A linguagem, enquanto instrumento essencial para a
comunicação, é um importante meio que veicula a cultura de cada povo[1].
O documento de Santo Domingo considera “a
comunicação entre as pessoas um admirável elemento gerador de cultura” (SD 23).
Enquanto ser cultural, o ser humano serve-se da linguagem para manifestar seu
jeito de ser e de pensar. Ela envolve
todo o ser humano e, ao mesmo tempo, espelha a visão de mundo de um determinado
povo. Segundo o teólogo U. Zilles, “a linguagem está ligada à experiência. A experiência
acontece num lugar e num tempo, envolve pessoas, gestos, atitudes e objetos. Como eu vou explicar sobre o sabor da laranja
para alguém que nunca teve o gosto da laranja?”[2].
Dizemos, portanto, que o ser humano é um ser de linguagem pelas circunstâncias
de que: fala, comunica e exterioriza o que pensa e o que experimenta. O autor J.
M. Imbamba, citando J. B. Mondin, assim se expressa: “A linguagem denota a função,
a capacidade de que o ser humano é naturalmente dotado (...) de exprimir-se e
comunicar com os semelhantes mediante a palavra. Trata-se de uma capacidade
inata que convém, do mesmo modo, a todos os seres humanos, independentemente da
nação e da cultura a que pertencem”[3].
A linguagem, sendo fruto de uma
época e de experiências, é algo convencionado de acordo com a caminhada e a maturidade
dos grupos humanos. Valorizamos nossas experiências quando buscamos
transformá-las em alguma linguagem. Esta é uma situação fundamental para que
estas experiências não se percam no tempo. Trata-se de uma forma de resgatar a
memória para não perder a identidade. Sobre isso afirma também o autor L. C.
Susin: “A linguagem é a corporeidade específica do ser humano. É a nossa casa.
‘a linguagem é o lar do ser humano’ (Heidegger), lar que o alimenta e o torna
fecundo (...) Se nossas experiências mais íntimas não se transformam em alguma
linguagem, estão fadadas a se perder e a desaparecer. O que não se exterioriza
não existe. Pela linguagem nós nos comunicamos, comungamos, amamos”[4].
O ser humano é
feito na linguagem e faz a linguagem. Quando se diz, por exemplo: “não só de
pão vive o ser humano, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4),
temos a palavra como um instrumento concreto de linguagem que tem muito a ver
com íntimo: traduz o que se passa dentro do ser humano e se expressa nas diversas
realidades nas quais o ser humano está envolvido, sendo referência para que
Deus, encarnando-se em nosso meio, comunique sua vida, convidando-nos à sua
intimidade[5].
A linguagem do amor realizada por Deus foi assumindo nossa
condição e enchendo-a de sentido. Assim ele se revela na história e na cultura
humanas. Mesmo através de nossos gestos limitados e das nossas palavras
humanas, se pode perceber a força e a grandeza divina. Neste sentido, os
místicos são ainda mais sensíveis. Eles fazem uso de uma linguagem ‘repleta,
‘saturada’ de experiências imediatas, através de símbolos, predicativos,
narrativas poéticas, desenhos (‘mandalas’)[6].
Axé!
Degaaxé
[1]
Cf. IMBAMBA, José Manuel. Uma nova
cultura para mulheres e homens novos, p. 138.
[2]
Frase do professor e teólogo U. Zilles durante as aulas de Teologia e Linguagem
no Mestrado em Teologia Sistemática da Faculdade de Teologia da PUCRS, em 2011.
[3]
MONDIN, João Battista. Apud IMBAMBA, José Manuel. Op. cit., p. 40.
[4]
SUSIN, Luiz Carlos. Os salmos na vida
cristã. p. 14s.
[5] Cf. Ibid., p. 15.
[6] Cf. Ibid., p. 12.
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