sexta-feira, 17 de junho de 2022

VIDA FEITA DOM PARA OS DEMAIS

 

Reflexão a partir de Gn 14, 18-20; 1Cor 11, 23-26; Lc 9, 11b-17  




     Celebramos hoje a festa do Corpo e Sangue de Cristo, a festa popular da Eucaristia. Diferentemente de Quinta Feira Santa, que traz um tom de recolhimento e reflexão, hoje é um dia de festa e de intensa alegria em que expressamos publicamente a nossa fé na Eucaristia, presença real de Jesus entre nós.

    O Concilio Vaticano II define a Eucaristia como “fonte e finalidade de toda a vida e missão da Igreja”. As leituras que escutamos falam da intima relação que existe entre Eucaristia e Vida, entre o Pão que é Cristo e o pão que alimenta o corpo. Não é possível entrar em comunhão com o Corpo do Senhor sem viver a fraternidade, a solidariedade e a partilha.

    A primeira Leitura nos traz a figura do rei e Sacerdote Melquisedec que oferece pão e vinho abençoando Abraão em nome do Senhor. Este sacerdote é considerado uma figura de Cristo sumo e eterno sacerdote. Mesmo sendo de um povo diferente do de Abraão, soube acolher-lo, partilhar... sentir-se irmão... sentir-se próximo. Esta é a experiência que cada Eucaristia nos faz viver.

    Na segunda Leitura, Paulo narra a Instituição da Eucaristia, fazendo memória do grande dom oferecido pelo Senhor, enquanto comia com os seus em um clima de família, de intimidade, de confidência e acolhida. Todos esses valores eram incompatíveis com as discórdias e divisões que haviam na comunidade de Corinto. Devemos estar atentos para que o nosso modo de se comportar na vida diária não seja uma negação do Cristo que celebramos e recebemos na Eucaristia.

    No Evangelho, temos a multiplicação dos pães e dos peixes, segundo Lucas. A intenção do evangelista, ao narrar este texto, é explicar o que significa "partir o pão" no dia do Senhor. Aquilo que chama a nossa atenção logo no início do texto é que Jesus acolhe as multidões lhes anuncia o Reino com palavras e gestos. “As palavras de Jesus são a resposta de Deus as necessidades de plenitude que cada um carrega dentro de si”; e diante das enfermidades, o seu gesto cura, doa vida nova.

    Jesus condena a indiferença dos discípulos que lhe aconselham a despedir o povo para que se virem, se arranjem. A resposta de Jesus: "Dai-lhes vós mesmos de comer..." não indica somente um dar alguma coisa para o povo comer, mas um dar-se continuamente, um interessar-se pela vida dos irmãos e irmãs, como o próprio Jesus faz. Toda pessoa que dele come é chamada a se transformar em Eucaristia, isto é, dom para os outros. O verdadeiro milagre não é a multiplicação mas a partilha pois com Jesus não se aprende a multiplicar pães, mas a partilhar com os irmãos o que se tem e o que se é. 

     Celebrar verdadeiramente a Eucaristia é acolher Jesus e ser transformados naquele que recebemos. Isso nos faz superar as distâncias entre nós e toda indiferença diante das necessidades alheias. Que sentido teria partilhar o pão eucairistico na igreja sem a disposição de partilhar o pão material no quotidiano? “Através da partilha do pão se resolve o problema da fome. Enquanto as pessoas acumulam para si mesmas os dons, tem injustiça e tem fome. Quando aquilo que se tem não se considera exclusivamente seu, mas o partilha para multiplicar a ação criadora do Pai, então se gera saciedade e abundância”. Deixemos que a celebração do Corpo e Sangue de Cristo nos motive a ser aquilo que somos chamados a viver: “um só corpo bem unido no qual todas as divisões sejam superadas”.


Fr Ndega

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