terça-feira, 13 de novembro de 2012

UMBANDA: A MAIS BRASILEIRA DAS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA


        Como vimos, no artigo anterior, Os povos bantu trazidos ao Brasil, tiveram maior influência na região sudeste e, em particular, no Rio de Janeiro e São Paulo. Ali introduziram a religião de nome cabula. Com o passar do tempo, estes grupos de cabula passam a se chamar macumba. “Paulatinamente, mas de forma segura, a tradição yorubá começa a influenciar os grupos de macumba. E, assim, os espíritos bantos foram aos poucos sendo substituídos pelos Orixás yorubá(BERKENBROCK, p. 149).
       Como, nesta região, o catolicismo popular crescia também com expressividade, ao lado da pajelança e do espiritismo kardecista - que estava se introduzindo entre nós - os contatos se fizeram, os sincretismos foram acontecendo e daí, o que vinha de riqueza do candomblé, catolicismo popular, espiritismo, pajelança e base bantu, vai dar origem a uma nova religião. Depois de tantas influências, adaptações e substituições, não convinha mais chamar de macumba, cuja palavra já soava como ‘coisa primitiva’ e até tornou-se pejorativa. Diante de três alternativas propostas – quimbanda, embanda e umbanda - prevalece quimbanda e umbanda para designar a maior síntese de religiosidades acontecida no Brasil. Estas palavras provêm da língua quimbundo, da Angola: umbanda significa ‘arte de curar’, enquanto quimbanda significa ‘médico’ ou ‘curandeiro’. É bom lembrar que não são somente palavras diferentes, mas são duas correntes bem diferentes dentro dum mesmo movimento religioso. Esta distinção nos é oferecida sinteticamente por R. Cintra, quando afirma que: “Só mais recentemente é que se fez a distinção entre umbanda, culto para homenagear os Orixás ou entidades e praticar despachos benéficos e quimbanda, culto de Exu” (CINTRA, p. 77).
       Em sua doutrina, a umbanda parte de um credo comum[1], entendendo-se como religião monoteísta e cultivando a fé num Ser supremo. A função deste é assumida pela Trindade Superior ou Trindade Divina: Obatalá, Oxalá e Ifá. Esvaziados do seu significado, assim são identificados: Obatalá como Deus-Pai, Oxalá com Jesus Cristo e Ifá com o Espírito Santo. Retrata uma influência católica, mas não há uma relação de comunhão entre eles, como ensina a doutrina católica. Cada um é visto de forma isolada. Há também a crença na existência de entidades e espíritos, aos quais pertencem os Orixás da tradição yorubá, os santos da Igreja Católica - também em sua identificação com os Orixás - os inúmeros espíritos da tradição bantu, espíritos de mortos, de africanos, de indígenas, de antigos escravos, de crianças, de falecidos em outros continentes. Outra característica muito forte na Umbanda é a crença na possibilidade de contatos entre espíritos e pessoas, dos quais depende a vida. O médium é a pessoa que tem e desenvolveu a capacidade para executar esta tarefa. Os espíritos, embora sejam imortais, precisam passar por um processo evolutivo. Por isso creem também no desenvolvimento do espírito e na reencarnação. Quanto à classificação, há espíritos que já alcançaram a perfeição, neste caso, os santos católicos, os Orixás, os pretos-velhos e os caboclos. Outros necessitarão de sucessivas reencarnações (cf. BERKENBROCK, p. 157).

Axé!
Pe. Degaaxé


[1] Assim reza o credo umbandista: “Creio em Deus, Onipotente e Supremo; Creio nos Orixás e nos Espíritos Divinos que nos trouxeram para a Vida por Vontade de Deus. Creio nas Falanges Espirituais, orientando os Homens na vida terrena; Creio na reencarnação das almas e na Justiça Divina, segundo a Lei do Retorno; Creio na comunicação dos Guias Espirituais, encaminhando-nos para a Caridade e a prática do Bem; Creio na invocação, na Prece e na Oferenda, como atos de fé e Creio na Umbanda, como religião redentora, capaz de nos levar pelo caminho da evolução até o nosso Pai Oxalá” (GUIMARÃES, Edyr Rosa; LIMA, Almir S. M., p. 61).

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