terça-feira, 22 de outubro de 2024

A SABEDORIA DA ANCESTRAL CLEMENTINA

 

Una reflexão a partir de Eclo 44, 1-15 e Lc 12, 13-21




 

    A reflexão que eu gostaria de compartilhar com vcs estabelece uma relação bela e profunda entre duas espiritualidades: a espiritualidade cristã e espiritualidade tradicional africana por se tratar di um evento muito significativo para a nossa familia, che tem uma identidade marcadamente cultural afro.  

    Eu tenho duas mães que eu não posso ver: uma è Nossa Senhora e a outra se chama Dona Senhora (Clementina). Onde està Nossa Senhora? No céu. E onde està Dona Senhora? Na condição e situação que a Igreja chama de purgatorio e quando se chega ao purgatorio, se chegarà também ao céu. Podemos dizer, em uma linguagem afro, que Mainha (Clementina) està na Morada dos Ancestrais pois ela mesma se tornou uma Ancestral. E qual é a condição para que uma pessoa possa se tornar Ancestral?

    Em uma localidade do Congo Democratico, em uma ou mais tribos das muitas tribos daquele paìs, se conta que uma pessoa adulta quando morre é avaliada por um Conselho de Anciãos. Se o testemunho da familia for positivo sobre o modo de viver e agir daquele ente querido ele é mantido no caixão na posição que nòs conhecemos, isto é, con o rosto para cima. Mas se o testemunho for negativo a pessoa è virada, isto é, colocada com o rosto voltado para a terra, pois não merece, não é digna de contemplar o mundo dos Ancestrais.

    Sob este ponto de vista nem todos se tornam ancestrais. Alguns morre para não mais serem lembrados. O texto que temos escutado do livro do Eclesiastico fala também deste tipo de pessoa, mas concentra a sua atenção sobre aquelas pessoas que devem ser lembradas para sempre.   

    Este testo faz um elogio, uma hino de louvor em reconhecimento pelas pessoas que fizeram a vida valer a pena, cioè, que “foram pessoas de bem e das quais os gestos de bondade jamais serão esquecidos... seus corpos foram sepultados em paz, seu nome vive por todas as geraçoes”. È aqui che encontramos uma forte referencia a Dona Senhora, uma grande mulher que viveu entre nòs sabiamente, pois sempre buscou acumular “tesouros” não para si mesma, como fez aquele louco da paràbola do evangelho e por isso se tornou rica diante de Deus. Por causa da escolha que fez, jamais serà esquecida.   

    Mas padre, como o senhor usa o verbo no presente (exemplo, eu tenho) se a mãe Dona Senhora morreu? Nòs nos abituamos a usar o verbo no passado e è esse o nosso problema, a linguagem. O fato de não poder ver algumas pessoas não nos dà o direito de pensar que elas não existam mais. Jesus afirmou uma vez: “Deus é o Senhor dos vivos não dos mortos pois para Ele todos vivem”. E numa linguagem afro, a comunidade é um composto de pessoas visiveis e invisiveis. Fazem parte da comunidade junto com os vivos que vemos, os bebes que ainda não nasceram e as pessoas que deixaram de serem vistas.    

    Portanto, nos consola o fato de saber que as pessoas que morreram continuam presentes na comunidade, mesmo que de um modo diferente de antes. É a esta modalidade de presença à qual Jesùs educou os seus discipulos depois de ter passado pelo sono da morte. É esta a comunhão dos santos que professamos no credo da nossa Igreja. É esta a experiencia que aumenta a nossa certeza de que Clementina dos Santos Boaventura continua viva entre nòs, pelos valores de bem que viveu e que semeou, e pela sua herança espiritual presente em muitos de nòs. Obrigado Dona Senhora (Clementina)! 


Fr Ndega   

  

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