sábado, 15 de junho de 2013

EU NÃO POSSO VIVER COMO SE AS OUTRAS PESSOAS NÃO EXISTISSEM


Uma reflexão a partir de Mt 5, 20-26

Mateus apresenta Jesus como o “Novo Moisés” e tudo o que se refere a Cristo traz a marca da novidade: o Monte das Bem-aventuranças é o novo Monte Sinai; as Bem-aventuranças são o novo Discurso sobre os Mandamentos; a fraternidade é a nova justiça, que supera a justiça dos escribas e fariseus; seu corpo é o novo templo. No discurso de Jesus não há uma ruptura com o que pensavam os antigos, mas uma continuidade, interpretando de um jeito novo o verdadeiro sentido do que foi dito. O objetivo de Jesus é resgatar o plano original de Deus. Até o aparecimento de Jesus, a experiência reveladora como “palavra de Deus” estava relacionada aos escritos do Antigo Testamento. Todas as atenções se voltavam para estes, consagrados como norma de vida. Com Jesus, as coisas começam a mudar. Os primeiros cristãos podem até fazer referência aos escritos antigos, mas são os ensinamentos de Jesus que, posteriormente, se tornam norma até mesmo para o próprio Antigo Testamento.
Mesmo que Jesus tenha autoridade para falar, cumprindo plenamente o que foi revelado antes, ele não despreza os escritos da Antiga Aliança; pelo contrário, incentiva o seu apreço e cumprimento (Mt 5, 17-20). Mas a dureza dos corações e as interpretações arbitrárias da Lei original levam Jesus a afirmar: “Eu, porém, vos digo...” A partir de então vale a explicação que ele dá sobre o que foi dito. Em Mateus, justiça significa vontade de Deus. E a vontade de Deus é que as pessoas sejam generosas, indo além do que foi estabelecido por lei, quanto à caridade e reconciliação. Aos poucos os discípulos de Jesus foram percebendo que o desejo de Jesus era estabelecer um novo relacionamento com Deus e com os demais. O referencial para isso não podia ser a justiça humana - tão limitada e, às vezes, tão injusta em seus critérios – mas a justiça divina, baseada no amor e a misericórdia.
Em Jesus tudo se torna novo e, para manifestar esta novidade ao mundo, os novos discípulos e discípulas de Jesus precisam mais de fraternidade do que de espaços físicos suntuosos. O verdadeiro culto a Deus acontece na relação com os demais. Eu não posso viver como se as outras pessoas não existissem. É necessário ficarmos vigilantes, pois talvez, estamos sendo homicidas e não percebemos. Nesse contexto, eu não preciso pegar uma arma para matar a outra pessoa. Posso matá-la através do relacionamento com ela. A raiva que temos para com alguém é um verdadeiro homicídio. O desprezo é o começo. As fofocas contra alguém tiram a sua dignidade. Não é possível nos relacionarmos bem com Deus enquanto não nos reconciliamos com quem nós ofendemos ou nos ofenderam. A falta de reconciliação entre os membros vai pouco a pouco decretando a morte da comunidade. Eu não devo esperar que a outra pessoa venha reconciliar-se comigo; sou eu que devo tomar a iniciativa. Eu não escolho as pessoas com as quais devo conviver; simplesmente as recebo como dons da graça de Deus. A ternura, a correção fraterna e a reconciliação são condições básicas que as pessoas esperam de mim para não terem de ir buscar fora o que não encontram dentro da comunidade.  

 Pe. Degaaxé

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