quarta-feira, 6 de julho de 2011

JESUS DE NAZARÉ, APROXIMAÇÃO À CRISTOLOGIA

RESENHA


CARDEDAL, Olegario Gonzalez de. Jesús de Nazaret: aproximación a la cristología. 3ª ed., Madrid: Biblioteca de autores cristãos, 1993.

             O autor Olegario Gonzalez de Cardedal doutorou-se em Teologia pela Universidade de Munique, estendido os estudos em Oxford e Washington. Tem sido por muitos anos professor da Pontifícia Universidade de Salamanca até sua aposentadoria em 2004 e é membro da Real Academia de Ciências Morais e Políticas . Ele era um colaborador de Xavier Zubiri e colega e Karl Rahner. É autor de diversas obras, entre as quais O poder e a consciencia de 1984 e a presente obra que estamos a analisar: Jesús de Nazaret. Aproximación a la cristología (1993).

 A presente obra é uma análise da cristologia entre os anos 1973 a 1993. Destaca idéias fundamentais, as preocupações recentes em cristologia, procurando descobrir seus valores e limites. Apresentando algumas tarefas que se deverão ser levadas adiante nos próximos anos. A mesma está dividida em seis capítulos. O primeiro capítulo trabalha o horizonte dos anos setenta, falando da preocupação da teologia, através de uma nova hermenêutica, que tem sido a de recuperar a figura histórica de Jesus como o que vem de Deus, se encarna no mundo e nos traz a salvação. O  segundo capítulo, fala da necessidade de distinguir o Jesus terrestre do Jesus histórico; o primeiro, que viveu e morreu, é confessado pela Igreja como Cristo e Filho de Deus, a partir da ressurreição; o segundo é construção dos investigadores, o qual não é necessário para a fé. O terceiro capítulo traz uma compreensão renovada da cristologia a partir do Novo Testamento, tendo presente a posição de alguns concílios sobre a essência da Trindade e as formas de cristologia que são convidadas a pensar Cristo como verdade da realidade, alma do sujeito e potencia da ação. O quarto capítulo fala da soteriologia ocupando o centro das atenções nestes últimos tempos, como parte integrante da obra de Cristo. Trata-se da redenção total do ser humano e do mundo. O capítulo quinto refere-se a alguns problemas fundamentais para a Cristologia que se vê desafiada a rever sua teoria tradicional e a acolher novas reflexões, com acento ao diálogo e respeito frente a outras tradições religiosas. O capítulo sexto fala de um futuro que se abre exigindo da cristologia um contato renovado com a Bíblia em abertura e diálogo com as diversas correntes messiânicas e hermenêuticas contemporâneas, assumindo o ser humano em sua totalidade.

Segundo o nosso autor, a partir do concílio Vaticano II, a preocupação da Igreja tem sido mostrar a universalidade humana do Evangelho e a transcendência histórica e não só teológica da pessoa de Jesus. A tarefa da cristologia hoje é integrar esta recuperação histórica de Jesus com a fé anterior da Igreja, fazendo convergir a humanidade com a divindade de Jesus, elaborando uma idéia de sujeito, de pessoa e de destino que nos permitam contemplar a pessoa una e única de Jesus Cristo em sua realização histórica e em seu mistério divino.

Ao diferenciar o Jesus terrestre do Jesus histórico, o nosso autor diz que o Jesus terrestre é fundamento da nossa fé que revela o projeto de Deus. É, portanto, dom de Deus e fruto da tradição da Igreja. O Jesus histórico trata-se de uma reconstrução científica da vida de Jesus, determinada pela sensibilidade de cada investigador. Sua reconstrução é artificial e não é necessário nem normativo para a fé. O Jesus que aqui ele insiste é aquele que, o anúncio do Reino de Deus, traz a grande novidade para o mundo. E a grande novidade que Jesus traz é a identificação da essência divina nas suas ações humanas. Ele revela a solidariedade vitoriosa de Deus na sua vida e morte pela humanidade, a qual entra como expressão máxima e coerência com a sua mensagem.  E, como são necessários três pólos para compreender a Jesus - Reino-Morte-Ressurreição - a nossa reflexão não pára na morte, pois se valorizamos sua palavra e ação, e se celebramos sua paixão e morte é porque ele foi reconhecido vivo e glorificado. Portanto, os três são inseparáveis e irredutíveis.

Citando alguns concílios, Cardedal nos faz pensar a realidade do Deus cristão como uma comunhão de pessoas e não solidão. E a salvação que Cristo oferece é a manifestação desta vida e comunhão intratrinitárias, reconstruindo e envolvendo toda a história humana, ferida pelo pecado. É Deus quem oferece a redenção e a reconciliação ao ser humano; oferece sua amizade e convida a uma aliança. Nestes últimos anos a cristologia tem buscado um contato renovado com a Bíblia em abertura e diálogo com as diversas correntes messiânicas e hermenêuticas contemporâneas. Faz-se necessária uma reflexão integradora da ordenação sistemática, sem deixar de lado uma cristologia espiritual que assuma o ser humano em sua totalidade, que alimente sua fé, esperança e amor a fim de que Jesus seja acolhido como Cristo e Salvador em sua vida.

Penso que não é uma tarefa fácil comentar o autor Cardedal pela riqueza que é esta sua obra. A reflexão cristológica, certamente tem neste autor um forte expoente para seu desenvolvimento. Ele não nega ser alguém muito polêmico pelas provocações que apresenta, desafiando a uma mudança de postura diante da realidade contemporânea que demanda uma cristologia que apresente Cristo sem meias medidas e muitos rodeios, mas que seja acessível, assim como foi o seu desejo.

Quero destacar ainda a reviravolta comentada pelo nosso autor a respeito da postura da Igreja depois do Concílio Vaticano II. Deixa-se de lado uma leitura tradicional, dogmática que excluía mais do que atraía e esforça-se para falar de Deus a partir de uma historia e de um homem concreto. Muito mais do que longos discursos ou complicados conceitos, esta é a boa notícia que, como Igreja, nos últimos anos, tem oferecido a um mundo sempre mais sedento de sentido. Permanece o desafio de uma intensificação das propostas do concílio para não por freios a ação livre e fecunda do Espírito.

A impressão que se tem é de que o nosso autor não tem a preocupação de que um assunto leve a outro ou de que um capítulo dependa do outro. Sua preocupação é fazer provocações. Acredito que se houvesse outra didática na apresentação da obra, seria muito mais fácil a compreensão (refiro-me ao ensejo de subitens). Os capítulos são longos e a linguagem é bastante rebuscada. Por isso a recomendo para professores e universitários que desenvolvem suas pesquisas voltadas para as novas correntes cristológicas e para o diálogo com as diferentes tradições religiosas.



Modjumbá axé!

Pe. Degaaxé


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