domingo, 13 de abril de 2014

UM NOVO JEITO DE VIVER: Dois jeitos diferentes de ser profeta: Jonas e Jesus




Uma reflexão a partir  de dois textos: Jonas 3, 1-5.10; Mc 1, 14-20

A Palavra de Deus chama a nossa atenção sobre a necessidade de mudança de vida, pois o tempo que nos é dado é tempo de graça e conversão. Esta Palavra fala também sobre a diferença que faz alguém na vida dum povo. Como o profeta, somos chamados para fazer a diferença. Então começemos nossa reflexão com o profeta Jonas.
O profeta Jonas, inicialmente, tentou fugir de Deus, mas foi alcançado e não conseguiu resistir às seduções divinas. Quando Deus quer alguém para o seu serviço, ele não desiste. Jonas parece que é o tipo de profeta que não conhecia muito bem a Deus: primeiro, por achar que podia fugir de Deus e, depois, por ficar descontente pelo fato de Deus ter usado de misericórdia para com a cidade de Nínive. Também ele precisou fazer uma caminhada de conversão. É preciso ter presente que nenhum profeta é profeta por si mesmo, mas o é por um chamado divino, por se dispor à experiência da Palavra de Deus e anunciar o que lhe foi confiado, denunciando também o que fere o projeto de Deus. No presente texto, o profeta vai à grande cidade de Nínive anunciar um castigo divino, mas, diante da mensagem, os ninivitas acreditaram em Deus e aceitaram mudar de vida, contrariando as expectativas de Jonas. A fé em Deus, portanto, necessariamente deve ser acompanhada por uma mudança no modo de viver. Mas isso acontece também porque Deus já havia se compadecido e sua compaixão motiva à conversão. Ele não mandaria o profeta a Nínive se não tivesse a intenção de salvar. Isso Jonas teve que aceitar.
Nínive, por ser ‘de fora’ do povo eleito, nos ajuda a refletir sobre a universalidade da salvação proposta por Deus; os quarenta dias significam as muitas oportunidades que Deus oferece para a nossa conversão que, na verdade, traduz uma certa insistência de sua parte. A insistência, sem forçar a liberdade, é própria do seu ser divino. Ele se interessa por nós porque nos ama e sabe que precisamos dele. Diz um salmo que “sua ira dura apenas um momento, mas sua misericórdia permanece a vida inteira”. Por maiores que sejam nossos pecados, muito maior é a misericórdia de Deus. Ser profeta é fazer experiência desta misericórdia para se tornar presença misericordiosa de Deus junto às outras pessoas. O profeta deve estar convencido disto.
Agora, a nossa referência de profetismo é a vida e missão de Jesus, o profeta por exelência. Depois do batismo no Jordão, Jesus vai para o deserto e, de lá, para a Galiléia. A preocupação do evangelho de Marcos é responder à pergunta sobre quem é Jesus? Ele diz que Jesus inicia sua missão anunciando o Reino de Deus e convidando à conversão, ou seja, Jesus não anuncia a si mesmo, anuncia o Reino, mas é na sua pessoa que se inaugura o tempo do Reino. E para este tempo, as pessoas precisam se abrir, através de uma mudança de mentalidade, do grego metanóia, que quer dizer conversão. Antes de Jesus, João Batista já convidava à conversão; mas o que há de novo, então? João anunciava um tempo que se aproximava; Jesus anuncia um tempo que se completa. João anunciava um reino que estava vindo; Jesus anuncia que o reino já está presente entre nós. João dizia: convertei-vos por causa da ira de Deus; Jesus diz: convertei-vos e crede no evangelho, eu vim para salvar. Crer no evangelho tem muito a ver com a realização das promessas messiânicas: fidelidade da parte de Deus e adesão por parte do ser humano. Significa acolher sua Palavra e conformar nossa vida aos valores que ela propõe.
Segundo Marcos, Jesus se mostra muito conhecedor da realidade: ele caminha com as pessoas e vê o que se passa com elas. Ele se identifica e se interessa pelas suas vidas; sente compaixão e convida à conversão. Foi assim que aconteceu com os primeiros discípulos. Os antigos padres da Igreja afirmavam: “Tão humano assim, só podia ser Deus”. Ele se envolve com a vida das pessoas para envolvê-las no seu projeto. Nesta ótica, a verdadeira conversão só acontece quando estamos dispostos a abraçar o projeto de vida proposto por Jesus. Seguir Jesus não é simplesmente deixar a vida de antes, mas dar novo sentido à vida que se vive. Eram pescadores de peixe e continuaram pescadores, mas de pessoas. Os afetos familiares são importantes, mas ficam em segundo plano diante do anúncio do reino. É preciso, portanto, despojamento, desapego e fidelidade ao projeto de Jesus.
O seguimento de Jesus dá qualidade e novo sentido a tudo o que fazemos, inclusive aos nossos relacionamentos. O importante não é o que se deixa, mas o que se ganha. A proposta de Jesus transforma vidas. Não se pode seguir Jesus e permanecer do mesmo jeito, pensando e agindo como antes. A radicalidade a que Jesus nos convida hoje não se refere ao deixar tudo o que se faz e abandonar as pessoas que nos são mais caras, mas ter uma postura diferente diante da vida e das pessoas, nas quais ele se faz presente e com as quais continua se identificando, principalmente se são sofredoras. É preciso despojar-nos de nós mesmos e do modo medíocre que levamos a vida. Ele pede radicalidade no exercício da caridade, eliminando todo e qualquer preconceito com relação aos outros. O reino de Deus só acontece de verdade lá onde as pessoas aprenderam a se doar pelo bem das demais, sem pensar em si mesmas.

Fr. Ndega

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