quarta-feira, 26 de outubro de 2011

SÓ O AMOR PRODUZ COMUNHÃO

Para compreensão deste artigo, sugiro a leitura do artigo anterior com o qual iniciamos uma reflexão sobre o teólogo P. A. Florenskij. Natural da Rússia e que fala com paixão sobre a realidade eclesial, incentivando a todos os cristãos a investirem o máximo de si em vista de recuperar a unidade desejada por Cristo ao rezar ao Pai: Ut unum sint (Que todos sejam um).
O autor P. Florenskij, ao nos fazer refletir sobre a vida ecumênica da Igreja, chama a atenção para o que ela é em sua originalidade e profundidade, enquanto querida por Cristo e chamada a testemunhar a verdade de Deus amor. “Esta verdade é o centro de sua mensagem e deve iluminar a vida de cada cristão”[1]. Em sua reflexão, Florenskij  fala a partir da Igreja Ortodoxa, mas amplia para o Cristianismo de um modo geral, o qual está passando por uma crise eminente[2] e que esta crise estaria ligada ao fato de que seus membros, nas inúmeras confissões, tenham perdido de vista o essencial, passando a preocupar-se mais com posições e interesses particulares. Ao comentar Florenskij, o professor Lubomir Zak recorda que é preciso resgatar o que é essencial e que é razão de ser da Igreja: “La Consustanzialità della Chiesa (...) è una dinamica rivelativa del mistero dela vita trinitaria di Dio”[3]. Este Deus não é somente um que ama, mas é amor. O amor constitui a essência, a sua identidade. Reforçando esta idéia, assim reflete o autor Luis Carlos Susin: “Deus não existe para depois amar: ele existe porque é amor. E Deus é Trindade porque é amor”[4].
Deus, em seu mistério trinitário, portanto, é o fundamento para que a Igreja alcance a plena comunhão tão desejada. Deus é amor e só o amor produz comunhão, porque é capaz de sacrificar-se pelo outro. Florenskij fala deste mistério, referindo-se às recíprocas kenosis eterna, ao auto-esvaziamento, em não querer ser antes do outro, mas na recíproca glorificação. Reciprocamente se elevam e diz um para o outro: tu és[5]. “Florenskij è convinto che la SS.ma Trinità sia la vera patria dell’amicizia”[6]. E a verdadeira amizade é resultado de um processo kenótico, ao mesmo tempo que conduz a ele. A nível de realidade eclesial, isto é bem enfatizado por Florenskij, segundo Lubomir Zak: “Il concetto florenskijano di amicizia è um sinônimo della kenosi ecclesiale”[7]. A partir daí se pode dizer, sem fingimento, ‘você é meu irmão’ e ‘você é minha irmã’, entrando assim, no espaço de uma verdadeira amizade. Esse deve ser o primeiro testemunho para que as pessoas creiam no Deus revelado por Jesus Cristo, pois se existe uma coisa que especifica o cristão é a reciprocidade do amor, a amizade (Jo 13, 35). Nesta reciprocidade, é explicitado concretamente o amor de Deus pela humanidade. Todos os cristãos são convidados a este movimento.  

Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé


[1] Lubomir Zak, ao comentar a encíclica do atual papa Bento XVI, em conferência proferida na PUCRS, Porto Alegre, no dia 02 de setembro de 2011.
[2] P. A. FLORENSKIJ. Cristianismo e cultura. p. 4.
[3] L. ZAK, Kenosi di Cristo e mistero della chiesa, p. 18.
[4] L. C. SUSIN. Deus: Pai, FIlho e Espírito Santo. p. 58)
[5] “A palavra kenosis como máxima expressão do amor, dá uma resposta à realidade atual. Não ter medo de sair de si e entrar no outro. O amor vai e volta ao mesmo tempo; isso é de Deus” (afirmações do prof. Lubomir Zak, durante aulas para a turma de mestrado de teologia da Faculdade de Teologia da PUCRS).
[6] L. ZAK. Op. Cit., p. 21.
[7] Id., Ibid., p. 19.

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