Reflexão a partir de Lc 10: 25-37
Neste
texto, um doutor da lei se aproxima de Jesus e lhe faz duas perguntas: a
primeira: "O que devo fazer para herdar a vida eterna?"; e a segunda:
"Quem é meu próximo?" Na primeira pergunta, Jesus o ajudou a
redescobrir o essencial da Lei, ou seja, “amar a Deus e amar o próximo”. O
mandamento de amar a Deus encontra-se no livro de Deuteronômio (6,5) e o de
amar o próximo, em Levítico (19:18). Se Jesus disse ao doutor da lei que
bastava fazer isso para ter a vida eterna, é porque “a Lei indica o caminho
para a vida eterna se uma pessoa ama a Deus e ao próximo”.
No
Antigo Testamento, Deus estabeleceu uma Aliança com o povo de Israel como um
pai com seus filhos. Como símbolo concreto desta Aliança temos os Dez
Mandamentos que têm como objetivo favorecer um bom relacionamento com Deus e entre
eles. Secondo la mentalidade judaica, o próximo não pode ser qualquer um que eu
vejo, mas somente aquele que tem um vínculo de sangue comigo. Assim, um estranho
não pode ser meu próximo. Essa mentalità os impede de ter um bom relacionamento
principalmente com os samaritanos considerados seus inimigos porque misturaram o
sangue deles com o de estrangeiros.
Através
da segunda pergunta, “Quem é o meu próximo?”, o doutor da lei esperava que
Jesus aceitasse essa visão excludente. Mas Jesus contou a parábola do “Bom
Samaritano”. Secondo esta parábola, um homem desceu de Jerusalém para Jericó e
foi atacado por ladrões que o deixaram quase morto. Tanto o sacerdote como o
levita viram aquele homem caído no caminho e passou adiante, mas quando o
samaritano o viu, teve compaixão dele e o ajudou. Os dois primeiros são símbolo
daqueles que devem obedecer à lei e, segundo esta lei, não podem tocar ou ser
tocados por “algo impuro” quando devem ir ao templo. Eles desviaram o caminho
porque passar perto da pessoa necessitada e sangrando os impediria de louvar e
servir plenamente a Deus. Eles esqueceram que “é mal não fazer o bem em nome de
Deus ou da religião”.
Por
causa da obediência deles à lei do puro-impuro, os dois primeiros negaram a solidariedade
ao homem necessitado. Enquanto, por meio de sua atitude compassiva, “o
samaritano mostrou solidariedade” porque não teve que obedecer à lei do
puro-impuro. “O Bom Samaritano não pensou em si mesmo, pensou no outro.”
Através desta parábola, Jesus mostra que a questão fundamental não é “quem é o
meu próximo?”, mas “como posso me tornar próximo?” Jesus corrige essa
mentalidade em relação ao próximo e mostra que o verdadeiro amor a Deus se
realiza com a participação na vida daqueles que Ele ama, especialmente dos
necessitados.
Para
Jesus, o verdadeiro amor se manifesta por meio de gestos de ternura e
compaixão. O próprio Jesus é o verdadeiro "Bom Samaritano" que tomou
sobre si a nossa situação de sofrimento e curou as nossas feridas do pecado. Por
outro lado, Ele se identifica com aqueles que “caídos à beira do caminho”.
Somos capazes de reconhecer a presença de Cristo nas pessoas que costumamos
encontrar e naqueles que nos pedem ajuda? A verdadeira adoração a Deus passa
por relacionamentos verdadeiramente humanos com aqueles ao nosso redor.
Celebrar a Eucaristia é sinal de fraternidade se há fraternidade entre nós.
Caso contrário, não é o Corpo e Sangue de Cristo que celebramos. É impossível
ter um relacionamento verdadeiro com Deus quando nos esquecemos dos irmãos e
irmãs em suas necessidades.
Não podemos viver indiferentes em relação aos demais,
assim como Caim fez, ou seja, “Por acaso sou o guardião do meu irmão?” (Gn 4:
9). Esta é uma atitude de indiferença, que nos faz negar nossa identidade
cristã. Não preciso saber quem é meu próximo para amá-lo e ajudá-lo. Amar os
outros e ajudá-los são parte integrante da minha identidade. Ai de mim se não o
fizer! Hoje, para nós cristãos, nosso próximo é aquele que reconhecemos como
necessitado e decidimos acompanhá-lo para lhe assegurar uma vida digna, mesmo
quando esse processo exige o uso de nosso tempo e recursos. Que a graça do
Senhor nos ajude a agir como "bons samaritanos".
Fr Ndega
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