quarta-feira, 20 de julho de 2022

VIVAMOS AQUILO QUE REZAMOS!

 

Reflexão a partir de Lc 11, 1-13




 

    Depois de ter dito na última vez qual deve ser a prioridade de nossa vida, falando justamente da escuta da sua palavra, desta vez Jesus nos ensina como rezar e por que rezar. Queremos, portanto, refletir sobre o grande valor da oração do Senhor, ou seja, o "Pai Nosso" e sobre os compromissos que somos convidados a assumir a partir desta oração. Como síntese dos ensinamentos de Jesus, esta oração revela a identidade cristã e quando a rezamos, afirmamos que somos uma unidade e membros de uma unica família, a família dos filhos e filhas de Deus.

    Por meio da oração, Jesus dá a seus discípulos um importante exemplo de vida, pois rezar era sua atitude diária. Nesta conversa de coração pra coração, Jesus chama Deus de “Aba” vivendo um relacionamento profundo e intimo com ele, assim como uma criança com seu pai. Portanto, orar é viver um relacionamento com Deus como entre pai e filho/a. Quando rezamos, sentimos Deus muito perto de nós. A oração abre nossos corações para reconhecer e acolher os seus dons. Se não rezamos, nossa fé enfraquece. Embora os discípulos de Jesus conhecessem muitas orações da religião deles, o espírito deles precisava de algo mais, ou seja, mais intimidade. Isso eles descobriram quando viram o Mestre rezando. Então um deles lhe pediu: “Ensina-nos a rezar!”

    Quando Jesus ensinou seus discípulos a orar, confiou-lhes as palavras que brotavam de seu relacionamento com o Pai e os lembrou da necessidade de ter uma atitude justa diante deste Pai bom, ou seja, uma atitude de filho que se dirige ao Pai com confiança. Se trata de uma atitude de abandono nas mãos dAquele que conhece as necessidades dos seus filhos e filhas antes que lhe peçam alguma coisa. Jesus não precisava rezar porque Ele é Deus e o próprio Pai está Nele; no entanto, ele rezou muito. Para ele, a pessoa deve rezar não apenas quando precisa, mas porque isso é parte integrante de sua vida, como comer, beber água ou respirar. 

    A primeira parte desta oração reconhece a paternidade de Deus, que se manifesta pelo seu cuidado e bondade; e nos convida a glorificar o seu nome, isto é: “Pai nosso... santificado seja o teu nome!” Todas as coisas que vêm depois desta expressão – “Pai nosso” - dependem dela. Glorificar o nome de Deus é dar a Deus o espaço que ele meceçe na nossa vida, fazendo sua vontade como Jesus fez, principalmente quando disse: “Meu alimento é fazer a vontade de meu Pai”. È necessario fazer a sua vontade para que o seu reino se realize na terra como no céu.

    Devemos recorrer ao Pai com fé, não apenas para pedir algo, mas com a consciência de que recebemos muito. Como diz a propria Escritura: “De sua bondade recebemos graça sobre graça”. Este testemunho é a prova do cuidado amoroso de Deus em partilhar os seus dons com os seus filhos, esperando que façamos o mesmo pelos outros para que a nossa fraternidade seja expressão da sua paternidade. Também é importante ser persistente e esperar o tempo de Deus.

    Quando rezamos o Pai Nosso, mostramos que consideramos não apenas nas nossas necessidades, mas também as dos demais. O Pai Nosso nos ensina a pedir o “pão de cada dia”. Isso nos lembra nosso empenho na luta contra todo tipo de acúmulo e desperdício de alimentos, que ofende a fraternidade, fazendo sofrer os mais necessitados. Papa Francesco afirma assim: “O consumismo nos levou a usar o supérfluo além do desperdício da comida diária ... Lembremos que a comida que jogamos no lixo é como se a tivéssemos roubado da mesa dos pobres e famintos”.

    Para São João Calábria, a oração do Pai Nosso “é o Evangelho em poucas palavras. Todos os problemas devem ser pensados ​​e estudados em harmonia com a paternidade de Deus”. Se dizemos “Pai Nosso” é porque estamos convencidos de que somos irmãos de muitos outros. Deus não discrimina e não esquece nenhum de seus filhos. “Quando um grupo religioso começa a pensar e agir como se Deus fosse so pra eles e não com outras pessoas, está personalizando Deus”. Tal oração não pode agradá-lo porque exclui os demais irmãos e irmãs.

    Em nossa oração, nem sempre recebemos o que pedimos. Por que razão? Talvez ainda não rezamos direito. São Gerônimo nos aconselha: “É certo que Deus dá a quem pede, que quem procura encontra e quem chama se abre pra ele; é claro que quem não recebeu, quem não encontrou ou mesmo não se abriu para ele, é porque não pediu bem, não procurou bem e não bateu bem à porta”. A última parte desta passagem do evangelho “mostra o que pedir e o que nos será dado, ou seja, o Espírito Santo". É o grande dom que o Pai nos dá. É somente no Espírito que podemos rezar como convém a Deus. Este Espírito nos assegura que “a verdadeira oração não força Deus a mudar seus planos para fazer a nossa vontade”.

    Portanto, Deus nem sempre nos dá o que pedimos a ele, mas sempre nos dá o que precisamos, de acordo com sua vontade. Assim, além de ser uma forma de rezar, o Pai Nosso é também um modo de viver, um estilo de vida. Enquanto rezamos renovamos o nosso compromisso com a fraternidade, vivendo-a a partir da experiência da paternidade de Deus. Isso implica uma atitude correta em relação a ele, ou seja, ter uma atitude de filhos, porque “quem não vive como filho não aprende a ser irmão”. Que o Espírito nos ajude a viver as palavras que dizemos quando rezamos “Pai Nosso”.


Fr Ndega

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