o matrimônio. A partir daí, nasce esta instituição confirmada pela lei divina, como complementa o próprio Catecismo da Igreja Católica: “O consentimento pelo qual os esposos se entregam e se acolhem mutuamente é selada pelo próprio Deus... A aliança dos esposos é integrada na aliança de Deus com os seres humanos: O autêntico amor conjugal é assumido no amor divino”.

Na verdade, por manifestar o amor divino, o que fazem, na doação mútua, é sagrado, pois é ordem do Criador. Está nos planos de Deus. É o que podemos contemplar em Gn 1, 1-2, 3. O presente texto diz que após ter criado a natureza e os animais de toda espécie, Deus criou o homem e a mulher, à sua imagem e semelhança; abençoando-lhes e dando uma ordem: “crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a...” (27-28) Percebemos que Deus pensou com carinho esta realidade, confiando uma nobre e dupla missão aos dois. E esta vida a dois de fato só se realiza quando houver comunhão interpessoal e comunição real de vida. Para tanto os esposos devem respeitar um no outro a igualdade e a dignidade de pessoa humana, encarando-se frente a frente como auxiliares mútuos, jamais transformando uma das partes como escravo ou ser inferior. Uma vez que foram criados um para com outro, o amor que os une  e os complementa será uno, indissolúvel e total até a morte. Os diversos bens e fins, que brotam deste compromisso é de máxima importância, quer para todo o gênero humano, quer para o beneficio pessoal, quer enfim para dignidade, estabilidade, paz e prosperidade da família humana. E sobre a íntima união entre o homem e a mulher, pela aliança conjugal, através da qual já não são dois, mas uma só carne, comenta o Pe. Olavo Moesh: “há uma misteriosa atração mútua entre homem e mulher para se unirem e formarem uma comunidade real de vida”.

Conclui-se, portanto, que a finalidade do matrimônio é a união íntima dos esposos, tendo em vista também os filhos, seu resultado, fruto e realização. É por isso que se diz: “deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua esposa e os dois serão uma só carne”. Uma só carne não se refere apenas a relação sexual genital, mas uma união mais ampla de corpo, sentimento, espírito... Devem formar de fato uma comunidade real de vida e de amor. Daí a importância de que o ato conjugal aconteça de modo humano, pois enquanto não acontece desta forma , seguindo o que é de desejo do Criador, ao constituir um para o outro, o matrimônio não será válido e, consequentemente não acontecerá a plena comunhão de vida. O matrimônio no plano de Deus deve ser uno, indissolúvel e total.

O amor conjugal comporta uma totalidade, na qual entram todos os componentes da pessoa; dirige-se a uma unidade profundamente pessoal, aquela que, para além da união numa só carne, não conduz senão a um só coração e a uma só alma; ele exige a indissolubilidade e a fidelidade da doação recíproca definitiva e abre-se à fecundidade (cf. Catecismo 1643). O amor dos esposos exige, pos sua própria natureza, a unidade e a indissolubilidade de sua comunidade de pessoas que engloba toda a sua vida, de modo que já não são dois, mas uma só carne (Mt 19,6). Eles são chamados a crescer continuamente nesta comunhão através da fidelidade cotidiana à promessa matrimonial do recíproco dom total. Esta comunhão humana é confirmada, purificada e arrematada pela comunhão em Jesus Cristo, concedida pelo sacramento do matrimônio. A Carta Encíclica Humanae Vitae, ao falar deste assunto, afirma que é preciso que o amor seja total, plenamente humano e livre. Quando se é aberto aos filhos é aberto a vida. E enquanto a vida não é possível (devido a casos de esterilidade) nem por isso a vida conjugal perde o seu valor. O dinamismo do amor conjugal é o que torna os cônjuges fecundos.

Quando se faz referência à Procriação e educação da prole, como coroamento da instituição matrimonial e do amor conjugal, percebe-se que há um prolongamento do ser humano, como pai e mãe, para além da história. Há um sentimento de eternidade. Procriando o ser humano participa do poder de Deus. Como em Deus, a criação é um transbordamento de si mesmo, a procriação é transbordamento da riqueza interior do homem e da mulher. Quer dizer que não basta a união conjugal, é preciso formar a família.

Na ordem da Redenção e da Graça, Cristo abençoou copiosamente este amor à imagem da sua relação com Igreja. E assim como Deus vem ao encontro do seu povo, numa aliança de amor e fidelidade, Cristo, Salvador dos seres humanos e esposo da Igreja, vem ao encontro dos esposos com o sacramento do matrimônio. E não só vem ao encontro como permanece com eles. Neste sentido, a Familiaris Consortio, 56 vai dizer que “o dom de Jesus Cristo não se esgota na celebração do matrimônio, mas acompanha os cônjuges ao longo de toda a sua existência”, manifestando sua fidelidade e assim como ele amou a Igreja e se entregou por ela, motiva os esposos a darem-se um ao outro a se amarem com perpétua fidelidade. Este é um sacramento especial, pois consagra os esposos, ajudando-os e fortalecendo-os em sua sublime missão de pai e mãe, para que avancem sempre mais na própria perfeição e mútua santificação.



Modjumbá axé!

Pe. Degaaxé

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