domingo, 4 de setembro de 2011

SER PROFETA E DISCÍPULO É DEIXAR-SE SEDUZIR, RENUNCIAR E SERVIR

SER PROFETA E DISCÍPULO É DEIXAR-SE SEDUZIR, RENUNCIAR E SERVIR
Uma reflexão a partir dos textos: Jr 20, 7-9; Mt 16, 21-27

Quero partilhar com os visitadores do blog uma reflexão elaborada a poucos dias a partir de dois textos que para mim, são centrais na experiência do Povo da Bíblia e grandes referências para quem deseja servir o Reino de Deus do jeito certo.
Começando por Jeremias, percebemos que ele narra sua experiência de ser seduzido por Deus de forma apaixonante. Confessa que tentou fugir, mas não conseguiu, pois Deus foi mais forte do que ele. Jeremias é o profeta fiel, mas que sofre por causa de sua fidelidade a Deus e à sua Palavra. Lá pelas tantas ele vai dizer: ‘quando tuas Palavras se apresentavam eu as devorava; eram para mim contentamento e alegria do meu coração, pois era vosso nome que eu levava, Senhor, nosso Deus’. Ser profeta é deixar-se seduzir por Deus para se tornar mensageiro (a) de sua Palavra. A sedução na vida do profeta é caracterizada pelo esforço constante de conversão e de total abandono à vontade daquele que chama.
Jesus, enquanto caminha, ensina seus discípulos a segui-lo. Primeiro ele quer saber o que as pessoas dizem a seu respeito e testa as convicções dos seus discípulos. Pedro, em nome do grupo e por inspiração do Pai, confessa que Jesus é o Messias. Jesus reconhece a escolha divina e lhe confere a missão de responsável da comunidade dos discípulos. No texto desta nossa reflexão, o mesmo Pedro está falando contra Jesus e Jesus rejeita Pedro. Como isto é possível, se antes o tinha acolhido? Está em jogo aqui a idéia de messianismo. Na verdade, Jesus não rejeita Pedro, mas critica o seu modo de pensar. Como sabemos, os judeus esperavam um messias político, poderoso, que pudesse dominar na base da força. Tal expectativa estava presente na mente dos discípulos quando Jesus os questiona. Jesus aceita a profissão de fé, mas procura explicar o seu verdadeiro messianismo. Jesus fala que deve sofrer, ser rejeitado, morrer e ressuscitar, ou seja, fala de morte para ter a vida. E isso Jesus falava abertamente, mas Pedro o chama no escondido e começa a repreendê-lo para que desista de sua missão. Ora, se nos recordarmos daquelas tentações de Jesus no deserto, o texto afirmava, no final, que satanás havia deixado Jesus para se manifestar numa hora oportuna e esta é uma das tantas horas usadas por satanás para desviar Jesus de sua missão. Jesus se mostra bem atento: fala de si e fala de como deve ser quem deseja segui-lo. Se não tomarmos cuidado, com as nossas dificuldades em seguir Jesus, podemos querer adaptar o Projeto de Deus ao nosso modo de ser e de pensar ou querer um Deus à nossa imagem e semelhança. É preciso, portanto, fazermos algumas considerações sobre as condições apresentadas por Jesus para segui-lo:
1. É preciso convicção: não podemos seguir Jesus só porque nos disseram que é bom. É preciso sedução e isso só é possível com o que diz Aparecida: experiência de encontro pessoal com Cristo;
2. Contar mais com a graça de Deus do que com as próprias capacidades. É tomar consciência das próprias limitações e tomar cuidado para que elas não sejam causa de escândalo ou tropeço na vida daqueles que querem ser fiéis. São Paulo diz: se pensa estar de pé, cuidado pra não cair. Estamos prontos para a graça quando tomamos consciência das nossas reais condições: ‘sem Deus não somos nada e não podemos fazer nada’. Diz São João Calábria: ‘zero e miséria: boas condições’.
3. Renunciar a si mesmo: tem a ver com assumir uma nova postura, uma nova mentalidade, uma nova identidade. É preciso romper com as estruturas de domínio, romper com a mentalidade preconceituosa que considera os outros sempre como ameaça e impede a fraternidade;
4. Tomar a cruz: Jesus lembra que para ser verdadeiro discípulo tem que estar disposto ao sacrifício, quando for necessário. Não devemos viver resmungando, o que revela que de fato não servimos para a missão que assumimos. É a gratuidade e a generosidade que devem ser a marca registrada daqueles que seguem Jesus. Na forma como assumimos os sacrifícios diários revela se estamos aptos para servi-lo.
5. Seguir Jesus: para servir e carregar a cruz tem que ser como Jesus que não ficou medindo esforços para servir nem fez da cruz o fim de tudo. Muitas vezes nos fixamos por demais na cruz e esquecemos que Jesus ressuscitou. Não seguimos Jesus até a cruz, mas passando também pela cruz. Ele não nos chama à cruz e ao sofrimento. Nos chama à verdadeira vida, mas não nos ilude, pois deixa claro que se quisermos ganhar a vida teremos que perder esta, se quisermos ser o primeiro teremos que ser o último. Esta é a lógica do Reino. Optando por Jesus, optamos pela vida eterna, mas vem no pacote: as dificuldades, incompreensões, as tentações, perseguições, etc.
Que o Deus da vida nos conceda a graça da fidelidade no seguimento de Jesus, não obstante nossas limitações e que, através de nós, a sua Palavra leve as pessoas a se tornarem verdadeiras discípulas de Jesus.
Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé

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