sexta-feira, 8 de julho de 2011

ELE É A NOSSA SALVAÇÃO

RESENHA
 

GONZÁLEZ, Carlos Ignacio. Ele é a nossa salvação. São Paulo: Loyola, 1992, 510p.


O autor Carlos Ignacio González é sacerdote jesuíta, mexicano de Nayarit e professor na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Além desta, possui outras obras: Na aurora do terceiro milênio; Maria: evangelizada e evangelizadora; Boa nova, A: Deus é Pai – meditações bíblicas.

A presente obra, de ampla temática e profundo conteúdo, nos ajuda a refletir sobre Jesus Cristo e sua missão de Salvador do mundo e Revelador do Projeto amoroso de Deus. Está dividida em quaro partes: a primeira reflete a ação poderosa de Javé que salva o seu Povo, fiel às suas promessas, preparando-o para acolher o seu Filho amado; a segunda, trata da presença de Jesus entre as pessoas, anunciando o Reino de Deus e convidando à conversão. A terceira é uma reflexão cristológica e soteriológica sobre o que a tradição antiga da Igreja oferece, desde os escritos do Novo Testamento até as cristologias clássicas. A quarta é uma retomada da reflexão da segunda e terceira partes, propondo o essencial para anunciar e viver Jesus Cristo hoje.

O testemunho das escrituras a respeito de Jesus Cristo é de que a sua identidade está intimamente ligada à sua missão salvadora. Se o conhecemos foi a partir da sua missão, assim como ensina também as sagradas escrituras. Todo o mistério de Cristo é salvífico, pois se nos revela amando. Estabelece uma relação familiar com Deus, chamando-o de Abbá, envolvendo os seus discípulos ao ensiná-los a rezar. Deste modo, atua sobre ele o Espírito Santo, enviado para santificação e consagração da sua humanidade, desde a encarnação à realização plena de sua missão em favor da humanidade.

A história da salvação é caracterizada pela promessa-cumprimento, pois Deus, em sua fidelidade à Aliança, realiza aquilo que promete. A realização destas promessas vai encontrar em Jesus a sua expressão máxima.  O centro de sua mensagem é o Reino de Deus. Ele é Javé que salva. Ele torna o Reino presente. Pelo seu modo de agir, pelos milagres e opções que faz, Jesus vai revelando também que os verdadeiros destinatários do Reino são os pobres, nas suas mais diversas feições. Jesus Cristo não só amou os pobres; a sua opção foi por uma vida de pobreza total, caracterizada pela sua entrega total ao Pai e às pessoas, cultivando uma total liberdade de coração frente a tudo o que poderia desviá-lo ou obstaculizar a sua fidelidade à missão. Neste mesmo sentido convida a todos os que desejam segui-lo para assumirem o caminho da entrega total da própria vida até a cruz. Assim, a morte de Jesus, por obra da injustiça e do pecado não é a última palavra no mundo, pois o Pai o ressuscita dentre os mortos. Nos últimos decênios, a partir do vaticano II, houve um aprofundamento maior nos aspectos salvíficos da ressurreição de Cristo.

Continuando sua reflexão, o autor diz que o anúncio de Jesus Cristo deve ter como base imprescindível a sua pessoa como Filho de Deus e de Maria, consubstancial ao Pai e igual a nós em tudo, menos no pecado. Caso se omita o anúncio, quer da divindade de Cristo, quer da sua humanidade, anula-se o seu papel de mediador entre Deus e os seres humanos. A santidade humana de Jesus manifesta-se numa plenitude e, ao mesmo tempo, num crescimento da graça; santidade que não supõe ausência da tentação, antes, pelo contrário, implica a experiência de tudo o que há de humano, por solidariedade conosco.  O conhecimento humano de Jesus Cristo - sem negar o divino - passa pela experiência real do crescimento, da ignorância de dados necessários ao cumprimento da sua missão, o que denota uma perfeição em desenvolvimento, igual ao progresso de qualquer perfeição verdadeiramente humana na situação de peregrinos. E, no entanto, resplandece por todo o Evangelho, unido ao anterior e sem negá-lo, um saber supra-humano de Jesus Cristo. Por isso podem-se distinguir nele, de forma semelhante ao que sucede com qualquer um de nós, vários níveis de conhecimento e de consciência. Níveis estes que, como em nós (analogamente), não se contrapõe nem se aniquilam mutuamente; mas operam em perfeita harmonia.

Só a partir da realidade da nossa libertação por Cristo podemos compreender o que seja verdadeiramente o pecado: uma destruição da nossa comunhão com o Pai, com a conseqüente ruptura da comunhão fraterna. Por isso, não existe pecado estritamente pessoal, que não faça sentir as suas conseqüências sociais. Pecado que, em cada tempo e lugar - e também na nossa América Latina - se exibe configurado em rostos diversificados nas suas vítimas, nas estruturas sociais e políticas, mas cujas raízes estão no coração do ser humano que se exclui do amor divino e humano. Por isso, a salvação que Jesus Cristo nos oferece como um dom e que nós devemos adquirir com a nossa cooperação é uma libertação integral, primeiro do pecado do nosso coração, mas com uma conversão ligada imediatamente à mudança de tudo aquilo que, na comunidade e na sociedade, construímos sob o signo do pecado.

Quero salientar a riqueza que é a presente obra, tanto pelo conteúdo como pela didática metodológica assumida. Impressiona o aparato bibliográfico e as reflexões profundas, que tornam mais compreensível e acessível a realidade de Jesus Cristo, no seu mistério divino e na sua identificação com a realidade humana, especialmente, ao priorizar os mais pobres no reino, amando-os e encontrado como eles. É na identificação com este projeto que surgiram as primeiras comunidades, cultivando um estilo de vida simples e despojado, conforme a realidade onde se encontravam, assim como também inúmeros discípulos em todas as épocas, em fidelidade ao Mestre, tornaram real em suas vidas e ministério o estilo simples e despojado. Cada capítulo da obra é finalizado com pistas pastorais e dicas de reflexão espiritual pessoal, com a indicação de leituras correlacionadas. Realmente, o nosso autor pensou esta obra como um manual a ser utilizado nos diversos momentos da caminhada. Acredito que o nosso autor poderia ter explorado mais a questão mariana, relacionada com a obra de Cristo e não apenas mencionar o seu nome (discretamente). Para mim, esta foi uma lacuna lamentável. Mas no seu conjunto, a obra cumpre a sua finalidade, enquanto análise profunda da Obra de Jesus Cristo, o Salvador da humanidade.

Em tempos como os nossos, precisamos de boas referências de leitura e aprofundamento dos conteúdos da fé e este é um texto que se serve muito bem neste sentido. Por isso eu o indico, não somente para professores e estudantes universitários, mas a todas as pessoas que desejam seguir Jesus de forma consistente, aprofundada e consciente, dando razões de sua fé.



Modjumbá axé!

Pe. Degaaxé

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