Segundo a
liturgista I. Buyst: “A liturgia leva a uma aprendizagem na medida em que as
pessoas participam da própria ação
litúrgica, ativa e consciente, exterior e interiormente, de forma plena e
frutuosa; na medida em que entram de cheio na proposta ritual”[1].
É fundamental que a celebração litúrgica aconteça na sua integralidade,
acolhida em sua proposta ritual, que tem como finalidade transformar as pessoas
segundo o mistério que se celebra. Na liturgia tudo é simbólico, enquanto congrega,
dá sentido e faz experimentar uma realidade que não se esgota no real, naquilo
que se vê e se pode tocar.
A assembleia,
reunida para celebrar o mistério pascal de Cristo, torna-se ‘sacramento’ de Sua
presença, escutando a Palavra de Deus e dirigindo a Ele suas preces para que venha o seu reino
anunciado nas leituras. Ao redor da mesa do Senhor, ela traz o pão e o vinho,
que simbolizam a vida dos seus membros e do mundo inteiro – com suas alegrias e
esperanças, tristezas e angústias, acertos e desacertos, avanços e retrocessos
– entregando nas mãos do Pai, juntamente com a vida de Jesus Cristo, durante a
oração eucarística. Ao proclamar a bênção da mesa, que é a oração eucarística,
a assembleia diz: por Cristo, com Cristo
e em Cristo, oferecendo ao Pai, com os sinais do pão e do vinho, o
‘sacrifício de louvor’, dando graças pela salvação que ele realizou na
morte-ressurreição do Senhor, mas também invocando o Espírito Santo para que o
mistério da páscoa de Jesus se realize hoje entre todos e todas na celebração,
prolongando-se no cotidiano de suas vidas. Ao partilhar o pão e o vinho, em
seguida, sente-se associada ao mistério pascal de Cristo, deixando-se
transformar por ele, assumindo um caminho de seguimento de Jesus, rumo à plena
comunhão com o Pai. Os participantes devem voltar às atividades do cotidiano
como testemunhas do Ressuscitado e profetas do reino de Deus[2]
para promover a vida e a dignidade das pessoas, lutando contra as estruturas
injustas como fez o próprio Jesus, na doação de sua vida, para que todos e
todas tenham vida e vida plena.
A linguagem
simbólica litúrgica é, portanto, um convite a um envolvimento pleno com a
proposta salvífica de Cristo, que nos faz passar continuamente da escravidão para
a liberdade, do luto para a alegria, da servidão para a plena cidadania. Sendo
assim, “somos transformados naquilo que celebramos”, acolhendo a realidade do
mistério pascal como “páscoa de Cristo na páscoa da gente, páscoa da gente na
páscoa de Cristo”[3]. Todas
as celebrações da Igreja fazem referência a este mistério. A nossa
participação, longe de ser uma experiência puramente intimista, nos faz sentir
a alegria de viver intensamente a dimensão comunitária. Mesmo que sejamos de
diferentes lugares e culturas, formamos um só corpo em Cristo[4]
e, com ele, chamados a “viver a missão de transformar este mundo e abri-lo ao
Reino de Deus”[5].
Axé!Pe. Degaaxé
[1]
BUYST, Ione. O segredo dos ritos, p.
159; cf. Também, da mesma autora: Liturgia
de coração, p. 122-136.
[2]
Cf. BUYST, Ione; FRANCISCO, Manoel João. Op.
cit., p. 34. na mesma página , a autora reflete o sentido integral da
celebração eucarística, utilizando o relato dos discípulos de Emaús: “Também no
relato do encontro do Ressuscitado com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24,
13-35) reconhecemos essa mesma estrutura dinâmica. O Ressuscitado vem ao
encontro dos seus, caminhando com eles; a partir dos relatos feitos pelos
discípulos, anuncia-lhes o sentido de sua morte-ressurreição; em seguida,
celebra com eles a fração do pão; cheios de ardor, os discípulos voltam a
Jerusalém para anunciar o acontecido”.
[3]
CNBB Animação da vida litúrgica no
Brasil. doc. 43, n. 300.
[4]
“(...) O sujeito último é Cristo, que fez da Igreja o seu corpo sacerdotal,
unidade na diversidade, diferente nos ministérios e diferente nos níveis de
maturidade eclesial de fé, nas expressões e sensibilidade, como também eram
muito diferentes as pessoas que se exprimiam ao redor de Jesus” (frase de D.
Armando Bucciol, durante o Simpósio de Teologia, Porto Alegre, 16 de junho de
2012)
[5]
SOUZA, Marcelo de Barros. Celebrar o Deus da vida: tradição
litúrgica e inculturação, p. 20.
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