terça-feira, 21 de junho de 2011

ECUMENISMO: RECONHECENDO A DIFERENÇA COMO UMA GRANDE RIQUEZA

"(...) É mister que os católicos reconheçam, com alegria, e estimem os bens verdadeiramente cristãos, oriundos de um patrimônio comum, que se encontram entre os irmãos separados de nós. É justo e salutar reconhecer as riquezas de Cristo e as obras de virtude na vida dos que testemunham em favor de Cristo, às vezes até à efusão de sangue: Deus é sempre admirável e digno de admiração em suas obras" (UR 4/772).

 As diversas iniciativas, no campo ecumênico, empreendidas pelas igrejas cristãs, têm sido fruto de um desejo intenso de comunhão. É impressionante o esforço incansável de aproximação, compreensão e diálogo, existentes nas diversas organizações dos que confessam a mesma fé em todo o mundo. Como vimos acima, é no reconhecimento mútuo do que Deus realiza em cada uma das partes que acontece a comunhão. Tudo isso nos faz perceber a dinâmica do Espírito Santo, para o qual não existem fronteiras que não possam ser derrubadas. Em meio a tantas diversidades, ele vem suscitando a unidade. Este Espírito de Comunhão tem realizado maravilhas, ao longo da história, principalmente no que se refere à própria concepção ecumênica, em que cada uma das partes envolvidas armava-se com muitos argumentos para defender a sua verdade sobre Jesus, criticando os outros, considerando-se donos da verdade, fixando-se mais em suas diferenças, naquilo que causava ainda mais divisão. Houve-se uma abertura maior para a ação do Espírito de sorte que passaram a perceber que o caminho não era aquele, mudou-se a postura e o diálogo passou a nortear as discussões. Percebeu-se que a diferença de cada um pode ser riqueza para o outro; é preciso caminhar e juntos buscar o que é fator de comunhão.

O discurso sobre a busca de unidade, infelizmente foi mal compreendido tanto por parte de algumas lideranças como por parte de outros fiéis. Longe de ser uniformidade ou anulação das diferenças individuais, trata-se de acolher o diferente, respeitando-o no seu modo de ser e refletir, descobrindo sempre mais o que causa aproximação. Esta busca não impede que se pense diferente, mas empurra, ambas as partes à verdade que os une. Quando Jesus diz que é a verdade e quem é da verdade ouve a sua voz, não se refere a ritos, fórmulas ou modos de fazer as coisas, características acidentais. Ele chama a atenção para o que é essencial: a verdade que Ele é. Uma cristologia que parte de Jesus como parâmetro da verdade é uma cristologia que fomenta a unidade. Esta é referência comum a todos. E como a verdade é Jesus, a busca de conhecê-la sempre mais só pode levar-nos a engajarmo-nos no diálogo ecumênico. Recusá-lo conscientemente seria um ato de irresponsabilidade, pecado ou ir contra àquilo que reconhecemos ser correto.

O caminho de aproximação foi iniciado, o passo caracterizado pela fraterna superação das divisões entre as diferentes Igrejas cristãs, já foi dado. O que resta agora é que todos contribuam para vencer as dificuldades, que impedem o avanço ecumênico. O Espírito agiu, fez com que diminuíssemos as tensões; agora temos a grande responsabilidade de ser fiéis à verdade e à justiça enquanto buscamos superar as divergências e trabalhar em conjunto. Sabemos também que o caminho ecumênico tem que ser trilhado com caridade, humildade, prudência, boa formação e amor ao Cristianismo. O Papa, em sua carta sobre a unidade dos cristãos, diz que ‘a divisão contradiz abertamente a vontade de Cristo, e é escândalo para o mundo, como também prejudica a santíssima causa da pregação do evangelho a toda criatura’ (UUS 6). De fato, a grande vítima tem sido a evangelização, pois é difícil acreditar quando os que pregam o evangelho se comportam como inimigos. É claro que não dá para generalizar, mas se ainda há impasses no entendimento, é por que algumas lideranças das diferentes partes se fecham, acompanhando o processo com um certo indiferentismo a respeito da riqueza que esta novidade pode trazer. Muitos estão com o receio de ficar menos católico, menos protestante, etc. A verdade é que deixamos de pensar como Jesus, que se preocupava com os que precisavam crer a partir do testemunho de união das comunidades cristãs. Esquecemos de que precisamos, como cristãos, estar unidos para que o mundo creia.

Não é conveniente continuarmos chocando as pessoas com um Jesus dividido, um Jesus que só serve para um grupo e não serve para outro. Está mais do que na hora de sermos evangelhos vivos, colocarmos no centro de nossas buscas e aspirações, a pessoa e a proposta de Jesus Cristo. A atitude de Jesus diante do diferente era de escuta e de acolhida; precisamos reaprender dele. Se de fato somos cristãos e acreditamos na possibilidade de unidade rezada por Cristo, realizaremos o que diz Santo Agostinho: "nas coisas essenciais, a unidade; nas coisas duvidosas, a liberdade; em tudo, a caridade". Esta expressão é retomada pelo Concílio Vaticano II, que a propõe como compromisso aos católicos e cristãos de todo o mundo: "Resguardando a unidade nas coisas necessárias, todos na Igreja, segundo o múnus dado a cada um, conservem a devida liberdade, tanto nas várias formas de vida espiritual e de disciplina, quanto na diversidade de ritos litúrgicos, e até mesmo na elaboração teológica da verdade revelada. Mas em tudo cultivem a caridade. Agindo assim, manifestarão, sempre mais plenamente, a verdadeira catolicidade e apostolicidade" (UR 4/771).

                                                                                                                               Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé


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