Temos
razões de sobra para cultivar a alegria, não porque faltem dificuldades ou que esteja
tudo numa boa, mas porque Deus nos ama, está em nosso meio e nos traz a
salvação. Feitos discípulos e discípulas de Jesus, a alegria e a esperança são nossas
principais características, em meio a uma sociedade em que as situações parecem
provar o contrário. De antemão, vive feliz quem reconhece a presença e a ação
de Deus em sua vida. Quem deposita sua felicidade nas coisas ou bens que
possui, vive equivocado e iludido. “Se foi para este mundo que colocamos nossa
esperança somos as pessoas mais dignas de pena”, nos diz São Paulo. Estamos
falando da alegria que o mundo não pode dar e da esperança que não decepciona,
pois é fiel o Deus que nos ama.
A
presença e ação de Deus entre nós, razão de tanta alegria e esperança, traz
consigo algumas exigências de mudança. Uma sociedade nova se faz com homens e
mulheres que percebem a necessidade de conversão mais em si do que nos outros, libertando-se
dos egoísmos pessoais e grupais. Nesse sentido, algumas personalidades bíblicas
são fortes referenciais para assumirmos novo jeito de viver e de acolher o
mistério do Deus que se encarna nas realidades humanas. Dentre elas, quero
destacar três: Isaías, profeta da esperança, Maria profetisa da interiorização
e João Batista, profeta da conversão. Esta reflexão foca especialmente João
Batista.
A
forma decidida com a qual João assume a missão que Deus lhe confiou, o coloca
em sintonia profunda com Jesus e seu projeto salvífico, embora sejam muito
diferentes com relação à pedagogia. Quando comparamos os dois, vemos que João é
a voz no tempo e Jesus é a Palavra que existia desde toda a eternidade. Quando
o som da voz se cala o que permanece é a Palavra. Segundo santo Agostinho, sem
a palavra a voz se torna “esvaziada de sentido. A voz sem palavras ressoa ao
ouvido, mas não alimenta o coração”. A missão de João, portanto, tem sentido
por causa da missão de Jesus. João anuncia um batismo de conversão, Jesus traz
o novo batismo que faz nascer de novo através da água e do Espírito. João
anuncia o julgamento de Deus, utilizando uma linguagem dura e ameaçadora; Jesus
anuncia a misericórdia de Deus com uma linguagem cheia de ternura, sem forçar a
liberdade das pessoas. Enfim, João se considera um instrumento que prepara os
caminhos do Senhor; Jesus se declara o Caminho.
Por
outro lado, precisamos ficar bastante atentos às orientações que João dá, pois
tem muito a ver com o sentido do verdadeiro batismo que Jesus veio nos
presentear. Jesus é a nossa alegria e para que a experimentemos verdadeiramente,
precisamos dar três passos fundamentais. Primeiro: Solidariedade e partilha com os mais necessitados. Não podemos
reter os bens se os consideramos dons de Deus. Se são dons, devem ser
partilhados; segundo: honestidade e
justiça. Agir com justiça é imitar a Deus em sua gratuidade e generosidade,
superando a tendência em querer tirar vantagem em cima dos outros; terceiro: não abusar do poder e da força. Ninguém
deve se aproveitar da posição ou encargo que possui na Igreja ou na sociedade
para se sentir melhor que os outros. Muitas vezes, agimos de modo violento e
impositivo, pois nos sentimos ameaçados por quem pensa e age diferente de nós.
Tememos perder nossos privilégios, nossas falsas seguranças.
O
advento pede de nós conversão, que só é possível na medida em que nos deixamos
tocar e transformar pela graça de Deus. Mesmo assim ainda podemos nos iludir a
respeito do resultado desta experiência, vivendo uma alegria alienante, indiferente
ao que se passa ao redor. É certo que a alegria, que somos chamados a
experimentar, o mundo não é capaz de dar. No entanto, ela não pode nos desligar
da realidade; jamais será verdadeira uma alegria que nos fecha numa experiência
intimista de Deus. Pelo contrário, deve nos abrir e nos lançar na experiência
do encontro, da partilha e da solidariedade, conforme as exigências do nosso
batismo. Nessas condições, não somente experimentaremos alegria verdadeira, mas
seremos também causa de alegria para quem se encontra conosco.
Axé!
Pe. Degaaxé
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