domingo, 8 de julho de 2012

2 A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO GERADOR DE CULTURA

          A linguagem, enquanto instrumento essencial para a comunicação, é um importante meio que veicula a cultura de cada povo[1].  O documento de Santo Domingo considera “a comunicação entre as pessoas um admirável elemento gerador de cultura” (SD 23). Enquanto ser cultural, o ser humano serve-se da linguagem para manifestar seu jeito de ser e de pensar.  Ela envolve todo o ser humano e, ao mesmo tempo, espelha a visão de mundo de um determinado povo. Segundo o teólogo U. Zilles, “a linguagem está ligada à experiência. A experiência acontece num lugar e num tempo, envolve pessoas, gestos, atitudes e objetos.  Como eu vou explicar sobre o sabor da laranja para alguém que nunca teve o gosto da laranja?”[2]. Dizemos, portanto, que o ser humano é um ser de linguagem pelas circunstâncias de que: fala, comunica e exterioriza o que pensa e o que experimenta. O autor J. M. Imbamba, citando J. B. Mondin, assim se expressa: “A linguagem denota a função, a capacidade de que o ser humano é naturalmente dotado (...) de exprimir-se e comunicar com os semelhantes mediante a palavra. Trata-se de uma capacidade inata que convém, do mesmo modo, a todos os seres humanos, independentemente da nação e da cultura a que pertencem”[3].
         A linguagem, sendo fruto de uma época e de experiências, é algo convencionado de acordo com a caminhada e a maturidade dos grupos humanos. Valorizamos nossas experiências quando buscamos transformá-las em alguma linguagem. Esta é uma situação fundamental para que estas experiências não se percam no tempo. Trata-se de uma forma de resgatar a memória para não perder a identidade. Sobre isso afirma também o autor L. C. Susin: “A linguagem é a corporeidade específica do ser humano. É a nossa casa. ‘a linguagem é o lar do ser humano’ (Heidegger), lar que o alimenta e o torna fecundo (...) Se nossas experiências mais íntimas não se transformam em alguma linguagem, estão fadadas a se perder e a desaparecer. O que não se exterioriza não existe. Pela linguagem nós nos comunicamos, comungamos, amamos”[4].
         O ser humano é feito na linguagem e faz a linguagem. Quando se diz, por exemplo: “não só de pão vive o ser humano, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4), temos a palavra como um instrumento concreto de linguagem que tem muito a ver com íntimo: traduz o que se passa dentro do ser humano e se expressa nas diversas realidades nas quais o ser humano está envolvido, sendo referência para que Deus, encarnando-se em nosso meio, comunique sua vida, convidando-nos à sua intimidade[5].
        A linguagem do amor realizada por Deus foi assumindo nossa condição e enchendo-a de sentido. Assim ele se revela na história e na cultura humanas. Mesmo através de nossos gestos limitados e das nossas palavras humanas, se pode perceber a força e a grandeza divina. Neste sentido, os místicos são ainda mais sensíveis. Eles fazem uso de uma linguagem ‘repleta, ‘saturada’ de experiências imediatas, através de símbolos, predicativos, narrativas poéticas, desenhos (‘mandalas’)[6].

Axé!

Degaaxé



[1] Cf. IMBAMBA, José Manuel. Uma nova cultura para mulheres e homens novos, p. 138.
[2] Frase do professor e teólogo U. Zilles durante as aulas de Teologia e Linguagem no Mestrado em Teologia Sistemática da Faculdade de Teologia da PUCRS, em 2011.
[3] MONDIN, João Battista. Apud IMBAMBA, José Manuel. Op. cit., p. 40.
[4] SUSIN, Luiz Carlos. Os salmos na vida cristã. p. 14s.
[5] Cf. Ibid., p. 15.
[6] Cf. Ibid., p. 12.

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