sábado, 22 de abril de 2017

O SUPORTE COMUNITÁRIO NA EXPÊRIENCIA PESSOAL DE FÉ


Reflexão sobre Atos 2,42-47; 1 Pd 1,3-9; Jo 20,19-31


       Neste domingo da misericórdia somos convidados a aprender de Cristo como ser misericordioso com os outros assim como ele é conosco. No texto de Mateus ele mesmo nos assegura: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mateus 5: 7). De acordo com o Papa Francisco, “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nesta palavra a sua síntese. Nós sempre precisamos contemplar o mistério da misericórdia. Esta é uma fonte de alegria, de serenidade e paz”.

        A primeira leitura fala do modo como os primeiros cristãos viviam, que é referência para identidade das comunidades cristãs de todos os tempos. Os primeiros cristãos tinham alcançado êxito em sua missão por causa de quatro aspectos fundamentais, a saber, “o ensinamento dos apóstolos, a fraternidade, o partir do pão (Eucaristia) e as orações." A unidade entre eles atraía muitos outros que reconheciam em suas ações a ação do próprio Jesus ressuscitado. Assim, através de seu testemunho, muitas pessoas faziam a experiência da misericórdia de Deus. Na segunda leitura, Pedro louva Deus por causa da sua misericórdia para com o seu povo, que somos todos nós. Por causa da ressurreição de Cristo temos sido regenerados para cultivar uma esperança viva, vivendo a nossa identidade cristã com alegria e compromisso para alcançar o objetivo da nossa fé, a salvação.

         Após a violência ocorrida contra o Mestre, os discípulos de Jesus viviam um clima de muito medo. De fato, eles não queriam ter o mesmo fim do mestre; no entanto, eles continuaram a se encontrar, mesmo em privado. As Muitas coisas que eles aprenderam de Jesus eram para eles razão de identidade. Assim, embora fossem inconsistentes, não eram pessoas sem esperança, porque aquele que os chamou para segui-lo queria que eles fossem suas testemunhas.

        Sabendo que seus discípulos precisavam de ajuda, Jesus se manifesta no meio deles sem precisar abrir as portas, pois nada pode impor barreiras ao corpo glorioso de Jesus ressuscitado. Esta realidade de seu corpo é também um anúncio da condição futura dos corpos de seus seguidores, que permanecem fiéis a ele. Jesus veio e se pôs no meio deles, porque ele quer ser centralidade na vida dos discípulos. Ele veio ao encontro deles para ajudá-los a superar seus medos e dúvidas que os impedem de serem verdadeiras testemunhas.

         O primeiro resultado da manifestação do Senhor ressuscitado aos seus discípulos é a alegria, confirmando que ser discípulo de Jesus é ser portador de alegria. A alegria abre as portas do coração para receber outros tantos dons. O Senhor dá aos seus discípulos a sua paz como um sinal de identificação consigo mesmo, ele que é chamado de “o profeta da não-violência”. Se o Senhor ressuscitado é o centro da comunidade, os seus membros se tornam instrumentos de paz. O sopro do Espírito Santo é o sinal da nova vida para a humanidade que foi totalmente regenerada pela cruz e ressurreição de Cristo. Pessoas novas reunidas em nome de Cristo, com a ajuda do Espírito Santo são chamadas a viver e promover a comunhão e reconciliação.

         Tomé não estava presente no encontro comunitário quando o Senhor ressuscitado se revelou doando os seus dons. Certamente, ele preferiu uma experiência diferente, isto é, “extracomunitária”. A primeira ideia que temos de Tomé é sobre a sua ausência na comunidade. Digamos que Tomé é símbolo daquelas pessoas que têm uma certa dificuldade de participar nos momentos fortes da vida da comunidade. Esta ausência pode ser um risco para a sua experiência de fé pessoal e também pode colocar obstáculos à fé dos outros. Por outro lado, também se pode dizer que a figura de Tomé provoca a comunidade a um testemunho mais autêntico e credível de sua fé. Não é suficiente dizer “nós vimos o Senhor”, mas precisa reconhece-lo e proclamá-lo sem medo como “Meu Senhor e meu Deus”. Por causa de Tomé, Jesus faz esta belíssima proclamação, a saber: “Bem-aventurados os que creram sem terem visto”. Aqui Jesus está falando de todos nós.

           Através de seus apóstolos, Jesus nos dá o dom da fé e nos pede de viver esta fé em comunidade, amando-nos e ajudando-nos mutuamente como um sinal concreto de nosso envolvimento na proposta de ressurreição que o Senhor nos oferece a cada dia. A pessoa tem dificuldade de crer se ela crê sozinha. A fé de cada cristão/ã é resultado da experiência comunitária da fé vivida pela Igreja, porque a fé da Igreja precede, gera e nutre a fé pessoal. Sem a participação na Comunidade, temos dificuldade em reconhecer os sinais da presença de Cristo ressuscitado no meio de nós e nossa fé torna-se vazia e até mesmo pode representar obstáculo à fé dos outros.


          Este texto nos ajuda a reconhecer a importância da partilha de vida em comunidade. O Senhor ressuscitado quis se revelar a nós através da ajuda dos outros. Devemos estar atentos à tendência da nossa sociedade para uma forma individualista de viver e que vem influenciando muito as nossas relações fraternas. Através do individualismo outros males vêm. Devemos acolher Jesus como centro de nossa experiência comunitária e ter a comunidade como parte fundamental em nossas vidas, para que possamos superar nossos medos e falta de confiança, e, assim, dar um testemunho mais eficaz na realidade onde vivemos.

Fr Ndega

Nenhum comentário: