segunda-feira, 16 de julho de 2012

A PROFECIA DE UM MUNDO MAIS HUMANO

        O tema central desta reflexão é a questão missionária como profecia de um mundo mais humano. Pela atividade nos fazemos próximos uns dos outros e vivemos uma vida com sentido. A missão dá sentido à vida e, como não se vive sem sentido, então não se vive sem missão. A missão é um caso de amor e quem ama é verdadeiramente missionário. A missão, para ser verdadeira, deve ser profética, ou seja, deve fazer a diferença. Isso fica bem evidente tanto com o profeta Amós quanto com os discípulos enviados por Jesus.
         Após a morte de Salomão o reino se divide em dois: Israel ao norte e Judá ao sul. O profeta Amós pertence ao reino do sul e é enviado por Deus para profetizar no norte. Amós é colono e cultiva um estilo de vida simples, de sorte a ter a missão profética, não por profissão, mas sim por vocação. O seu encontro com sacerdote Amasias não produz muito fruto, pois este pertencia à corte e dava respaldo ao sistema injusto do rei Jeroboão II. Este sacerdote sente-se incomodado com a presença do profeta Amós, o qual manifestava o desgosto do Senhor com tal situação. Amasias então expulsa o profeta, pois sua presença ameaçava a todo o sistema. Os profetas são mesmo assim: veem longe e se antecipa nas situações, provocando um repensar a vida, a conduta e as decisões. Os profetas são perseguidos porque não se contentam em ficar olhando as coisas acontecerem como meros expectadores, mas investem o melhor de si para que outra realidade possível possa acontecer.
         O profeta tem consciência de que sua vocação não é iniciativa própria, mas tem origem divina. Ele é consciente de sua realidade e da realidade do seu povo. Vive incomodando aqueles que mantêm estruturas injustas, explorando e oprimindo as pessoas. Ele vive uma vida com sentido, pois é constituído profeta para os outros. Não existe profeta para si mesmo. Como mensageiro da Palavra de Deus, o profeta não fala em nome próprio. Por isso suas palavras inquietam, provoca rupturas, levando à conversão e a decisão. A vida parece perder a sua dinamicidade, quando os profetas se calam.
         Jesus envia os discípulos com uma missão profética, pois deseja que a presença deles faça a diferença na vida de muitas pessoas, principalmente dos pobres, doentes e sofredores. Assim como foi a missão de Jesus, deve ser a dos seus discípulos, que, na verdade, apenas continuam a missão do mestre. Jesus podendo fazer tudo sozinho, não o faz; quis contar com colaboradores. Primeiro, os chama para estarem com eles e depois os envia em missão. O envio é feito dois a dois, pois o seu desejo é que a missão seja partilhada em comunidade, isto é, deve haver uma co-responsabilidade na missão. Um missionário não surge por conta própria, mas a partir de uma comunidade. Ele age em comunidade e caminha em sintonia com ela. Em comunidade pode se ajudar e se fortalecer. Os discípulos missionários de Jesus partem com a autoridade de Jesus sobre as forças do mal, que oprimem e paralisam as pessoas; aceitam a proposta de desprendimento com relação aos bens materiais e o despojamento de si. A sua única riqueza é a missão. Quando não forem escutados, não devem forçar ninguém a aceita-los; devem partir para outro lugar como mensageiros de paz.
         Os discípulos e discípulas atuais somos chamados a crescer na consciência de que não seguimos uma ideia ou uma doutrina, mas uma pessoa – Jesus Cristo - que exerceu um grande fascínio sobre nossas vidas. Alimentamos esta certeza, quando somos capazes de cultivar um encontro verdadeiro pessoal com ele. Esta experiência plena de sentido não pode ficar fechada em nós; deve ser comunicada e com muito entusiasmo para que mais pessoas se tornem discípulas, empenhando o melhor de suas vidas pela mesma causa pela qual Jesus deu sua vida. A missão evangelizadora é uma caminhada solidária com a realidade das pessoas. É profecia de um mundo onde os pobres, os doentes e sofredores são olhados com prioridade. Se em nossa missão não priorizarmos este tipo de pessoas, jamais corresponderemos à vontade daquele que nos chamou. Se não nos colocarmos ao lado dos que mais precisam, cultivando um estilo de vida simples junto a estes e agindo afetiva e efetivamente em suas vidas, a mensagem que levamos vai perdendo pouco a pouco a sua força profética.


Axé!

Pe. Degaaxé

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