sexta-feira, 3 de agosto de 2012

5 SOMOS TRANSFORMADOS (AS) NAQUELE QUE CELEBRAMOS


           Segundo a liturgista I. Buyst: “A liturgia leva a uma aprendizagem na medida em que as pessoas participam da própria ação litúrgica, ativa e consciente, exterior e interiormente, de forma plena e frutuosa; na medida em que entram de cheio na proposta ritual”[1]. É fundamental que a celebração litúrgica aconteça na sua integralidade, acolhida em sua proposta ritual, que tem como finalidade transformar as pessoas segundo o mistério que se celebra. Na liturgia tudo é simbólico, enquanto congrega, dá sentido e faz experimentar uma realidade que não se esgota no real, naquilo que se vê e se pode tocar.
           A assembleia, reunida para celebrar o mistério pascal de Cristo, torna-se ‘sacramento’ de Sua presença, escutando a Palavra de Deus e dirigindo  a Ele suas preces para que venha o seu reino anunciado nas leituras. Ao redor da mesa do Senhor, ela traz o pão e o vinho, que simbolizam a vida dos seus membros e do mundo inteiro – com suas alegrias e esperanças, tristezas e angústias, acertos e desacertos, avanços e retrocessos – entregando nas mãos do Pai, juntamente com a vida de Jesus Cristo, durante a oração eucarística. Ao proclamar a bênção da mesa, que é a oração eucarística, a assembleia diz: por Cristo, com Cristo e em Cristo, oferecendo ao Pai, com os sinais do pão e do vinho, o ‘sacrifício de louvor’, dando graças pela salvação que ele realizou na morte-ressurreição do Senhor, mas também invocando o Espírito Santo para que o mistério da páscoa de Jesus se realize hoje entre todos e todas na celebração, prolongando-se no cotidiano de suas vidas. Ao partilhar o pão e o vinho, em seguida, sente-se associada ao mistério pascal de Cristo, deixando-se transformar por ele, assumindo um caminho de seguimento de Jesus, rumo à plena comunhão com o Pai. Os participantes devem voltar às atividades do cotidiano como testemunhas do Ressuscitado e profetas do reino de Deus[2] para promover a vida e a dignidade das pessoas, lutando contra as estruturas injustas como fez o próprio Jesus, na doação de sua vida, para que todos e todas tenham vida e vida plena.
A linguagem simbólica litúrgica é, portanto, um convite a um envolvimento pleno com a proposta salvífica de Cristo, que nos faz passar continuamente da escravidão para a liberdade, do luto para a alegria, da servidão para a plena cidadania. Sendo assim, “somos transformados naquilo que celebramos”, acolhendo a realidade do mistério pascal como “páscoa de Cristo na páscoa da gente, páscoa da gente na páscoa de Cristo”[3]. Todas as celebrações da Igreja fazem referência a este mistério. A nossa participação, longe de ser uma experiência puramente intimista, nos faz sentir a alegria de viver intensamente a dimensão comunitária. Mesmo que sejamos de diferentes lugares e culturas, formamos um só corpo em Cristo[4] e, com ele, chamados a “viver a missão de transformar este mundo e abri-lo ao Reino de Deus”[5].
Axé!
Pe. Degaaxé

[1] BUYST, Ione. O segredo dos ritos, p. 159; cf. Também, da mesma autora: Liturgia de coração, p. 122-136.
[2] Cf. BUYST, Ione; FRANCISCO, Manoel João. Op. cit., p. 34. na mesma página , a autora reflete o sentido integral da celebração eucarística, utilizando o relato dos discípulos de Emaús: “Também no relato do encontro do Ressuscitado com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-35) reconhecemos essa mesma estrutura dinâmica. O Ressuscitado vem ao encontro dos seus, caminhando com eles; a partir dos relatos feitos pelos discípulos, anuncia-lhes o sentido de sua morte-ressurreição; em seguida, celebra com eles a fração do pão; cheios de ardor, os discípulos voltam a Jerusalém para anunciar o acontecido”.
[3] CNBB Animação da vida litúrgica no Brasil. doc. 43, n. 300.
[4] “(...) O sujeito último é Cristo, que fez da Igreja o seu corpo sacerdotal, unidade na diversidade, diferente nos ministérios e diferente nos níveis de maturidade eclesial de fé, nas expressões e sensibilidade, como também eram muito diferentes as pessoas que se exprimiam ao redor de Jesus” (frase de D. Armando Bucciol, durante o Simpósio de Teologia, Porto Alegre, 16 de junho de 2012)
[5] SOUZA, Marcelo de Barros. Celebrar o Deus da vida: tradição litúrgica e inculturação, p. 20.

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