Celebramos a festa da Assunção de Maria. Trata-se de uma verdade de fé, proclamada pelo papa Pio XII, em 1950, mas vivida pela comunidade cristã a quase 2 mil anos. Sem dúvida alguma, como Deus preparou Maria do seu jeito e ela correspondeu à altura do dom recebido, ele achou por bem toma-la para si totalmente. É assim também em nossa vida: Deus se dá sem medida. Se existe uma medida, esta não vem de Deus, mas da nossa capacidade limitada de acolher. No entanto, quando o acolhemos na totalidade do nosso ser, sentimo-nos totalmente tomados e envolvidos pela sua graça, pois ele nunca se deixa vencer, conforme afirma Jeremias: “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir; tu te tornaste forte demais para mim, tu me dominaste” (Jr 20, 7). Vamos refletir, então, sobre duas imagens que são aplicadas a Maria e suas implicâncias para a nossa caminhada de discípulos missionários de Jesus: a Mulher vestida de honra e glória e a Mulher visitadora.
A Mulher vestida de honra e glória, segundo o Apocalipse, retrata a Igreja perseguida pelo Império Romano e que, mesmo assim é chamada, em todos os tempos, a gerar Jesus para todas as pessoas. É também imagem de Maria, aquela que, com a sua resposta solidária, deu a vida ao mundo. Em meio a forças que atentam contra o projeto de Deus, a vida se sente ameaçada. Com Maria aprendemos a desenvolver o cuidado com a vida, a defendê-la e a protege-la, através de opções que revelam um estilo de vida simples, não esbanjador, anticonsumista e, portanto, profético. Assim como Deus veio em socorro da mulher do Apocalipse, ele está sempre perto de nós, aprovando as ações que revelam suas verdadeiras intenções para o mundo e o ser humano.
A Mulher visitadora é a Maria que não faz serviço com pressa, mas que tem pressa para servir. O encontro das duas mulheres é o encontro das Alianças: a Antiga Aliança acolhe e dá passagem à Nova. Há um encontro de gerações: a Idosa acolhe a jovem e a jovem serve à idosa. O projeto de Deus contempla todas as gerações e cada uma é convidada a assumir o seu papel com aquilo que lhe é específico. O movimento que há entre as duas explicita o jeito particular de Deus agir, contrariando as expectativas humanas: a estéril torna-se fecunda; a virgem fica grávida milagrosamente. As duas nos fazem perceber que é preciso desinstalar-nos e perceber nas pessoas que vem ao nosso encontro, não uma ameaça, mas uma portadora de Deus. Particularmente, Maria nos ajuda a acreditar que os grandes feitos de Deus na história são sinal de sua fidelidade. Portanto, é feliz quem acredita nas promessas de Deus, pois é fiel aquele que promete. A fé se torna critério fundamental de felicidade.
Quando nos perguntamos: o que fazer e o que temos feito diante de tantas graças recebidas? A vida de Maria se apresenta como resposta adequada. Maria é uma de nós que se sentiu agraciada por Deus e viveu uma vida agradecida. Agraciada, porque Deus realizou maravilhas em sua vida; Agradecida, porque disponibilizou sua vida para que Deus, através dela, da sua resposta, pudesse realizar maravilhas na vida das pessoas, principalmente, dos pobres. Em menor grau, também nós experimentamos estas características: por pura gratuidade e generosidade divina, somos agraciados com o dom da vocação. O ser agradecido (a) se manifesta quando fazemos a vida valer a pena através de um serviço alegre e generoso. Ser agraciado (a) não depende de nós, depende de Deus, que nos cumula de bênçãos; o ser agradecido (a) só depende de nós: vivermos como fonte de bênçãos.
Maria viveu um discipulado solidário e compassivo. Soube entender que a vida se realiza na entrega e doação. Por isso seguiu o seu Filho até a cruz e para além da cruz, podendo celebrar com os demais seguidores e seguidoras o milagre da vida que vence a morte e insiste em viver. Ela se torna assim sinal da nova humanidade, transformada e resgatada pelo seu Filho. Maria é a imagem da Igreja realizada, pois como membros deste corpo, discípulos missionários de seu Filho, caminhamos na esperança, comprometendo-nos com as mudanças pelas quais a sociedade deverá passar para que se realize de fato a vontade de Deus.
Estamos em sintonia também com todas as pessoas consagradas que, como Maria, fazem de sua vida verdadeira profecia: anunciam e também denunciam. Anunciam que vale a pena seguir Jesus, entregando-se totalmente pela causa do reino, na disponibilidade e fidelidade. Denunciam todo tipo de vida cômoda, individualista e consumista, indiferente à realidade dos mais pobres e sofredores. Com Maria, modelo das pessoas consagradas, nossa vocação se sente fortalecida, pois olhamos para ela e nos enxergamos melhor, aceitando em nossa vida as propostas divinas. Não nos angustiemos, pois, se vem de Deus – diria Maria - só pode ser coisa boa. O que vem de Deus, que é “Terna Mãe” – diz o Pe. Calábria – é sempre para o nosso bem.
Pe. Degaaxé
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