sexta-feira, 26 de agosto de 2011

AFRICANOS E EUROPEUS: UM ENCONTRO DRMÁTICO

No meu artigo anterior, eu havia afirmado que a campanha do colonizador pela escravização dos indígenas foi algo que não deu muito certo. Os fatores para isso estão no referido artigo. Em continuidade, vamos perceber que o colonizador vai apelar para a escravidão de africanos. A própria experiência em Portugal confirma a eficácia no trabalho desejado, por ter invadido a África desde 1400[1].  O autor D. Freitas faz uma pequena comparação entre estes dois tipos de escravos: o indígena e o africano:
          "Os índios se mostravam incorrigivelmente inadaptáveis ao trabalho escravo. Quando não escapavam para viver de novo no mato à lei de seus instintos naturais, morriam em massa, ceifados pelo mortífero contágio com as doenças européias. Já o africano, como era fisicamente robusto, possuía uma tradição de vida sedentária (...)  configurando por isto a solução prática e necessária do problema da força-de-trabalho para a empresa colonizadora"[2].
            Por volta dos séculos XIV e XV, encontramos uma África dividida em tribos - alguns livros utilizam o termo reinos - que competiam entre si, em busca de maiores espaços territoriais. Algumas tribos eram  de cultura primitiva, outras de cultura mais avançada; destas, algumas eram formadas culturalmente sob influência do islamismo. Uma das vantagens indiscutíveis que os negros do século XV tinham sobre os europeus era a superioridade técnica no uso dos metais. Os africanos possuíam sociedades baseadas na posse comunal da terra e praticavam com intensidade o trabalho coletivo[3].
          “Os povos do oeste africano tinham indubitavelmente, sistemas agrícolas bem desenvolvidos. Os Daomés tinham até mesmo um sistema de plantation; Todos esses povos – Daomés, Ashante, Yoruba, para mencionar alguns de comércio cuidadosamente regulamentado; existia grande número de ligas artesanais, e começava a surgir uma estrutura de classe”[4].
           Segundo J. Chiavenato, esses povos, em particular, os do oeste africano, tinham uma agricultura mais avançada em suas técnicas que Portugal. O autor continua ainda destacando a capacidade cultural dos yoruba e sua religião muçulmana, lembrando, porém, que estes povos se desenvolveram independente do contato com os muçulmanos[5].
           A chegada das poderosas nações européias, bem armadas e ávidas de lucro, contribuiu para aumentar as algumas rivalidades, alimentou as guerras tribais, sobretudo, abalou fortemente esses conjuntos sociais e culturais e fez desaparecer certas tradições. Até a família ampliada, que era composta da esposa ou das esposas, o pai, os filhos, os primos e que resistiu até os primeiros tempos da colonização, por ora, teve que romper-se[6]. Em vista da dilatação da fé e do império, não importava o que se fazia. Neste sentido, a execução do programa foi bem maquiavélico. Diante dos abusos e crueldades, alguns papas até que tentaram protestar. Entre eles encontramos o Papa Pio II, em 1462 e Paulo III, na Bula Sublimis Deum, de 1537[7]. No entanto, no Brasil, a realidade era outra, pois de tão estrutural que estava a escravidão por aqui, o Pe. Manuel da Nóbrega chega a "escrever ao rei pedindo entre outras coisas necessárias (vacas, instrumentos de ferro e uma dotação), também ... alguns escravos da Guiné... para fazerem mantimentos..."[8]
           Um grande questionamento ao qual não se têm resposta exata é: quantos negros foram trazidos ao Brasil? A dificuldade em afirmar, com certeza, é devido à queima dos documentos oficiais sobre o trafico negreiro[9],  a fim de apagar da história esta página que, para o Brasil representa uma vergonha, e que simplesmente é preciso esquecer, pois fomos o último país a suprimir a escravidão. Mesmo assim, tem-se a estimativa de mais de quatro milhões de negros, o que corresponde a 40% do total da Américas[10].  Calmon vai falar de 6 milhões, enquanto Taunay reduz para 3.600.000[11]. Já Pandira Calógeras, citado por R. Cintra, avalia em mais de 15 milhões, baseando-se em cálculos sobre a capacidade dos navios e das viagens marítimas. Não se sabe, na verdade, quantos foram; o que se sabe é que nem todos chegavam vivos[12]. Continuaremos este assunto no próximo artigo.
Modjumbá axé!



[1] Cf.  CINTRA, R. Candomblé e Umbanda. São Paulo: Paulinas, 1985, p. 27.
[2] FREITAS, D. O escravismo brasileiro. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2. ed. 1982, p. 23.
[3] Cf. Id. Ibid., p. 49.
[4] Id. Ibid. , p. 49.
[5] Id. Ibid. p. 20.
[6] Cf.  MATTOSO, K. Q. Ser escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 3ª ed., 1990, p. 27.
[7]  Cf. em CINTRA R.. Op. cit., p. 23);  R. BASTIDE, vai dizer que a Igreja lutou contra a escravidão do índio, mas aceitou a do negro.  (Cf. BASTIDE, R. As religiões africanas no Brasil. 3 ed., São Paulo: Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais, 1989,  p. 77).
[8] BEOZZO, J. O. A escravidão que fez e explica o Brasil. Revista Vida Pastoral, São Paulo: Paulinos, ano XXIX - n. 138, janeiro-fevereiro de 1988, p.18.
[9] Cf.  CINTRA, R. Op. cit.,  p. 23); Cf. também  BASTIDE, R., Op. cit., p. 50.
[10]  Cf. TOLEDO, R. P de.  Á sombra da escravidão. Veja, São Paulo: Ed. Abril, ed 1444, Ano 29 – n20, 15 de maio de 1996 p. 53.
[11] Cf. BASTIDE, R. Religiões africanas no Brasil., p. 50-52.
[12] Cf. CINTRA. R. Candomblé e Umbanda., p. 24;

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