domingo, 7 de agosto de 2011

A "OUTRA MARGEM" NO SEGUIMENTO DE JESUS

Uma reflexão a partir dos textos bíblicos 1Rs 19,9-13 e Mt 14, 22-33

O texto do livro dos Reis, destacando a figura de Elias, convida-nos a refletir sobre o jeito particular de Deus se revelar. Embora a perspectiva de Elias fosse que Deus se revelasse no vento, na tempestade ou no terremoto, enfim, em fenômenos extraordinários, Deus contraria e se revela na brisa suave.
Elias está fugindo de uma situação violenta que ele mesmo havia causado ao propor o desafio sobre o verdadeiro Deus a ser seguido e manda matar os profetas de Baal. A rainha Jesabel o persegue, querendo mata-lo. Caminhando para o monte Horeb, frustrado e desiludido, Deus vem ao seu encontro de uma forma simples, discreta, bem diferente do que ele havia feito os outros pensarem.  Esta situação nos desafia a cultivarmos momentos de serenidade, de silêncio, de escuta e deixar que Deus se faça perceber do seu jeito e não como bem entendermos.
Bem diferente é a situação apresentada no evangelho, em que é em meio a tempestades e ventos que Deus se manifesta. Percebamos, num primeiro momento, que Jesus convida a passar para a outra margem, enquanto ele despede as multidões. Para ser verdadeiro discípulo de Jesus, é preciso mudar de margem, deixar as seguranças, as estruturas, certas mentalidades, lançar-se numa aventura, a aventura da fé. Mudar de margem tem muito a ver com desinstalação, com conversão e aí vai acontecer a ruptura, uma das marcas registradas do seguimento de Jesus. Não se pode seguir Jesus e permanecer do mesmo jeito de antes. Se fosse para deixar tudo do mesmo jeito, não haveria necessidade de Jesus nem de sua mensagem. Encontrar-se com Cristo é experiência que provoca decisão.
Jesus dá um grande testemunho a respeito da vida de oração. Revela ser fundamental a intimidade com Deus, de uma forma profunda e constante. Esta atitude a encontraremos durante todo o evangelho: ora estava com o Povo, ora com o Pai. Jesus consegue realizar a mais perfeita síntese entre ser todo do povo e ser todo de Deus.
Seus discípulos enfrentam a noite, ameaçados pelas ondas e pelos ventos contrários. Eles estão preocupados, com medo e angustiados. A noite sempre está ligada a este tipo de sensação. A confusão é tamanha que até impede de reconhecer aquele que vem ao encontro, pois não abandona a quem o segue. A dificuldade de reconhecer Jesus pode também estar ligada à resistência em romper com certas estruturas e seguranças nas quais ainda estamos apegados. Jesus sempre vem ao nosso encontro porque é um Deus peregrino. Coloca-nos à prova para testar nossa fé e levar-nos a segui-lo com maior convicção.
Muitas vezes damos mais atenção àquilo que nos causa medo e pavor do que à certeza de que Jesus está sempre conosco. Não reconhecê-lo quer dizer que não o amamos verdadeiramente, pois “só se ama a quem se conhece”. Onde há amor não há medo, pois o amor joga fora todo medo, toda insegurança. O amor nos abre à fé. Quando nos falta uma verdadeira intimidade com Deus, facilmente nos assustamos com o seu modo de intervir na nossa vida. Ele será sempre um estranho e jamais perceberemos a sua verdadeira intensão a nosso respeito. Será ele um fantasma? Jesus logo gritou: sou eu, não tenhais medo!
O medo faz afundar. A confiança na ajuda divina sustenta e faz caminhar. No exercício da missão não posso contar apenas com minhas forças e boa vontade. Precisamos nos convencer de que é a graça de Deus e a plena confiança em sua providência que podem nos sustentar na caminhada. Que a lição da barca nos leve assumir com coragem a missão que nos é confiada, deixando que Jesus faça parte da barca da nossa vida para vencermos todos os medos e adversidades. O nosso testemunho deve levar as pessoas a acreditarem que Deus não abandona a quem nele se confia.
Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé

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