sábado, 5 de fevereiro de 2022

ADESÃO À PALAVRA

 

Reflexão a partir de Is 6, 1-2a. 3-8; 1 Cor 15, 1-11; Lc 5: 1-11

 


    A Palavra de Deus que não passa pede que confiemos naquEle que, quando fala, indica o caminho certo pra seguir e pra viver. Somente a adesão total a ele e a obediência à sua palavra nos fazem enxergar além e alcançar bons resultados em todas as nossas iniciativas.

    A experiência vocacional de Isaías ocorre em um contexto litúrgico no templo: Deus lhe revela sua glória e santidade. Diante desse evento estupendo, Isaías se sente indigno por ser membro de um povo infiel, mas Deus o motiva purificando seus lábios, para que ele possa ser seu mensageiro. Consciente das necessidades do seu povo e sentindo profundamente o desejo de colaborar com Deus, Isaías responde prontamente, mostrando-se disponível aos desígnios divinos. Toda pessoa sensível aos apelos divinos é chamada a ter a mesma disponibilidade, tomando consciência de sua fragilidade e da necessidade da graça purificadora de Deus, que a torna capaz de fazer toda boa obra.

    São Paulo dá um verdadeiro testemunho da boa nova que mudou a sua vida. Como Isaías, também ele se sente indigno da missão que lhe foi confiada pelo Senhor. Será a graça de Deus a fazer dele um apóstolo e não sua iniciativa. Ele nos faz entender que o evangelho nos traz a salvação e não está sujeito a falsas interpretações, mas é para ser acolhido e vivido com fidelidade. Caso contrário, corremos o risco de esvaziar de sentido essa boa nova, tornando vã a graça de Deus em nós. Como São Paulo, que atribui todo o resultado de seu apostolado à graça de Deus, cada pessoa é chamada a tomar consciência desta graça e fazer tudo para não tornar vã esta ação em sua vida.

    No início do Evangelho de hoje chama a atenção o esforço do povo para escutar a Palavra de Deus através dos lábios de Jesus, reconhecendo a veracidade de seus ensinamentos e deixando-se atrair pelo Pai para escutá-lo. O evento ocorre perto do Lago da Galiléia onde as pessoas viviam a expectativa do Messias com paixão. Quanto aos milagres realizados neste lugar, além da fé dos ouvintes, o poder da palavra de Jesus foi fundamental, como aconteceu no princípio: Deus criou todas as coisas pelo poder da sua palavra. Pela sua palavra chamou e escolheu colaboradores como Abraão, Isaac, Moisés e muitos outros. Por sua palavra, ele trouxe libertação ao seu povo.

    É com o poder desta mesma palavra que Jesus pede a Simão e a seus companheiros de “avançar para àguas profundas e lançar as redes para a pesca”. Simão tinha duas alternativas: aceitar ou recusar. Certamente ele pensou antes de tudo que conhecia muito bem o ofício da pesca e não precisava de conselhos de ninguém. Como este é o primeiro encontro com Jesus, segundo a versão de Lucas, Simão e seus companheiros não conheciam aquele homem, exceto que ele era carpinteiro e pregador. Por acaso, um carpinteiro pode dizer aos pescadores como fazer o trabalho deles...? Mas Simão preferiu deixar-se guiar pela palavra daquele estranho e permitir o milagre; e do milagre o chamado para entregar-se por causa de Jesus.

    Da admiração ao seguimento. Como Isaías no templo, também Pedro se sente indigno diante da santidade de Jesus, mas é o próprio Jesus que o faz superar sua situação com o chamado a segui-lo. A proposta se estende a todos àqueles que estão dispostos a renunciar a tudo por Ele. Os primeiros discípulos não precisaram deixar a identidade de pescadores, segundo estas palavras: “Não tenhas medo; de agora em diante serás pescador de pessoas". Pescadores, sim, mas de uma maneira nova, com um novo significado. Terão novas redes, novos barcos e novos peixes. Abandonar o barco e as redes, no caso de Pedro e seus companheiros, significava abrir mão de tudo, inclusive das atividades normais que garantiam sustento e segurança. Muitas vezes a resposta ao chamado fascinante do Mestre requer uma coragem como esta.

    O que acontece nestes textos faz-nos compreender algo fundamental: a vocação é, de facto, uma iniciativa de Deus, um dom da sua bondade. Não somos dignos nem temos mérito perante Ele. O reconhecimento da nossa condição frágil, peccadora, permite que o Senhor atue com a abundância da sua graça para nos permitir levar a cabo a missão que nos confia. A barca de Simão é a Igreja e desta barca Jesus continua a ensinar o povo de Deus de quem espera total adesão e obediência à sua palavra. Este barco é também a vida de cada um de nós alcançada pela graça misericordiosa do Senhor e utilizada como instrumento para a difusão do Evangelho e de uma fraternidade cada vez mais autêntica para sua maior glória.


Fr Ndega

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