sábado, 1 de junho de 2024

SE TORNAR AQUELE QUE CELEBRIAMO

 

Uma reflexão a partir de Mc 14, 12-16. 20-26




 

    É com grande alegria e ação de graças que somos convidados a celebrar a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Este é precisamente o significado da palavra Eucaristia: ação de graças. Esta festa nos remete à Quinta-feira Santa, em que se celebra a instituição da Eucaristia. Dado que o clima festivo daquele dia é limitado pelo contexto da paixão, a Igreja nos concede uma segunda oportunidade de expressar com intensa alegria a nossa fé na presença real de Jesus Cristo no pão e no vinho consagrados.

    A Eucaristia fala de um Deus apaixonado pelo ser humano; de um Deus que se faz dom, que pede para ser acolhido e que nos chama à comunhão com ele porque quer nos plenificar com a sua vida. Na encarnação Ele se tornou ser humano precisamente por isso, “para que o ser humano se torne como Deus”. Assim, a Eucaristia tem três finalidades fundamentais na nossa vida de discípulos: nos traz a encarnação, pois nos preenche deste Deus que vem ao nosso encontro para permanecer conosco; nos nutre, enquanto nos alimenta com a vida divina, fazendo-nos experimentar um gostinho da vida eterna; e finalmente, nos mostra sob a forma de pão e vinho o mesmo Jesus de Nazaré visto pelos apóstolos.

    Na Eucaristia, o que Jesus nos dá de modo muito especial? Seu corpo e seu sangue. O que eles indicam? Indicam toda a sua existência, a sua história humana, a sua alegria, a sua forma de estar no mundo, as suas lágrimas, as suas paixões, a sua amizade, a poeira das ruas por onde caminhou, a sua fidelidade até o extremo e a vida que flui de sua oferta. “Este é o meu corpo, este é o meu sangue, este sou eu”. Ele quer que tomemos este corpo e este sangue e os tornemos nossos, para que o fluxo quente da sua vida corra nas nossas veias, para que a sua coragem se enraíze nos nossos corações.

    O evangelista diz que Jesus celebra a Páscoa com seus discípulos, ou seja, utiliza o rito judaico.  Porém, traz uma novidade: utilizando o antigo rito pascal institui a nova Páscoa. Trata-se da “novidade de um Deus que não pede sacrifícios, mas que se sacrifica; ele não derrama a sua ira, mas derrama o seu sangue “por muitos”. A Eucaristia fala do dom que nos garantiu a vida. Portanto, prefigura a ressurreição, mostrando o modo de agir de Deus: no sofrimento e na morte, Deus suscita a vida.

    Celebramos o memorial da morte e ressurreição de Jesus. O memorial não é uma simples memória. É recordar vivendo, se envolvendo e se tornando aquele que celebramos, como afirma São Leão Magno: “participar do corpo e do sangue de Cristo tende a não fazer outra coisa senão transformar-nos naquele que recebemos”. Que todos nos tornemos aquele que recebemos: ser também nós corpo de Cristo. Não se trata apenas de receber a comunhão, mas de se tornar Eucaristia para a vida do mundo.


Fr Ndega

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