segunda-feira, 9 de julho de 2012

3 A LINGUAGEM DOS SÍMBOLOS

        Os símbolos têm uma sintonia bastante aguçada com os temas anteriores, pois, sendo um fenômeno humano[1], fazem parte da riqueza do interior do ser humano, que é comunicada como expressão e produção cultural.  O símbolo não vale pelo que é em si, mas pelo que ele significa. Assim sendo, um abraço, um gesto, um movimento, ou uma ação traz um significado que os ultrapassa enquanto situações visíveis. Quando nos referimos aos símbolos religiosos, essa verdade parece ainda mais notável. Sobre isso, o autor U. Zilles, citando Paul Tillich, afirma que o sentido dos símbolos religiosos “consiste em ser a linguagem da religião, a única linguagem através da qual a religião se pode expressar de maneira imediata”[2]. Porém, os símbolos variam muito de uma cultura a outra. Símbolo que numa cultura é cheio de significado, para outra, não tem significado algum[3].
         Segundo o autor L. C. Susin, “os símbolos possuem uma nota comum, mas ganham direções polivalentes. Para saber a força do símbolo e a sua direção, é necessário saber que experiência se tem deste símbolo dentro da cultura em que está”[4]. Os símbolos, ao mesmo tempo em que expressam uma identidade, uma grande paixão, podem levar a sérios conflitos. É só tomarmos como exemplo a bandeira de certo povo; quando ela é queimada por outro, acirram-se os ânimos, por agredir o patriotismo, provocando violência. Uma imagem sacra, quando é ultrajada, chutada por alguém, agridem-se os sentimentos religiosos dos fiéis devotos.
        Para nos relacionarmos com Deus necessitamos de sinais e símbolos. Os símbolos nos permitem enxergar além e o oculto[5]. Por isso se diz que o símbolo tem algo de misterioso e encantador. Se tomarmos a Sagrada Escritura, vemos a criação como um símbolo todo particular da bondade, generosidade e grandeza do seu Criador. Já em Jesus, temos o símbolo por excelência, por nos revelar plenamente o Pai[6]. Tornando-se nosso referencial, vemos tudo a partir dele. É neste sentido que se compreende a existência e finalidade da Igreja, como bem expressa o autor Urbano Zilles: “O símbolo de Cristo prolonga-se, até certo ponto, através da Igreja, portadora de suas palavras e de seus sinais. A Igreja é um caminho para chegar a Cristo, o Filho de Deus. Ela expressa seu mistério através de uma linguagem simbólica, nas celebrações, por um conjunto de sinais. Toda a vida eclesial é simbólica. Os fiéis alimentam a sua fé e se unem a Cristo através de símbolos”[7] 
        A Igreja não existe para ela mesma. É aí, portanto que reside o seu mistério, pois, como continuadora da obra de Cristo, é enviada a todos os povos e culturas, como símbolo de Cristo e tem a finalidade de prolongar e atualizar sua obra, principalmente, de forma teológico-simbólica, isto é, atualiza a salvação de Cristo através da liturgia. Esta riqueza, que é a liturgia cristã, tornou-se acessível graças ao testemunho de tantas pessoas que, como Cristo, fizeram de suas vidas, símbolo do amor e da misericórdia de Deus.

Axé!
Pe. Degaaxé



[1] Cf. ZILLES, Urbano. Significação dos símbolos cristãos. p. 11. O autor L. C. Susin vai  dizer que “o símbolo é a linguagem própria do ser humano porque é aberto a ‘algo mais’, transcende a si mesmo”. (SUSIN, Luiz Carlos. Op. cit., p. 83).
[2] TILLICH, Paul. Apud ZILLES, Urbano. Op. cit., p. 11.
[3] “(...) Os símbolos têm valor fixo, para todos os seres humanos, e ao mesmo tempo tomam direção de acordo com a cultura, a consciência, a religião. Por exemplo, o sol: pode ser ‘senhor’ e ‘Deus’, ou pode ser senhor e irmão. Que seja senhor é valor fixo. Que seja Deus para alguns e irmão para outros é direcionado” (SUSIN, Luiz Carlos. Op. cit., p. 91).
[4] Ibid., p. 18.
[5] “Símbolo é mais do que um mero sinal convencional que aponta para outra coisa, como seria a seta indicadora na estrada. O símbolo é a condensação de uma realidade da qual ele participa. Aponta para dentro de si mesmo. Ver o símbolo é ver a realidade que não se esgota na visão. Saborear o símbolo é saborear a realidade que não se esgota nesse sabor” (Ibid, p. 83).
[6] Cf. ZILLES, Urbano. Op. cit., p. 14.
[7] Ibid., p. 14.

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