segunda-feira, 25 de junho de 2018

A VOCAÇÃO COMO PROCLAMAÇÃO DA MISERICÓRDIA E PROXIMIDADE DE DEUS



Reflexão a partir de Is 49, 1-6; At 13, 22-26; Lc 1, 57-66.80

        Somos convidados a celebrar a solenidade do Nascimento de São João Batista. Com exceção de Nossa Senhora, este é o único Santo do qual celebramos também o nascimento. Isto é devido a sua estreita relação com a vinda do Filho de Deus ao mundo. A gestação do plano salvífico de Deus não se dá nas grandes estruturas (Templo, Palácio de Herodes, etc.) nem nos grandes eventos, mas na vida cotidiana de pessoas simples, atentas e abertas às surpresas de Deus. É, portanto, através do ventre de duas mulheres, Maria e de Isabel, que Deus quis tornar visível a sua presença misericordiosa no mundo.

       O trecho da primeira leitura é o Segundo Canto do Servo, do profeta Isaías. E segundo este cântico, é Deus mesmo que plasma o seu servo desde o ventre materno e lhe confia uma missão que não se limita a um pequeno grupo ou aos limites de um determinado país. É da vontade de Deus que seu servo seja luz para iluminar os povos a fim de que a sua salvação chegue a todos. Motivado pela certeza da presença de Deus em sua vida, este servo decide investir todas as suas forças pela causa daquele que o chamou. Este servo nos ajuda a refletir a vocação como uma iniciativa divina, um dom que a pessoa recebe não para si mesmo, mas para o bem dos outros. Aquele que nos chamou se faz próximo de nós para que nossas escolhas correspondam às suas expectativas sobre nossas vidas.

       De acordo com a segunda leitura, Deus enviou Jesus como Salvador. Sua vinda foi preparada por João através de um batismo de conversão para preparar a Deus um povo bem-disposto. Quando João é interrogado sobre sua missão, ele não recorre a títulos ou privilégios, o que colocaria sua própria pessoa no centro, mas responde em subtração: “Eu não sou”, “eu não sou digno”. “Eu não sou!” contrasta com “Eu sou!”, que é o próprio nome de Deus. Aqui está enraizada a verdadeira grandeza do ser humano: ao reconhecer que Deus é Deus, aquele que é verdadeiramente, enquanto nós não existimos por nós mesmos, mas apenas em estreita dependência do Criador. A vida e as atitudes de João nos ajudam a sermos conscientes de nossa identidade para não pretendermos ocupar na vida das pessoas o lugar que pertence só a Deus.

      O evangelho fala do nascimento de João Batista como uma grande ação da misericórdia de Deus na vida de Isabel, considerada infeliz e castigada por causa de sua esterilidade.  Agora ela experimenta uma nova vida. Assim diz o texto: “os vizinhos e parentes ficaram sabendo que o senhor tinha manifestado nela a sua grande misericórdia, e se alegraram com ela. Aqui temos dois aspectos importantes a considerar: primeiro, a revelação da misericórdia de Deus é um evento que não segue os critérios humanos; segundo, traz alegria intensa à vida das pessoas envolvidas e aos que delas se aproximam. Diante disso, o sacerdote é silenciado, enquanto à mulher é dada a oportunidade de proclamar: “ele será chamado João”. João significa “dom de Deus”. Somente a pessoa que faz a experiência de ser dom é capaz reconhecer a vida, o nascimento de uma criança como um dom de Deus. Em seguida, ajudado em sua fé, também o sacerdote Zacarias abre a sua boca para proclamar a proximidade e fidelidade de Deus na história do seu povo. E o que será este menino? Será o grande precursor. Entre os nascidos de mulher, ninguém é tão grande quanto ele.

       O nascimento de João é pré-anúncio do nascimento do Salvador e a sua missão é preparar o caminho para o Filho de Deus encarnado. De fato, o anúncio da boa notícia que Jesus traz começa propriamente com a atividade deste precursor, considerado “o maior de todos os profetas”. João é uma ponte entre o antigo e o novo testamento. “A passagem entre os dois testamentos é um tempo de silêncio: a palavra, tirada do templo e do sacerdócio, está sendo tecida no ventre de duas mães. Deus traça a sua história sobre o calendário da vida, e não no estreito limite das instituições”.

      Antes de iniciar sua missão, João viveu na solidão do deserto, totalmente aberto à inspiração divina. No deserto, a partir da experiência da Palavra de Deus, ele aprendeu a ser testemunha da verdade. Nos causa admiração o seu estilo de vida simples, especialmente seu modo de vestir-se e a sua comida. A grandeza de João foi demonstrada em reconhecer a grandeza do Senhor, considerando-se como apenas uma voz que grita “do” deserto preparando o caminho para aquele que deve vir. Em sua mensagem, João proclamava a misericórdia de Deus e além das palavras, ele batizava as pessoas como um sinal concreto de conversão e abertura a esta misericórdia. A razão da credibilidade da mensagem de João não eram apenas suas palavras, mas também o seu estilo simples e humilde de viver, isto é, a sua coerência de vida. Mesmo que não existissem as palavras, a sua vida era já uma proclamação concreta da nova realidade que Jesus trouxe à terra.

      A vida de João nos diz que também nós podemos fazer a diferença na vida de muitas pessoas, mas não existe profecia sem “experiência de deserto”, isto é, sem uma relação de intimidade com Deus e com sua Palavra. É, portanto, a partir do “deserto” que nos vem a proposta de voltar, de mudar os caminhos, a mentalidade, em suma, de mudar alguma coisa ou tudo. Se a nossa vida for transformada a partir da Palavra seremos realmente testemunhas de uma nova realidade, de boas notícias, porque o testemunho de vida é mais eficaz do que as palavras. “A missão de João nos ensina sobre o fato de que também nós devemos preparar o coração para acolher o Senhor e se queremos conhecê-lo e segui-lo mais de perto, devemos arar o terreno da nossa interioridade”. Que possamos, a partir do exemplo de João Batista, viver a nossa vocação como proclamação da misericórdia e proximidade de Deus.

Fr Ndega



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