É de fundamental importância, no início desta nossa reflexão, recordarmos o significado de espiritualidade para depois vermos sua implicação hoje.
Compreende-se por espiritualidade a vivência da fé, a atitude que serve de base à vida. Segundo alguns dicionários, significa qualidade do espiritual, ou doutrina espiritual, piedade real de uma pessoa. Trata-se na verdade, "toda uma vida conscientemente vivida".
2- E a Espiritualidade cristã?
A espiritualidade cristã trata-se de uma vida realizada no Espírito, tendo como novidade a boa-nova de Jesus. É a existência realizada segundo o Espírito que agiu e modelou a existência histórica do Messias. O mesmo Espírito que agiu em Maria para o nascimento de Jesus, que o motivou em sua atividade messiânica, que lhe deu força no difícil momento do seu martírio, que o ressuscitou dos mortos e que uniu em comunidade os primeiros cristãos.
a) A urgência de uma renovada espiritualidade
Vivemos uma nova realidade, ‘uma mudança de época’, que clama por um jeito novo de viver a espiritualidade, uma espiritualidade em que a mensagem do Reino e atuação de Jesus são centrais. "Sentimos o desejo de renovar nossas vidas, como Nicodemos que, ao procurar Jesus na madrugada, recebeu dele o convite a nascer de novo, pelo Espírito (Jo 3, 1-8)" (Fr. Beto). Este nascer é radicado na oração que o próprio Jesus ensina e que tem, neste nosso tempo, um significado todo especial, por trazer a mensagem que inaugura um novo Reino: compromisso fraterno, perdão, tolerância e solidariedade, de um modelar a vida com o jeito de ser de Deus para que a libertação dos males que afligem a pessoa esteja garantida.
Somos convidados a entrar num clima de encontro mais pessoal e profundo com o Salvador e com toda a sua obra redentora, colhendo os frutos de uma verdadeira renovação espiritual e transformação interior, o que nos leva a estar atentos aos sinais dos tempos, através de um testemunho mais profético, missionário.
Esta Espiritualidade visa a atualização da aliança de Deus com o seu povo, realizada outrora e que é renovada continuamente nos passos que damos, na disposição de fazer sua vontade, recuperando o seu verdadeiro lugar na história, como Alguém muito presente na vida de seus filhos e filhas, fazendo acontecer o seu reinado, no qual a vida se torna uma grande festa. Assim, como cristãos e cristãs, somos convidados a tomar algumas atitudes:
- viver o sentido comunitário da fé dentro da comunidade-Igreja;
- sentir-se Igreja como comunidade fundada por Jesus Cristo, que se manifesta em comunhão, povo de Deus e Corpo de Cristo;
- criar um clima de purificação e reconhecimento de que somos limitados e pecadores e que assim contribuimos com os inúmeros pecados estruturais;
- viver um novo ardor missionário que nos leve a contagiar com nossa fé as realidades onde nos encontramos;
- diante de uma sociedade que escraviza, com sua visão materialista das pessoas e das coisas, precisa-se viver a espiritualidade do Êxodo, precisa sair: criar novas formas de pensar, viver, comportar-se, relacionar-se e até de se inserir. Uma espiritualidade de propostas e não apenas de respostas, que fale ao mundo de hoje, questione os seus modelos e que apresente modalidades mais sublimes de vida humana e cristã;
c) Uma espiritualidade libertadora e reconciliadora
A graça de Deus, agindo no mundo, nas pessoas, oferece a possibilidade de libertação da pessoa dos seus pecados e dos oprimidos na história, convidando à partilha e à solidariedade mútuas, sendo, portanto, uma espiritualidade de libertação. Em outras palavras, o que Deus faz conosco - não só perdoando, mas orientando nossa vida para aquilo que de fato vale a pena - nós devemos fazer uns aos outros, solidariamente. Como nos lembra o Pai Nosso: "perdoa as nossas dívidas assim como nós já perdoamos aos que nos devem" (Mt 6, 12).
Concluamos com alguns pontos propostos pelo Pe. Antoniazzi na vivência da espiritualidade hoje:
1- realizar uma solidariedade indulgente, de amor fraterno que ajuda a devolver a vida ao irmão;
2- buscar a reconciliação de pessoas, famílias, grupos (talvez povos), cuja divergências, vinganças e ofensas recíprocas estão arraigadas;
3- ajudar a devolver a esperança àqueles que estão desorientados ou perdidos;
4- contribuir para o diálogo e a reconciliação entre e no meio das próprias comunidades cristãs. Promovê-lo também entre as religiões.
Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé
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