sexta-feira, 28 de outubro de 2011

IDENTIFICANDO AS CAUSAS DA DIVISÃO ENTRE OS CRISTÃOS

Neste terceiro artigo sobre o autor teólogo Florenskij, somos levados a identificar as causas da divisão dos cristãos. Em seu texto, intitulado Cristianismo e cultura, Florenskij fala, entre outros aspectos, sobre esta tão dolorosa e escandalosa situação. Como não se pode analisar de forma superficial, o nosso autor vai a fundo no problema, manifestando bastante segurança naquilo que diz e identificando inquietantes causas:
"Se os cristãos de uma confissão cressem na sinceridade da orientação para Cristo dos cristãos das outras confissões, é verossímil que não haveria divisões entre eles, sem que isso, todavia, implique uma eliminação das diversidades (...) Se os cristãos estão divididos e em luta entre si é, sim, porque colocam em dúvida a autenticidade das respectivas orientações (...) O mundo cristão está saturado de recíproca desconfiança, de sentimentos malévolos e de hostilidade"[1]
Segundo o nosso autor, existe uma situação de hostilidade, falta estima e confiança entre as pessoas que professam a mesma fé. Esta situação é razão de escândalos, dificultando a fé dos que são ‘de fora’. O que se experimenta, na verdade, é uma realidade totalmente contrária ao que se dizia das primeiras comunidades cristãs que eram “um só coração e uma só alma” (At 4, 32). Isso não significa que não tinham dificuldades, mas não permitiam que estas ofuscassem o amor entre eles. Para Florenskij, o que mais dificulta o testemunho de unidade cristão é o fato de que a fé está corrompida em seus alicerces por faltar coragem e honestidade em reconhecer isso[2]. Sobre esta realidade, ele parece ser ainda mais incisivo, indo à raiz do problema: “É mister reconhecer que a verdadeira causa da divisão que atinge o mundo cristão não são as diferenças de doutrina, de rito ou de estrutura eclesial, mas  a profunda e recíproca difidência nos fundamentos, isto é, na fé em Cristo Filho de Deus que se fez carne”[3].
A esta situação salientada pelo nosso autor, juntam-se as dificuldades da própria caminhada ecumênica, em que setores cristãos armavam-se com muitos argumentos para defenderem sua verdade sobre Jesus, criticando os outros, considerando-se donos da verdade, fixando-se mais em suas diferenças, naquilo que causava ainda mais divisão. Uma realidade que a encíclica Ut unum sint retrata muito bem: “Os cristãos não podem ignorar o peso das atávicas incompreensões que herdaram do passado, dos equívocos e preconceitos de uns relativamente aos outros. Não raro, depois, a inércia, a indiferença e um conhecimento recíproco insuficiente agravam tal situação” (UUS 1). Continuaremos no próximo artigo.

Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé


[1] FLORENSKIJ, P. A. Cristianismo e cultura, p. 4
[2] Id., Ibd., p. 4.
[3] Id., Ibd., p. 4

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