sábado, 26 de dezembro de 2020

A FESTA DA HUMILDADE DE DEUS

 

Reflexão a partir de Lc 2, 1-14




Hoje nasceu para nós um Salvador que é Cristo Senhor, dom do eterno Pai. Portanto, alegremos e exultemos; demos glória a Ele! Segundo os dados do evangelista Lucas, Jesus nasce na cidade de Davi chamada Belém, em extrema pobreza. Teve que nascer em Belém por causa de um recenseamento da época segundo o qual todos deviam se dirigir à terra natal para se cadastrarem e assim cumpriu-se a profecia que indicava Belém como cidade onde devia nascer o messias. Aconteceu que durante esse recenseamento Maria, que estava gravida, deu à luz o seu filho primogênito; ela o envolveu em faixas e o pôs em uma manjedoura porque não havia para eles lugar na hospedaria. Deus aceitou nascer não somente pobre, mas rejeitado e passar por necessidades. Ele quis depender do nosso cuidado, do nosso afeto, do nosso amor.

O texto continua dizendo que havia alguns pastores na região que vigiavam o rebanho durante a noite. A eles e a não mais ninguém aparece o anjo comunicando a grande alegria do nascimento do Salvador da humanidade. Por que a eles? Porque tinham o coração vigilante. E só quem tem o coração assim tem capacidade de crer em boas notícias e esperar por uma realidade melhor em cada novo amanhecer. Somente a pessoa que tem o coração vigilante tem a coragem de pôr-se em caminho para encontrar Deus nos lugares mais inesperados, isto é, numa criança e em um lugar muito pobre... A conclusão deste texto exprime um grande convite: “Gloria a Deus no mais alto dos céus e paz na terra a todos os que ele ama!”

Estamos, então, celebrando o aniversário de Jesus que veio para nos salvar. A notícia desta festa é de alegria para todos pois o Salvador nasceu para todos. “O Filho de Deus se rebaixou ao nosso nível para nos elevar ao seu, aquele de filhos de Deus. Deus não abandonou ao mal e à morte o ser humano que tinha criado, mas mandou o seu Filho para nos libertar da escravidão do pecado; Ele nos ensinou o caminho do bem e o percorreu até o fim”. Não foi nem é fácil acolher Jesus, porque ele vem no silencio, no cotidiano ordinário das pessoas, isto é, sem eventos extraordinários: é necessário prestar atenção, e fazer silencio e escutar. 

Alegremo-nos, pois Deus nos ama, está presente em nosso meio e nos traz a salvação. A salvação é dom de Deus mas acontece no mundo pela participação do ser humano, conforme expressa muito bem Santo Agostinho: “Deus nos criou sem a nossa participação, mas não nos salva sem a nossa participação. Naquele simples evento, embora de maravilhosa beleza, naquele lugar pequeno e esquecido de todos e na simplicidade das pessoas envolvidas (Maria e José), Deus revela o seu modo todo particular de agir. Esta realidade nos recorda um ditado africano, que diz: “Pessoas simples fazendo coisas simples em lugares simples são capazes de mudar o mundo”.

As grandes transformações que a nossa sociedade precisa deve acontecer dentro do ser humano. A sociedade nova acontecerá quando cada pessoa reconhecer a necessidade de mudar a si mesma ao invés de tentar mudar os outros. Segundo Papa Francisco, “o mundo mudará quando mudarmos os nossos atos através das nossas atitudes e nossas escolhas”.

Em Jesus Deus se torna um de nós, assumindo a nossa realidade humana e oferecendo uma proposta nova de vida. Por isso não basta reconhecer em Jesus a salvação de Deus; é necessário que nos deixemos conduzir pela sua mensagem de paz e amor. O nascimento de Jesus transformou todos os seres humanos em uma única família, enchendo os corações de alegria e esperança. Na verdade, Deus se revela como pequeno, próximo, pobre e rejeitado, convidando-nos a reconhecermos o valor dos pequenos gestos e pequenas iniciativas. Claro que esta opção de Deus nos deixa embaraçados, envergonhados, convidando-nos a pensar e agir de modo diferente. É através da humildade, da simplicidade e da pequenez que Deus faz grandes coisas.

 “Segundo Santo Agostinho a dificuldade em crer no mistério do natal vem da nossa falta de humildade. Somente se formos humildes possamos acolher a humidade de Deus. A verdade é que não vivemos ainda plenamente o natal”. Natal é a revelação do amor de Deus que transforma o coração humano tornando-o sensível aos seus apelos. Deus nos ama gratuita e generosamente, sem nenhum mérito nosso. Esta experiência nos leva a fazer o mesmo pelos outros. Assim o natal será mais de um momento no ano. Será sempre natal se aprendermos a amar de verdade e investir o melhor de nós mesmos para a construção de uma sociedade justa e fraterna para o bem de todos.

Um feliz e santo natal!

Fr Ndega     


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