Iniciamos nossa caminhada para a Páscoa. Como todo grande acontecimento pede uma preparação à altura, surge então a Quaresma como um tempo privilegiado de internalização das propostas divinas para podermos repensar a vida e a caminhada de fé, assumindo nova postura, uma nova mentalidade, ou seja, conversão. Devemos sair restaurados desta experiência, pois é preciso renascer com Cristo com uma fé renovada. E que tal se começarmos por aí? Como está a nossa fé? Nossa fé é verdadeira ou não passa de fé-zinha? Ela nos leva a realizar obras de bem em favor da saúde das pessoas? É bom estarmos atentos, pois o termômetro de uma verdadeira fé são as obras que somos capazes de realizar. A verdadeira fé é aquela que brota das obras. Assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta. Toda sensibilidade que tivermos para com alguém deve se traduzir em caridade. Quem diz ter compaixão, não basta afirmar: ‘que dó’; é preciso experimentar na própria pele, identificar-se com o sofrimento alheio, marcar presença junto a quem sofre. Isto é expressão de fé.
Não podemos esquecer de que a fé tem duas dimensões: dom e tarefa. Dom, porque a recebemos de Deus no dia do nosso batismo; tarefa, porque depende de nós o aprofundamento, para que ela se torne sempre mais madura e operante, prática e coerente. Sobre isso, assim dizia São João Calábria: ‘Nossa fé seja prática, coerente; nenhum contraste entre a fé que professamos e a conduta que levamos. A fé nos possibilita enxergar além. ‘É um modo de já possuir aquilo que se espera’, afirma a Carta aos Hebreus. Com a fé reconhecemos os sinais de Deus e seus apelos na realidade. Através dela nos dispomos a colaborar com ele na salvação do mundo. Diante de catástrofes e dificuldades, as pessoas de fé são as que menos se desesperam.
Mas, cuidado para não sermos enganados porque também o demônio professa a fé em Deus (recordemos: ‘que queres conosco Jesus nazareno...? Eu sei quem és; tu és o santo de Deus’), mas ele não se dispõe a uma vida que esteja de acordo com a vontade de Deus. A sua missão é paralisar e alienar as pessoas, afastando-as das propostas divinas, ou seja, sua missão é ser adversário de Deus. Será que a nossa fé, às vezes, não nos leva a agir assim?
Com a nossa fé, dizemos que somos católicos, mas hoje precisamos mais do que isso, pois católico ‘todo mundo’ diz que é. É só perguntar por aí. No entanto, poucos vão à Igreja. E daqueles que vão à igreja, muitos se interessam somente em cumprir um rito, uma formalidade, em dar uma satisfação social. Bom, se católico é isso, então não vivemos uma verdadeira fé. Uma verdadeira fé não nos torna só católicos, mas discípulos e discípulas de Cristo em vista de fazer novos discípulos e discípulas. E para ser verdadeiro discípulo e verdadeira discípula, três critérios são fundamentais: renunciar a si mesmo, tomar a própria cruz e seguir Jesus.
A renúncia de si tem muito a ver com despojamento, mudança de mentalidade (conversão), sintonizar o projeto de vida pessoal com o projeto de Jesus. Tomar a própria cruz significa assumir as próprias limitações e dificuldades e acolher as limitações alheias. É bom lembrar que Deus não nos chama apesar de nossas limitações, mas através delas. E seguir Jesus significa carregar a cruz como ele fez, como parte de sua entrega pelos demais. Assim, a vida do discípulo, conforme à do Mestre, encontra seu verdadeiro sentido na entrega e doação. Somos convidados a orientar nossos passos e decisões de acordo com os passos e decisões de Jesus. Em tudo isso, devemos deixar a lógica deste mundo - competição, tirar vantagem, seguranças, vingança – e seguir a lógica do reino: ser o último para ser o primeiro; perder para ganhar; morrer para viver.
Neste processo, a família exerce um papel fundamental, pois continua sendo a base para a formação do ser humano como uma pessoa de fé. É do seio da família que surgem as vocações; é no seio da família que o ser humano desenvolve suas potencialidades, contribuindo com a sua saúde e com a dos demais – CF 2012. O que deixa as pessoas doentes, em grande parte, é a falta de humanidade, falta de cuidados e delicadeza. É no seio da família que homem e mulher aprendem a ser humanos de verdade, cultivando valores como honestidade, justiça, tolerância, respeito, acolhida das diferenças e solidariedade, etc. Por isso é necessário que a família seja cada vez mais promovida e valorizada para que a saúde se difunda sobre a terra. Sinto ressoar, a todo o momento, o apelo do bem-aventurado João Paulo II: ‘Família, torna-te aquilo que és’. Só assim ela continuará sendo formadora de opinião e espaço onde a vida é promovida em abundância, segundo o sonho do Deus da vida. Quero bendizer a Deus pelos casais que buscam resgatar o sentido do matrimônio, através da participação em encontros, da conversa a dois, da frequência sacramental, a fim de manter sempre acesa a chama do amor que os une; também pelos que favorecem no lar espaços de reflexão em vista da formação humano-espiritual de todos os membros. Ainda é possível sonhar com lares que sejam verdadeiros espaços de fé e de diálogo, onde os pais não escandalizam os seus filhos nem se envergonham deles; onde os filhos sentem prazer em ajudar e escutar seus pais porque acreditam neles. A fé em família será expressão de valores humanos internalizados e bem vividos, que continuam revelando o divino presente em cada pessoa. Deus derrame suas bênçãos sobre todas as iniciativas que promovem a vida e a família e que a saúde se difunda sobre a terra (Eclo, 38, 8).
Modjumbá axé!
Pe. Degaaxé
Nenhum comentário:
Postar um comentário