sábado, 14 de novembro de 2020

SERVO/A BOM/BOA E FIEL

 

Reflexão a partir de Mateus 25, 14-30




 

       O conteúdo dessa reflexão me leva a começar com a frase "Deus é bom". Ele fez tudo bem feito e decidiu compartilhar seus dons conosco fazendo-nos servos, administradores destes dons, não donos. Ele nos enche com sua graça e bondade, de acordo com o que as Escrituras dizem: "De sua bondade, recebemos graça sobre a graça". Pensemos na nossa vida. "Deus nos deu vida, e com este dom, ele nos atribuiu uma tarefa. Lembremo-lo bem: a vida é simplesmente confiada a nós, é um bem pelo qual somos pessoalmente responsáveis", não donos. Assim, por sua vontade, o propósito de nossa vida é ser fecunda desde a sua origem e essa fecundidade é expressa justamente através de nossa capacidade de compartilhar, de fazer frutificar os dons recebidos de Deus; capacidade essa dada pelo próprio Deus.

      É isso que Jesus nos faz entender com a "parábola dos talentos". Nesta narração, um homem chamou seus três servos, compartilhou seus bens com eles, e partiu para uma longa viagem. Em seu retorno, ele chamou novamente os servos para uma prestação de contas. Dos três somente dois servos participaram da alegria do senhor porque agiram de acordo com sua expectativa, enquanto o terceiro cultivando uma ideia errada do seu senhor, preferiu enterrar o talento recebido.

       Entre muitos aspectos, esta parábola fala da gratuidade de Deus que chama todos a si e nos confia os seus dons. O texto nos diz que esses dons são distribuídos em diferentes medidas chamando a atenção para a diversidade de dons das pessoas, mas também nos traz a ideia de abundância e generosidade. Não existe nenhuma reserva na oferta divina. Qualquer reserva nesse sentido vem da capacidade de cada um de receber e fazer frutificar os dons recebidos: a um, cinco talentos, a outro, dois e ao último, apenas um. A medida é definida de acordo com a capacidade de cada um. Assim, mesmo que Deus aja com gratuidade e generosidade, ele respeita a liberdade e a capacidade de acolhida de cada um. Para ele interessa a qualidade das nossas ações e não a quantidade.

      O importante não é a quantidade de dons recebidos, mas a capacidade, o entusiasmo de faze-los frutificar, ou seja, o que recebemos deve ser compartilhado não acumulado ou usado apenas para nós mesmos. Dons compartilhados geram fraternidade e servem para a glória a Deus: "Bem servo bom e fiel... vem participar da alegria do teu Senhor. Aquele que decide usar os dons recebidos apenas para si mesmo arruína a própria vida. Talvez isso se deva ao medo: medo de Deus, da novidade, da fraternidade. Referindo-se a Deus, o medo é causado pelo cultivo de falsas imagens dele; e referindo-se a novidade, é causado pela preguiça, uma expressão de uma vida medíocre que nos garante uma “zona de conforto”, fechando-nos aos demais.

     Cultivar a imagem de um Deus severo, que nos assusta, nos paralisa. "Devemos ter o conceito de um Deus que nos anima a sair de nós mesmos, que nos encoraja a viver a liberdade para o Reino." Um sinal muito claro de reconhecimento de seus dons em nossas vidas é nossa vontade de servir. Esses talentos, confiados à capacidade de todos, nos fazem lembrar do nosso chamado vocacional. Deus nos chama à vida e fortalece com sua graça nossa capacidade de crescer, de amadurecer pessoalmente, de discernir e responder ao chamado vivendo como filhos, irmãos e irmãs, seguidores de seu Filho.

     "Deus me deu vida, para que eu possa multiplicar os bens na terra, ou seja, fazer o bem, para que, através deste serviço, eu possa encontrar sentido da minha vida, e descobrir a minha vocação, isto é, o bem que Deus me dá para fazer". Esconder-se ou esconder os dons é um sinal de que não aprecio a vida o suficiente de acordo com a vontade do Doador. Se eu não enterrar minha vida na areia e tiver a audácia de fazer frutificar dons de Deus, posso nutrir a esperança de que ele me aprove, e me dê mais. Contar conosco para cuidar dos seus dons significa que Deus tem boas expectativas sobre nós. Ele quer que compartilhemos sua alegria. A fidelidade a esta tarefa é a condição para participar de sua alegria. Que possamos agir sabiamente como servos bons e fiéis.


Fr Ndega

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